Manuel Godinho está na Sanjoanense desde o verão de 2019 |
Passou mais de duas décadas na Oliveirense,
clube em que fez toda a formação e viveu subidas e descidas de divisão, mas é com
a camisola da vizinha e rival Sanjoanense
que vai brilhando no Campeonato
de Portugal, com os olhos postos no apuramento para a Liga 3.
Em entrevista, Manuel Godinho
fala da ambição do plantel do emblema
de São João da Madeira e passa em revista uma carreira que passou pelos
Açores, mas que teve o seu o ponto alto em 2010-11, quando jogou na I
Liga ao serviço da Naval 1º de Maio.
RUI COELHO - O Manuel Godinho disputou 21 jogos no Campeonato
de Portugal pela Sanjoanense,
que assegurou o 5.º lugar na tabela classificativa na Série D. Como tem estado
a correr a época a nível individual e coletivo?
MANUEL GODINHO - A época tem
estado a correr muito bem quer a nível individual quer a nível coletivo.
Individualmente tenho sido opção regular e os jogos têm corrido bem.
Coletivamente apurámo-nos para o playoff
de subida à Liga 3 numa série muito difícil, muito competitiva e muito
equilibrada.
A Sanjoanense
garantiu na última jornada da fase regular uma vaga na fase de acesso à nova
Liga 3. Até onde a equipa pode chegar e quais são os objetivos assumidos?
Neste momento, e uma vez que
conseguimos o tão difícil acesso ao playoff
de apuramento para a Liga 3, só poderemos ter um objetivo, que é subir.
O que está a achar da forma de trabalhar do treinador Sérgio Machado?
Quando vim para a Sanjoanense
não conhecia o mister nem a sua equipa técnica, mas foram uma agradável
surpresa. Tem uma ideia de jogo que me agrada. Gosto dos treinos que elabora. É
exigente, não deixa ninguém abrandar. Consegue ter uma boa relação com o grupo
de trabalho, o que também é bom.
“O meu pai levava-me a ver os jogos da Oliveirense desde pequenino”
A minha infância foi muito boa, junto
dos meus avós, pais e irmãos. Brincava muito na rua e nos campos com os meus
irmãos e amigos. O futebol sempre fez parte da minha vida, jogava sempre na rua
ou na escola. O meu pai levava-me a ver, juntamente com o meu irmão, os jogos
da Oliveirense
desde pequenino. O gosto pelo futebol vem desde aí.
Realizou toda a sua formação na Oliveirense.
Qual a importância do clube para si na sua vida pessoal e profissional?
Cresci a ver a Oliveirense
jogar, depois tive a felicidade de estar ligado ao clube 22 anos, mais dois a
treinar a formação… é a minha vida! Foi lá que me formei como jogador e como
homem. Foi o clube que apostou em mim, que me abriu as portas do futebol
profissional. Serei eternamente grato.
Como qualquer jovem jogador, tinha o sonho de jogar pela equipa
principal do clube que representa. Aconteceu em 2003-04. Qual foi a sensação ao
concretizar esse sonho e quem foram as pessoas ou jogadores que mais o marcaram
no seu processo de formação?
Sim, nessa época já treinava com
a equipa sénior e a oportunidade acabou por surgir. Lembro-me que treinar com
eles já era um motivo de orgulho, então quando me estreei foi o concretizar de
um o sonho. Foi inesquecível. Foi lembrar-me do meu pai, que tinha falecido
meses antes, agradecer-lhe e pensar no quão orgulhoso ele estaria de mim. Foi
ter vontade de querer trabalhar mais e mais para ter mais oportunidades
daquelas.
Não querendo individualizar,
todos os treinadores assim como os colegas que apanhei na minha formação
marcaram-me de alguma maneira, lembro-me de cada um deles com enorme carinho, e
com alguns deles mantenho uma grande amizade.
Passou vários anos a representar a Oliveirense,
com o técnico Pedro Miguel como treinador. O que nos pode revelar acerca da sua
forma de trabalhar?
O mister Pedro Miguel irá ficar
para sempre marcado na minha carreira, foi o treinador que apostou em mim com
regularidade e foi o treinador com quem mais épocas tive o prazer de trabalhar.
Tem bons métodos de trabalho, consegue transmitir bem as suas ideias ao grupo,
é exigente e um é líder. Juntos conseguimos conquistas importantes na história
do clube.
“Foi com enorme tristeza que assisti à queda da Naval”
Godinho esteve na Naval entre 2010 e 2012 |
Em 2010-11 aceitou o convite da Naval 1° de Maio para jogar na I
Liga. Conte-nos como foi a adaptação ao clube e qual a primeira impressão
que teve?
A adaptação ao clube foi fácil,
senti-me muito apoiado enquanto lá estive, mas a minha época de estreia na I
Liga acabou por ser uma experiência agridoce. Se por um lado concretizei um
objetivo de carreira, que era jogar na I
Liga, por outro acabámos por descer de divisão. Foi um ano difícil, com
várias trocas de treinador. Os resultados não apareciam e não foi fácil chegar
lá e impor-me. De qualquer modo, agradeço ao clube pela oportunidade que me deu
e pela aposta feita em mim.
Partilhou o balneário com nomes bem conhecidos, tais como Romain Salin,
Mário Camora, João Pedro, Bruno Moraes, Sandro, Frechaut, entre outros. Como foi partilhar o balneário com eles?
Sim, o João Pedro foi comigo da Oliveirense
para a Naval, já o conhecia. Os outros não, mas gostei muito de partilhar
balneário com eles. Eram jogadores muito mais experientes, com carreiras
consolidadas, alguns com passado ligado a grandes clubes nacionais e que me
ensinaram muito.
Foi orientado na altura por Mozer, Daniel Ramos e Filipe Rocha. Como
tem visto a carreira deles?
Tenho assistido mais de perto á
carreira de Daniel Ramos e do Filó, porque são as que têm tido mais
visibilidade e penso que têm tido uma carreira em crescendo, com bons trabalhos
realizados, em clubes II e I
Liga. Na altura eram treinadores jovens e promissores, por isso vejo com
naturalidade o sucesso que têm obtido nos mais diversos clubes.
Tendo passado duas épocas na Naval, como viu a queda do clube nos anos
que se seguiram?
No meu segundo ano lá começaram a
aparecer os problemas financeiros e começámos a ter ordenados em atraso, o
clube encontrava-se muito instável. Foi com enorme tristeza que assisti a esse
fim. O clube era dos mais antigos do país, a cidade é maravilhosa e é um clube
que me diz muito, não merecia acabar assim.
“Santa Clara? Quantidade de viagens é algo que se torna cansativo”
Godinho representou o Santa Clara em 2012-13 |
No verão de 2012 transferiu-se para os Açores, mais precisamente para o
Santa
Clara. Como surgiu essa hipótese e quais
são as principais diferenças sentidas pelos clubes das ilhas?
A hipótese surgiu no final da
minha segunda época na Naval. O último jogo da época foi precisamente contra o Santa
Clara e ganhámos por 5-1. Considero que fiz um bom jogo e um bonito golo.
Lembro-me de estar em viagem de regresso a Oliveira de Azeméis e quando os
responsáveis do Santa
Clara me contactaram pela primeira vez. Depois de mais algumas abordagens,
acabei por aceitar o desafio e ainda bem que o fiz, pois deu-me um enorme
prazer. Adorei lá viver e representar uma linda região. Fiz uma boa época em
termos pessoais, disputei muitos jogos e fiz alguns golos. A maior diferença
entre jogar num clube das ilhas e num clube do continente é sem dúvida a
quantidade de viagens que temos que fazer de avião durante a época, que a
partir de determinado momento torna-se cansativo.
Teve como companheiro de equipa André Simões. Alguma vez pensou vê-lo
disputar uma Liga dos Campeões?
O Simões era um miúdo muito
trabalhador, com muita vontade de crescer e aprender, com muita qualidade e por
isso não me surpreende a carreira de sucesso que está a ter.
Regressou à Oliveirense
na época 2013-14. Sentiu que precisava de voltar às origens?
Quando faltavam um ou dois jogos para
terminar a época no Santa
Clara, lesionei-me no joelho e fui operado. O meu contrato tinha acabado.
Vi-me numa situação complicada e a Oliveirense
abriu-me as portas para que eu pudesse recuperar fisicamente e ganhar ritmo de
treino e de jogo. Entretanto os responsáveis do clube fizeram-me uma proposta e
acabei por ficar, apesar de ter tido outras propostas.
A época 2015-16 resultou na descida da Oliveirense
ao Campeonato
de Portugal. Um momento muito triste não só para si, mas para todos os oliveirenses.
Como carateriza essa época?
Foi uma época muito triste por
tudo o que se passou. Foi muito mau.
Uma época foi suficiente para devolver o emblema
de Oliveira de Azeméis à II
Liga. Qual foi o segredo para conseguirem a subida logo no ano seguinte?
O segredo foi o trabalho, a
dedicação e a qualidade de toda a estrutura do clube. O clube estabilizou, o
treinador Pedro Miguel regressou, mantivemos alguns jogadores da casa e juntamente
com alguns que vieram acrescentar qualidade, conseguimos fazer um campeonato
muito bom que culminou com a subida.
“Gosto muito da Sanjoanense, das pessoas ligadas ao clube e dos adeptos”
Godinho deseja levar Sanjoanense à Liga 3 |
Em 2018-19 surgiu o convite da vizinha Sanjoanense.
Como se deu essa mudança?
O meu contrato com a Oliveirense
terminou e não houve interesse por parte dos responsáveis do clube em que eu
continuasse. Depois surgiu o convite da Sanjoanense,
falei com os responsáveis da SAD e conseguiram convencer-me a assinar pelo
clube. O projeto era bom e as pessoas demonstraram uma grande vontade em contar
comigo, o que foi fundamental para que eu assinasse pela Sanjoanense.
Como tem sido representar a Sanjoanense?
Tem sido um prazer. Gosto muito
do clube, das pessoas ligadas ao clube e dos adeptos. O grupo de trabalho é
bom, tem qualidade, é malta humilde e trabalhadora. Sinto-me a desfrutar e a
ter prazer em jogar o jogo como há muito não sentia. O meu trabalho é valorizado
e isso faz-me sentir muito bem.
Aos 35 anos, tem algum sonho no futebol que gostasse de cumprir ou
algum clube que gostasse de representar?
Neste momento o meu sonho é só
um, colocar a Sanjoanense
na Liga 3.
Quem foram as pessoas que mais o marcaram durante o seu percurso?
Todos os treinadores, não
esquecendo os da formação, assim como alguns amigos que o futebol me deu, me
marcaram de alguma maneira o meu percurso.
Entrevista realizada por Rui Coelho
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