Eternamente grato à Sanjoanense,
mas maioritariamente formado no FC
Porto, o extremo Zé Pedro faz o balanço da época que agora terminou, revela
se já tem clube para 2021-22 e recorda quando esteve na I
Liga ao serviço do Feirense,
a primeira experiência fora de casa na Covilhã
e a aventura “louca” pelo futebol dos Estados Unidos.
RUI COELHO - Embora o Zé Pedro tivesse apontado quatro golos em 18
jogos no Campeonato
de Portugal, não conseguiu impedir a queda do Beira-Mar aos distritais da
AF Aveiro. Que balanço faz da temporada 2020-21 em termos individuais e
coletivos?
ZÉ PEDRO - Acaba por ser,
infelizmente, um balanço negativo. No início de época, definimos os cinco
primeiros lugares como o nosso principal objetivo, pois estávamos cientes da
qualidade e competência da equipa para alcançar esses objetivos, não o
conseguimos e o pior aconteceu. Em termos individuais, foi uma época
consistente, talvez se os objetivos coletivos tivessem sido alcançados estaria
com certeza a elogiar a minha época, por isso, acredito que superação é a
palavra certa para definir a minha época em termos individuais.
O que correu mal para que o desfecho fosse a descida de divisão e como
é que o Zé Pedro tem estado a digerir a despromoção?
Obviamente que muita coisa correu
mal, só quem esteve dentro do clube é que sabe, mas acredito plenamente que
todas as pessoas envolvidas fizeram de tudo para que esta época fosse positiva
em todos os sentidos. Foi a primeira vez que desci de divisão e está a custar
saber que depois de um ano de trabalho nada compensou.
“Ricardo Sousa tem um futebol de posse, atacante, com ideias modernas”
Em 2020-21 foi orientado por Ricardo Sousa, um histórico do Beira-Mar
que presentemente orienta o Mafra
na II
Liga, e por Manuel Rodrigues. O que achou dos métodos e da personalidade de
cada um deles?
Cada um tem a sua maneira de ver
o jogo, como todos os treinadores. O Manuel não acabei por conhecer tão bem
porque entrou nos últimos seis jogos, mas o Ricardo conheço bem e sempre
encaixei no estilo de jogo dele: futebol de posse, atacante, com ideias
modernas. Desejo-lhe o maior sucesso nesta nova etapa profissional da sua
carreira.
“Mais tarde ou mais cedo vamos ter o Beira-Mar de volta às ligas profissionais”
O Beira-Mar é um clube histórico português, que inclusivamente ganhou
uma Taça
de Portugal. O que achou do clube?
O clube tem tudo para voltar a
ser uma referência nacional. Curioso referir isto depois de demostrarmos o
contrário este ano, mas acredito seriamente que mais tarde ou mais cedo vamos
ter o Beira-Mar de volta às ligas profissionais.
Já sabe onde vai jogar na próxima temporada?
Não.
Voltando atrás no tempo… o Zé Pedro nasceu em São João da Madeira. Como
é que foi a sua infância e como é que a bola entrou para a sua vida?
Desde pequeno que sempre andei
com a bola debaixo do braço. Fui mais um rapaz de São João da Madeira com o
sonho de ser jogador de futebol e aos oito anos comecei a jogar na Sanjoanense.
Independentemente do que possa acontecer daqui para a frente, vou aproveitar ao
máximo cada momento para depois mais tarde não me arrepender de não ter dado o
meu melhor.
“Foi no FC Porto que cresci como jogador, mas principalmente como pessoa”
Zé Pedro foi campeão nacional de juniores no FC Porto |
Iniciou a sua formação desportiva na Sanjoanense, mas foi no FC Porto que passou mais tempo. Quais são as melhores memórias que guarda desses tempos?
São muitas, foram 10 anos de dragão
ao peito. Fui lá que cresci como jogador, mas principalmente como pessoa. Orgulho-me
do meu caminho pelo FC
Porto e não mudaria nada!
Foi companheiro de equipa de Rúben Neves na formação do FC
Porto. Como era ele na altura?
Incrível, quando tinha 10 anos já
era assim. A maior parte dos miúdos viam o futebol como um passatempo, mas ele
com 10 anos já via o futebol como a sua profissão.
“Nunca vou conseguir agradecer tudo o que a Sanjoanense fez por mim”
Zé Pedro começou a jogar futebol na Sanjoanense |
Nunca vou conseguir agradecer
tudo o que a Sanjoanense
fez por mim, foi a Sanjoanense
que me deu a oportunidade de me mostrar ao futebol. Espero que a Sanjoanense
seja outro clube ao lado do Beira-Mar a voltar às ligas profissionais o quanto
antes.
Seguiu-se o Gafanha, também por empréstimo do FC
Porto. Como correu essa experiência?
A experiência no Gafanha foi
curta. Estive lá pouco mais do que três meses, pois fui para lá em janeiro para
jogar a fase final de subida do Campeonato
de Portugal. Não conseguimos subir de divisão, mas foi uma grande vitória
para todas as pessoas que viviam o clube.
“Passagem pelo Feirense ficou aquém das minhas expetativas”
Zé Pedro chegou a jogar pelo Feirense na II Liga |
No verão de 2017 transferiu-se para o Feirense,
mas foi pouco utilizado na equipa principal, na altura a militar na I
Liga. O que achou do clube e que balanço faz da sua passagem pelo emblema
fogaceiro?
Sinceramente penso que ficou um
pouco aquém das minhas expetativas, ainda está um bocado presente na minha
cabeça essa passagem por lá, pois esperava ter tido outro sucesso, oportunidades
e vivências. Sinto que podia ter dado muito mais ao clube e tê-lo ajudado a
permanecer na I
Liga ou pelo menos ter conseguido outros feitos. Apesar de tudo penso que
foi muito vantajoso para mim, tive uma grande aprendizagem, principalmente tive
o verdadeiro conhecimento do que é o futebol profissional, lidei com os
jogadores com muita experiência e com muita andamento quer a nível nacional,
quer a nível internacional. E claro que esses dois anos em que lá estive
fizeram-me crescer muito enquanto jogador.
Em 2017-18 esteve cedido ao Felgueiras.
Como correu essa aventura?
A experiência no Felgueiras
acabou por correr bem. Apesar de ter chegado em janeiro, acabei por fazer os
jogos quase todos da segunda volta da fase regular e depois fiz a fase final
onde acabámos por perder contra o Farense,
que subiu à II
Liga.
Como emprestado saí para jogar,
acabei por jogar muito, fazer muitos minutos e também acabei por fazer um golo,
contra o Farense
na fase final, e foi uma boa aventura. Fiz muitos jogos, tive minutos e foi
mesmo com essa ideia que fui para o clube.
A temporada seguinte foi iniciada no Feirense,
mas a meio transferiu-se para o Sp.
Covilhã, a militar na II
Liga. Como correram os meses que passou nos serranos?
Lá está, estava à espera de um
pouco do que se tinha passado um ano antes, quando foi para o Felgueiras,
apesar de na Covilhã
ter sido diferente, devido a estar noutro campeonato. O ritmo, o tipo de jogo e
os modelos de jogo, mesmo fisicamente, foram muito diferentes, e acabei por
fazer poucos jogos. Não foi aquilo que esperava.
Relativamente ao clube, acolheram-me
muito bem, não tenho nada a apontar ao clube, até pelo contrário, sempre me
trataram super bem. Desejo tudo de melhor para o Sp.
Covilhã. E como é lógico, o Sp.
Covilhã vai ficar marcado na minha vida, gostei muito de estar lá. A cidade
é muito tranquila e as pessoas são muito carinhosas e muito acolhedoras.
Foi a primeira vez que estive
fora de casa, tive que ficar a viver num hotel com mais jogadores. Como sou de
São João da Madeira era impossível para mim fazer todos os dias essa viagem,
portanto decidi ficar lá. Tudo isso fez-me crescer muito.
A experiência “louca” no país do soccer
Sim, essa arrisco-me a dizer que
foi a minha experiência mais louca. Entretanto, o meu contrato com o Feirense
acabou depois de ter estado emprestado ao Sp.
Covilhã. Voltei a ficar um jogador livre, falei com o meu empresário e ele
como tem uma parceria com outro empresário no Canadá, apresentaram-me essa
oportunidade. Na altura ainda hesitei, mas falei com a minha família e com as
pessoas mais próximas de mim e achei que era a altura perfeita para arriscar
outro tipo de coisas, ainda tinha 22 anos. Quando cheguei ao Estados Unidos,
realizei a segunda metade da época, que me correu muito bem. Fiz os jogos
todos, marquei cinco golos e fiz três assistências. Regressei a casa no final
de novembro, quando a época acabava lá. No fim de janeiro, voltei e realizei a pré-época
na equipa A, mas acabei por voltar a jogar na equipa B e depois deu-se tudo
isto da pandemia. Mas tenho a dizer que foi uma experiência superpositiva. Não
me arrependo nada de ter ido para lá, aliás, fez-me crescer muito,
principalmente como pessoa, fez-me ver o que a vida é e o que realmente muitos
jogadores de futebol passam. De facto, é uma realidade que ninguém conhece.
Tirei o máximo proveito dessa aventura. Foi muito positiva e muito útil para
mim, apesar da pandemia não permitir que eu continuasse lá, tendo eu optado por
voltar para Portugal.
Quais as principais diferenças que encontrou entre o soccer e o futebol português?
Sim, esta é uma pergunta que
muita gente me faz, mas é de simples resposta. A diferença não é assim tanta
como as pessoas pensam. Eu estive lá e senti isso, senti que o futebol é
evoluído, como aqui, são 11 contra 11, cada um tem a sua tática e o seu estilo
de jogo.
Mas o que eu notei mais,
sinceramente, foi em termos físicos. Dão muito valor a isso. Baseiam-se muito
no futebol americano, mas é como tudo, existem equipas que dão valor, e outras
nem tanto. Creio que não seja muito diferente daqui, acho que eles são muito
profissionais, evoluem muito rápido.
O Zé Pedro é um extremo. Como se define enquanto jogador?
Sou um jogador que ainda está em
fase de crescimento, porque o início da minha carreira foi um pouco atribulado,
porque mudei muitas vezes de clube, fazia poucos jogos e nunca tive uma ou duas
épocas totalmente consistentes por causa disso mesmo. Acredito que ainda estou
em fase de evolução, acredito que se voltar a ter uma época como tive no
Beira-Mar este ano, consistente com jogos, com minutos, e acho que tenho
potencial para dar o salto e acredito que as minhas qualidades possam
sobressair noutros patamares e é nisso que vou trabalhar. Sou um jogador com
técnica, capaz de resolver um jogo a qualquer momento até através de um
cruzamento, uma assistência, um passe de rutura ou até mesmo de um remate.
Tenho orgulho em ser um jogador
irreverente, que a qualquer momento possa fazer a diferença e não me considero
um jogador vulgar. Sinto que estou muito melhor defensivamente, trabalhei ao
longo destes anos as minhas lacunas defensivas, que eram muitas, devido à minha
formação no FC
Porto, pois no FC
Porto era muito raro defender, principalmente na formação, estávamos sempre
a atacar, e era raro estarmos em situações defensivas. Mas fui crescendo, fui estando
em equipas que passavam mais tempo do jogo a defender e não a atacar, ao
contrário do FC
Porto, e isso fez com que melhorasse as essas minhas lacunas.
“Espero voltar à I Liga”
Zé Pedro é um extremo que joga com o pé esquerdo |
Aos 24 anos, tem algum sonho no futebol que gostasse de cumprir ou
algum clube que gostasse de representar?
Claro! Ainda me considero um
jogador novo, em crescimento e só tenho 24 anos. Espero voltar ao patamar onde
já estive, a I
Liga e conquistar outro tipo de coisas. Tenho mais sonhos, claro, mas
acredito que se cada um se for concretizando, não tenho problema nenhum em
assumir outro tipo de sonhos. Sou realista, e sei que vou ter que trabalhar
muito, também vou ter que ter muita sorte porque hoje em dia é preciso ter
muita sorte no futebol, com os timings
e tudo mais, mas não tenho dúvidas nenhumas do que ainda posso atingir.
Como tem visto o crescimento da Sanjoanense
desde que deixou o clube?
A Sanjoanense
é um dos meus clubes de coração. Claro que eu comecei a jogar futebol lá e
acredito que nunca vou esquecer esses anos. Sempre tive um carinho especial e
já quando era miúdo sempre gostei de ver os jogos dos seniores. Mais tarde acabei
por me estrear na equipa principal e logo no meu primeiro ano de sénior foi um
orgulho muito grande poder representar o clube da minha terra, um clube que
também já é histórico, que esteve na I
Liga. Já muita gente jogou lá, já jogaram contra muitos e grandes clubes, e
acho que tem potencial para estar nos campeonatos profissionais, porque é um
clube com história, com uma massa adepta muito grande e boas condições. Estou
muito orgulhoso da Sanjoanense
e acredito que raramente irá voltar a descer outra vez aos distritais, porque
tem construído sempre grandes planteis e tem sempre boas pessoas à frente do
clube e não vejo outra maneira do sucesso não acontecer por lá.
Propomos-lhe um desafio. Elabore um onze ideal de jogadores com os
quais tenha jogado?
Guarda-redes: Vaná;
Lateral direito: Diogo
Dalot;
Centrais: Jorge Fernandes
e Rafael Vieira;
Lateral esquerdo: Alex
Jonathan;
Médios: Rúben Neves, Tiago
Silva, Moreto Cassamá e Bruno Costa;
Avançados: Edinho
e Peter Etebo.
E quem foram os treinadores que
mais o marcaram e porquê?
Sem dúvida, Pepjin Linders,
António Folha, José Guilherme, Flávio das Neves e Ricardo Sousa.
Faz do futebol a sua profissão ou concilia com outra atividade?
Faço do futebol profissão.
Entrevista realizada por Rui Coelho
Sem comentários:
Enviar um comentário