sábado, 4 de abril de 2020

Aldair Ferreira: “Jogar um Mundial por Angola é um dos meus sonhos”

Aldair Ferreira está vinculado ao Cova da Piedade há quase um ano
Um dos jogadores mais promissores de Angola, Aldair Ferreira é internacional sub-23 pelos Palancas Negras e representa a equipa desse escalão do Cova da Piedade, que compete na Liga Revelação.

Nascido há 22 anos no Bairro do Prenda, em Luanda, emigrou aos três anos para Portugal com a família, que procurava melhores condições de vida. Foi já em solo luso que começou a jogar futebol, em 2005-06, no Estrela da Amadora. Seguiu-se o Sporting, onde fez grande parte da formação, e depois o Gil Vicente. Após duas épocas no Campeonato de Portugal, com as camisolas de AD Oliveirense e Vilaverdense, mudou-se no último verão para o Cova da Piedade, da II Liga, mas tem jogado apenas pela formação secundária.


Embora a oportunidade na equipa principal ainda não tenha aparecido, vai mostrando um pé esquerdo de qualidade ao serviço dos sub-23, perfilando-se como um nome a ter em conta no futebol angolano. Em entrevista a O Blog do David, fala da infância, passa a ainda curta carreira em revista e revela as expetativas para o futuro.


ROMILSON TEIXEIRA - Quem é Aldair Caputo Ferreira?
ALDAIR FERREIRA - É um jovem cheio de sonhos e objetivos como todos os outros, que desde cedo tem o sonho de ser jogador de futebol. Isso é que me mantém vivo.

Onde nasceu e cresceu? E como foi a sua infância?
Eu nasci em Angola, mas vim para Portugal muito cedo, aos três anos. Os meus pais vieram para ter melhores condições de vida. A minha infância foi muito boa, que eu me lembre foi quase sempre a jogar à bola e em outras brincadeiras que as crianças da minha idade faziam.

Desde pequeno que sempre quis ser futebolista ou tinha outros sonhos?
Sempre quis ser futebolista, sempre meti na cabeça que era isso que queria.

Em que ano e clube começou a sua carreira? Sempre teve pinta de craque?
Comecei no Estrela da Amadora, em 2005-2006. As pessoas sempre disseram que eu tinha jeito para o futebol.

Aldair Ferreira em ação num jogo frente ao Benfica
Com que idade foi para o Estrela da Amadora e quantos anos passou nesse clube?
Entrei lá com sete anos e sai com oito, só fiquei por lá um ano. De seguida fui para o Sporting Clube de Portugal, onde passei sete anos.

Como descreve a sua passagem pela Academia de Alcochete? É um sonho voltar a representar o Sporting num futuro próximo?
Foram momentos muito bons, em que cresci como jogador e homem. Conheci pessoas fantásticas com as quais até hoje mantenho uma ligação muito forte. Tenho um enorme carinho pelo Sporting, estará sempre no meu coração. Sim, se tiver oportunidade, voltarei!

Seguiu-se o Gil Vicente. O que guarda da sua passagem pelo clube de Barcelos?
Também passei muitos bons momentos no Gil Vicente, que eu me lembre a melhor lembrança foi quando coloquei pela primeira vez a braçadeira de capitão. Foi uma grande honra para mim.

Os primeiros anos de sénior, porém, foram passados na AD Oliveirense e no Vilaverdense. Quais foram as maiores dificuldades que enfrentou?
Penso que qualquer jovem, quando sai da formação, enfrenta algumas dificuldades no futebol sénior. Senti dificuldades na parte física, principalmente na hora do choque, mas depois fui melhorando.

Pela exigência física e técnica, julga que a posição que habitualmente ocupa, no meio-campo, é a mais difícil de interpretar? Afinal tem de correr durante 90 minutos por todo o campo…
Sempre me habituei a jogar mais na posição 10, mas também já passei por outras. Todas elas são exigentes à sua maneira. O meio-campo é muito importante, tem de existir muito entrosamento para funcionar bem.

É um jogador elegante, com um pé esquerdo refinado, mas joga na Liga Revelação, ao campeonato português de sub-23. Sente que não está a jogar no nível que merece?
Sinceramente já pensei mais nisso, mas sei que só depende de mim sair do patamar onde estou para chegar a um superior. Apenas me resta continuar a trabalhar e desfrutar do futebol que é o que mais de fazer.

Crê que a Liga Revelação, por ser uma liga de desenvolvimento para atletas sub-23, é a melhor opção para os jovens crescerem e melhorarem o seu jogo, ou defende que as equipas B seriam melhor por terem oportunidade de jogar com atletas mais experientes?
Eu acho que depende muito. A Liga Revelação é uma boa montra para os atletas jovens se mostrarem, tanto para as equipas principais dos respetivos clubes como para as dos outros. É uma liga com bastante visibilidade e com condições top. Aos atletas basta estarem focados em dar o máximo para proporcionar um bom espetáculo e desfrutar deste nosso desporto.
 
Aldair frente ao Sporting no regresso à Academia de Alcochete
O Cova da Piedade não conseguiu apurar-se para a fase de apuramento de campeão, mas ainda pode vir a qualificar-se para a Taça Revelação caso vença a Ronda de Qualificação da Zona Sul. Esse sempre foi o objetivo para esta época? O que acha do percurso da equipa até ao momento?
Sim. Desde o momento que soubemos que não ia ser possível ir à fase de apuramento de campeão que metemos na cabeça que tínhamos de ir à Taça.

Para que todos em Angola percebam… Como funciona a Liga Revelação?
Basicamente é um campeonato como todos os outros. Existe uma fase regular composta por 16 equipas que disputam jogos entre si, depois disso, seis equipas jogam a fase de apuramento de campeão e as outras 10 que são divididas em duas séries de cinco (norte e sul), que jogam a fase de manutenção, sendo que que os primeiros de cada série da fase de manutenção têm direito a ir à Taça Revelação.

É inevitável falarmos do Covid-19. Como tem visto a situação do mundo nestes últimos meses? Como tem lidado com esta situação e como tem sido o seu dia-a-dia?
É uma situação muito delicada realmente, só nos resta seguir as medidas de prevenção e mantermo-nos a salvo. Estou convicto que juntos vamos ultrapassar isto. Tenho feito as coisas normalmente, dentro das medidas de prevenção. Tenho treinado em casa, penso que o mais importante nesta altura é mantermo-nos em casa.

Qual é o seu maior sonho enquanto jogador de futebol?
Jogar em grandes palcos no mundo do futebol, como por exemplo numa Liga dos Campeões ou jogar um Mundial pela seleção de Angola, entre outros sonhos.

Quais são as suas referências no mundo do futebol, aqueles jogadores em que se revê?
Aprecio muito Lionel Messi, Mesut Ozil, Riyad Mahrez e Arjen Robben, entre outros. Tenho mais algumas, mas penso que essas são as minhas principais referências.

Viveu a maior parte da sua vida em Portugal. Já teve o desejo de representar a equipa das quinas? Já recebeu um convite para representar uma das seleções jovens de Portugal?
Sim, há quem diga até que sou mais português do que angolano. Em relação aos convites, nunca recebi nenhum das seleções portuguesas.


E sente que é mais angolano ou mais português?
Eu sou um bocado dos dois. Gosto muito de Portugal porque foi onde fui criado e de Angola porque foi onde nasci e tem a seleção que represento e tenho muito orgulho nisso.

O que o Cova da Piedade representa para si? O que acha que o clube tem de mais especial?
Estou cá há apenas uns meses, mas estou agradecido ao clube por me ter aberto as portas e me ter proporcionado bons momentos. Fiz amizades que certamente ficarão para sempre.

E sobre o seu futuro? Pretende continuar no Cova da Piedade ou tem algumas propostas para mudar de ares?
Acho que toda a gente pensa sempre no melhor para si. Tenho respeito máximo pelo Cova da Piedade, mas ambiciono outros patamares. Sonho jogar em Inglaterra e Espanha.

O que pensa do futebol angolano e dos futebolistas angolanos? Quais são os jogadores angolanos que mais admira?
Eu acho que os atletas angolanos têm muito talento e uma margem de progressão muito grande e não é por acaso que alguns vêm jogar para a Europa desde muito cedo, é sinal que há qualidade. Gosto muito do Gelson Dala e do Ary Papel, pela irreverência e agressividade de ambos com bola, aprecio muito a capacidade deles no um contra um.

Quais são os conselhos que deixa a todos os jovens que sonham ser jogadores de futebol?
O conselho que eu deixo para os jovens é para nunca desistirem dos sonhos pois quem espera sempre alcança. As coisas podem não estar a correr bem no momento, mas temos de manter sempre a fé e a cabeça erguida para trabalhar. A paciência é a chave.


Entrevista realizada por Romilson Teixeira




























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