Sporting e Belenenses já se defrontaram mais de 250 vezes |
Há muito que os jogos entre Sporting
e Belenenses
ganharam o estatuto de clássico de futebol português, por muito que este dérbi
lisboeta tenha perdido a importância que teve em tempos.
Alguns dos fundadores dos azuis
eram mesmo ex-jogadores dos leões
e do Benfica,
que abandonaram os seus clubes de forma a fundarem um novo, representativo do
seu bairro, Belém. Uma das figuras mais icónicas dos verde
e brancos, Francisco Stromp, proferiu mesmo uma frase que ficou para a
história quando foi questionado sobre o abandono de Artur José Pereira: “o
Artur que vá à merda e funde o tal clube em Belém!”.
E “o tal clube em Belém” não só
defrontou o Sporting
em mais de 250 ocasiões, incluindo finais do Campeonato de Lisboa, do
Campeonato de Portugal e da Taça
de Portugal e jogos decisivos para as contas do título nacional.
Entre tantos duelos, vale a pena
ver aqui a nossa seleção dos dez mais marcantes, por ordem cronológica.
21 de março de 1926 – Campeonato
de Lisboa (14.ª jornada)
Belenenses
1-0 Sporting
Um jogo que ficou marcado pela conquista do primeiro título oficial por
parte do Belenenses
e pelo início da grande afirmação dos azuis
no panorama regional e nacional.
Empatado pontualmente com o rival à entrada para a última jornada, o conjunto
de Belém, orientado por Artur José Pereira, venceu por 1-0 em partida
disputada no Campo do Restelo, graças a um golo solitário de Alfredo Ramos aos
70 minutos.
2 de julho de 1933 – Campeonato
de Portugal (final)
Belenenses
3-1 Sporting
Em 1933, o Belenenses
já tinha conquistado um estatuto muito semelhante ao do Sporting,
uma vez que já contabilizava no palmarés quatro Campeonatos de Lisboa (contra
sete dos leões)
e dois Campeonatos de Portugal (mais um do que o rival).
Na final disputada no Stadium de Lisboa, no Lumiar, os azuis
venceram por 3-1 perante uma assistência de 25 mil pessoas. Abrantes Mendes
ainda inaugurou o marcador para os verde
e brancos, aos 33 minutos, mas Rodolfo Faroleiro (52’ e 72’) e José Luís
(87’) assinaram os golos da reviravolta que deu ao conjunto
de Belém, ainda orientado por Artur José Pereira, o terceiro Campeonato de
Portugal.
“Às três horas da tarde já os elétricos iam apinhados de público para o
jogo, que só começava às cinco e meia. No Estádio não havia um único lugar vago
e, no camarote presidencial, lindas colgaduras punham uma nota de bom gosto e
elegância que emprestavam ao espetáculo uma maior beleza, tal como escreviam os
jornais da época”, pode ler-se no livro Pontapé
na Bola – Histórias do Futebol Português, de Fernando Correia, citado pelo site oficial do Belenenses.
5 de julho de 1936 – Campeonato
de Portugal (final)
Sporting
3-1 Belenenses
Numa altura em que o Belenenses
tinha mais um Campeonato de Portugal do que o Sporting,
os leões
tinham a possibilidade de igualar os azuis
com três títulos.
Em mais uma final disputada no Stadium de Lisboa, no Lumiar, desta vez
foram os verde
e brancos, então comandados pelo romeno Wilhelm Possak, a vencer por 3-1. António
Faustino (12 minutos) e Pedro Pireza (75’ e 87’) marcaram para o Sporting,
enquanto Rafael Correia apontou o golo de honra dos homens
de Belém, ainda orientados por Artur José Pereira.
A capa do jornal Os Sports,
onde se lê “Sporting
Club de Portugal ganhou o campeonato nacional pela terceira vez”, tem servido
de argumento para o emblema
de Alvalade reclamar que os títulos que alcançou no Campeonato de Portugal
devem ser contabilizados como títulos nacionais, juntamente com os da I
Divisão.
22 de junho de 1941 – Taça
de Portugal (final)
Sporting
4-1 Belenenses
A estreia do Sporting
em finais de Taça de Portugal, frente a um Belenenses
que já tinha estado no jogo decisivo no ano anterior, mas que ainda procurava
conquistar o primeiro troféu.
Para fechar com chave de ouro uma
época em que também venceu o campeonato nacional e o Campeonato de Lisboa, o
emblema leonino, então orientado por Joseph Szabo, goleou os azuis
nas Salésias por 4-1. Um hat trick de
João Cruz (36, 48 e 53 minutos) e um golo de Peyroteo (79’) construíram a
vitória sportinguista,
enquanto Gilberto Vicente marcou para os
de Belém (54’).
“O desafio agradou pelo
espetáculo e mesmo pelo aspeto técnico. Os jogadores foram leais e o árbitro
competente, deixando correr o jogo e não o interrompendo por dá cá aquela
palha. Tecnicamente o Sporting
foi superior e mais audaz”, escreveu o jornal Os Sports, citado pelo portal Sporting
Canal.
Equipa do Sporting que venceu a Taça de Portugal em 1940-41 |
4 de julho de 1948 – Taça
de Portugal (final)
Sporting
3-1 Belenenses
Mais um dérbi que valeu o triplete
ao Sporting,
naquela que foi a segunda final da Taça
de Portugal disputada no Estádio Nacional. Frente a um Belenenses
que procurava o segundo troféu, os leões
venceram pela quarta vez a prova
rainha.
Orientados por Cândido de Oliveira e com os cinco violinos (Jesus
Correia, Travassos, Peyroteo, Vasques e Albano) em campo, os verde
e brancos venceram por 3-1. Peyroteo abriu e fechou a contagem (30 e 65
minutos). Pelo meio, Albano marcou de grande penalidade o outro golo leonino,
enquanto Teixeira da Silva reduziu para os azuis.
“Entre os sportinguistas
Albano salientou-se como executante formidável – nesta tarde esteve fantástico.
Peyroteo, Vasques e Álvaro Cardoso fizeram uma exibição sem erros, mas justa
será uma menção especial a Manecas, que esteve imperial como defesa/médio
centro”, escreveu o jornal A Bola,
citado pelo portal Sporting
Canal.
Sporting venceu Taça de Portugal, título nacional e Campeonato de Lisboa em 1948 |
24 de abril de 1955 – I
Divisão (26.ª jornada)
Belenenses
2-2 Sporting
O dia em que o Belenenses
esteve muitíssimo perto de alcançar o segundo título nacional da sua história,
mas que acabou com… o Benfica
campeão.
As ruas de Belém e da Ajuda, particularmente as contíguas ao Estádio das
Salésias, estavam engalanadas e cobertas de azul para a possível festa do Belenenses,
mas em vez de acabaram por terminar num mar de lágrimas.
A depender apenas de si, o Belenenses
orientado pelo chileno Fernando Riera e com Matateu em campo, precisava de
ganhar ao Sporting
para ganhar o campeonato, enquanto o Benfica,
que defrontava o Atlético,
necessitava de uma escorregadela dos azuis
e de uma vitória sobre a formação
de Alcântara para festejar.
Logo aos três minutos, Ricardo Pérez deu vantagem à formação
de Belém. No entanto, aos onze minutos Albano empatou o encontro, na
conversão de uma grande penalidade a castigar bola no braço de Pires. Ainda
assim, o Belenenses
foi para intervalo na frente do marcador, graças a um golo de Matateu.
Porém, na segunda parte um golpe de teatro abalou o emblema
da Cruz de Cristo. Matateu esteve perto do bis, mas o guarda-redes Carlos Gomes defendeu a bola sobre a linha
de golo – meio século depois, o guardião confessou ao jornal A Bola que “a bola estava, efetivamente,
mais de um palmo dentro da baliza”. E aos 86 minutos, João Martins fez o golo
do empate na sequência de um lance de contra-ataque, fazendo o mundo desabar
sobre jogadores e adeptos do Belenenses.
“Drama nas Salésias. As trevas comeram o sol”, resumiu o jornal A Bola.
“O árbitro anulou dois golos ao Belenenses
e assinalou um penálti para o Sporting
por a bola bater, acidentalmente, no braço do Pires, num centro do Albano. Por
isso lhe digo: se fosse só esse golo não validado… Houve mais casos, a
arbitragem foi muito polémica”, admitiu João Martins ao jornal A Bola meio século depois.
23 de setembro de 1956 – Jogo
de inauguração do Estádio do Restelo
Belenenses
2-1 Sporting
Depois de três décadas memoráveis nas Salésias, o Belenenses
ganhou uma nova casa, o Estádio do Restelo. Milhares de adeptos azuis
encheram um recinto que na altura tinha capacidade para 44 mil espetadores, num
dia inesquecível, com direito a música, desfiles de atletas, à presença do
Presidente da República, o general Craveiro Lopes, e ao aniversário do emblema
da Cruz de Cristo, que cumpria 37 anos.
A culminar o programa do dia, Belenenses
e Sporting
defrontaram-se num jogo que os azuis
venceram por 2-1, com golos de Miranda e Matateu.
“A equipa do Belenenses
ofereceu ao clube uma exibição compatível com a solenidade do momento histórico
vencendo um Sporting
sem organização”, destacava o Diário de
Lisboa.
3 de julho de 1960 – Taça
de Portugal (final)
Belenenses
2-1 Sporting
Embora ainda estivesse regularmente na luta por troféus, o Belenenses
já não ganhava nada desde que foi campeão nacional em 1946, enquanto o Sporting
tinha vencido cinco títulos nacionais e uma Taça
de Portugal na década que antecedeu esta final.
Perante 50 mil espetadores no Jamor, a formação
do Restelo até se viu em desvantagem, quando o argentino Diego Arizaga
inaugurou o marcador aos 18 minutos, mas conseguiu dar a volta ao resultado:
António Carvalho empatou aos 32’ e Matateu sentenciou a reviravolta aos 62’.
12 de abril de 1989 – Taça
de Portugal (meias-finais)
Belenenses
3-1 Sporting
Com o passar dos anos, o Belenenses
foi perdendo fulgor, tendo inclusivamente passado pela II Divisão entre 1982 e
1984. No entanto, mostrou-se em bom plano no regresso à I
Divisão, tendo vivido precisamente no final da década de 1980 o seu melhor
período no pós-Matateu.
Três anos depois de ter perdido no Jamor para o Benfica
e um ano após ter alcançado um brilhante 3.º lugar no campeonato,
os azuis
do Restelo alcançaram nova presença na final da Taça
de Portugal, desta feita às custas do Sporting
nas meias-finais.
No Restelo, o conceituado guarda-redes uruguaio Rodolfo Rodríguez viveu
uma tarde de pesadelo na baliza leonina, tendo tido responsabilidades nos três
golos do Belenenses,
apontados por Baidek (70’), Saavedra (73’) e Mladenov
(85’), já depois de o Sporting
ter inaugurado o marcador no final da primeira parte, por intermédio de Douglas
(42’).
Na edição de 16 de abril de 1989 do Século
Desportivo, citada pelo site
oficial do Belenenses, podia ler-se: “Belém,
à Conquista da Taça
29 Anos Depois. Na memória de todos, uma segunda parte de grande nível – feita
de arreganho e vontade de vencer – que permitiu aos azuis
de Belém passarem de vencidos a vencedores folgados (…) ‘Belém!
Belém!
Belém!’
– um urro uníssono, impressionante de pujança e vitalidade, ecoou pelo estádio
inteiro assim que Vítor Coreia deu o encontro por terminado. O velhinho e
prestigiado Belenenses
tinha acabado de salvar a época. Uma festa.”
27 de maio de 2007 – Taça
de Portugal (final)
Belenenses
0-1 Sporting
18 anos depois, o Belenenses
estava de regresso à final. E logo frente a um Sporting
que nada vencia desde 2002.
Numa época em que os azuis
do Restelo foram repescados para a I
Liga na secretaria devido ao Caso Mateus após terem descido em campo para a
II
Liga, os homens então orientados por Jorge
Jesus chegaram ao Jamor e conseguiram arrastar o 0-0 até aos minutos finais
perante uns leões
comandados por Paulo Bento que tinham visto o título nacional escapar por
apenas um ponto.
Quando já se pensava no
prolongamento, Liedson marcou o golo da vitória ao minuto 87, antecipando-se ao
guarda-redes Costinha após cruzamento rasteiro de Miguel Veloso a partir do
flanco esquerdo.
“O Sporting
conquistou a sua 14.ª Taça
de Portugal ao bater o Belenenses
com um golo solitário de Liedson, coroando com um título, o primeiro nos
últimos cinco anos, a brilhante ponta final da temporada, sem derrotas desde o
início de dezembro de 2006. Desta vez os leões
não marcaram a abrir o jogo, mas mesmo ao cair do pano, quando já pairava o
fantasma do prolongamento, depois da equipa
do Restelo ter sustido a habitual entrada forte da equipa de Paulo Bento,
esta tarde a reboque de um super Romagnoli”, escreveu o Maisfutebol.
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