A esperança de todos os agentes do
futebol é que ainda se jogue esta época. No Campeonato
de Portugal, a Federação Portuguesa de Futebol já anunciou que “analisará e
comunicará com a maior brevidade possível de que forma serão indicados os dois
clubes que acedem à II Liga”.
Manter o playoff de oito equipas, com os dois primeiros classificados de
cada série, continua em cima da mesa. Mas há mais pontos de vista: os terceiros
e quartos classificados de cada série pedem um playoff a 16 e também há quem peça um playoff em que apenas participem os quatro líderes.
E se não for possível jogar? Cada
um puxa a brasa à sua sardinha, mas, por muito que os catedráticos do cheiro do
balneário queiram fechar o futebol e todos os debates que o desporto-rei
envolve neles mesmos, é indispensável a visão mais distanciada, isenta,
imparcial e analítica dos jornalistas. Por isso, exponho aqui cinco
possibilidades para apurar quem sobe do Campeonato
de Portugal à II Liga.
1. Mais pontos à data da paragem (25.ª jornada)
À primeira vista, seria o
critério mais palpável e meritocrático, uma vez que cerca de 75 por cento da
fase regular do Campeonato
de Portugal já decorreu. Se avançar esta possibilidade, serão promovidos Vizela
(60 pontos na Série A) e Arouca (58 pontos na Série B), dois clubes que, como
não poderia deixar de ser, já defenderam esta ideia.
Porém, é preciso não esquecer
duas assimetrias essenciais: não se defrontaram todos o mesmo número de vezes e
nem todas as séries têm o mesmo nível competitivo. Embora seja muito propagada
a alegada maior competitividade que existe a norte, a verdade é que residem nas
Série A e B as duas únicas equipas que à 25.ª jornada tinham menos de dez
pontos: Câmara de Lobos (A) e Ginásio Figueirense (B).
Na Série C, por exemplo, apenas
14 pontos separaram as zonas de acesso ao playoff
e de despromoção, quase metade do que se regista nas restantes séries. E,
curiosamente, os clubes promovidos nos últimos anos à II Liga são das séries
mais a sul: Vilafranquense
e Casa
Pia na época passada, Mafra e Farense
na anterior e Real
SC (e Oliveirense) em 2016-17.
2. Mais pontos no final da primeira volta (17.ª jornada)
Em relação à primeira hipótese,
estaríamos a valorizar apenas 50% da época e não 75%, mas por outro lado esse
mérito parcial seria menos assimétrico, uma vez que refletiria uma série de jornadas
em que todos se defrontaram por uma vez.
Se este critério for tido em
conta, subirá Olhanense
(40 pontos) e Real
SC (39), ambos da Série D. Embora os realistas tivessem virado o campeonato
com os mesmos pontos que Vizela e Arouca, tinham na altura um saldo melhor
entre golos marcados e sofridos (+29 contra +27 dos minhotos e +14 dos beirões).
Porém, continuaria a ser válido
que existem assimetrias (difíceis de medir…) entre séries.
3. Promover quatro ou oito equipas
Este seria o critério menos
injusto tendo em conta o mérito dos clubes durante 75% da época. Caso sejam
promovidos os quatro líderes das séries, Vizela, Arouca, Praiense e Olhanense,
a II Liga passaria a ter 20 equipas, algo que até se verificou há bem pouco
tempo, em 2017-18. E se também subirem os quatro segundos classificados de cada
série, Fafe, Lusitânia de Lourosa, Benfica Castelo Branco e Real
SC, o número de equipas na II Liga aumentaria para 24, algo que também
aconteceu recentemente, em 2014-15 e 2015-16. Se tal vier a acontecer, teria
obrigatoriamente de implicar a descida de quatro a seis equipas nas próximas
temporadas.
Porém, há duas notas a reter. Primeira:
essas épocas com tantas equipas reforçaram a insustentabilidade da competição
em termos de patrocínios, percentagem de jogos televisionados e bilhética, uma
vez que abundavam os encontros disputados às 15.00 de quarta-feira. Segunda: a FPF pareceu ser bem explícita quando
referiu “analisará e comunicará com a maior brevidade possível de que forma
serão indicados os dois clubes que
acedem à II Liga”.
4. Ter o histórico recente em conta
Qualquer decisão que venha a ser
tomada será sempre injusta, porque as equipas não se defrontaram todas duas
vezes. O que está no regulamento não será cumprido, pelo que de uma parte ou de
outra vão surgir queixas.
Perante este cenário, a Federação
Portuguesa de Futebol pode analisar o histórico desportivo recente dos clubes
para decidir quem sobe à II Liga. Se tivermos em conta as últimas épocas, o
Vizela foi o primeiro classificado da sua série tanto em 2017-18 e 2018-19, mas
foi vítima da crueldade do mata-mata. O mesmo se aplica ao Praiense, que em duas
das três últimas temporadas tem sido extremamente regular e assegurado o apuramento
para a fase de promoção, mas tem batido com o nariz na porta nos últimos jogos
do playoff.
Por outro lado, o Arouca passou
as últimas temporadas nas ligas profissionais e em 2016-17 até participou na Liga
Europa, ainda que tenha descido duas vezes de divisão em três anos. E é
necessário não esquecer que o Real
SC competiu na II Liga em 2017-18.
5. Analisar pressupostos financeiros, infraestruturais e formação
Há um ano, o FC Andorra, cujo
dono é o jogador do Barcelona
Gerard Piqué, pagou os mais de 450 mil euros necessários para preencher uma
vaga em aberto na II Divisão B espanhola, subindo assim duas divisões numa só
temporada.
Fazer algo semelhante na II Liga
portuguesa seria altamente injusto, tendo em conta as circunstâncias especiais em
que este impasse está envolvido, mas uma das formas para decidir quem sobe pode
passar por um processo que incluísse envio de candidaturas e consequente
análise por parte da FPF.
Perante esta revolucionária e
remota possibilidade, pressupostos financeiros, infraestruturais e certificação
de entidade formadora seriam os itens a ter em conta. É verdade que cada clube é
obrigado a criar uma SAD ou uma SDUQ em caso de promoção às ligas
profissionais, mas premiar as boas práticas talvez não seja descabido de todo
num cenário desta natureza e numa altura em que se fala tanto da bolha em que o
futebol vive e de fair play
financeiro.
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