Muitos são os teóricos que defendem para
os seus clubes uma maior aposta de jogadores oriundos da cantera, mas em
Portugal, por exemplo, isso não tem acontecido com boa parte dos clubes
recentemente.
Os teóricos dão como exemplo Barcelona e
Bayern Munique, dois emblemas de sucesso que não abdicam de apostar em
futebolistas vindos das camadas jovens. No entanto, esquecem-se que são dois
colossos do futebol mundial, que podem lançar atletas como Bartra, Cuenca,
Montoya, Sergi Roberto, Tello, Cuenca, Alaba, Müller e outros sem correr o
risco de perder as suas principais estrelas.
Messi, Xavi, Iniesta, Ribéry e Robben são
exemplos de estrelas que não têm a ambição de “dar o salto”, não por não serem
jogadores ambiciosos, mas sim porque já atingiram o topo, não precisam de sair
de onde estão.
Em outros emblemas europeus, de um prestígio
um pouco menor, como o caso dos portugueses FC Porto e Benfica, o caso muda de
figurino. A possibilidade de Jackson Martínez, Fernando, Garay, Cardozo ou
Matic saírem é real, até porque se tratam de jogadores que querem atingir um
patamar ainda mais elevado. A fazer-lhes sombra, os clubes têm de procurar
atletas com créditos firmados, e por isso se tenham feito apostas em Ghilas,
Herrera, Lisandro López, Funes Mori e Fejsa em detrimento de uma aposta em Fábio
Martins, Pedro Moreira, Fábio Cardoso, Ivan Cavaleiro ou Luciano Teixeira.
Os jovens são, inevitavelmente, pouco
experientes ao mais alto nível, e apesar da qualidade, não se lhes pode pedir
para que não tremam quando jogam pela primeira vez para dezenas de milhares de
pessoas, quando cumprem o sonho de chegar ao plantel principal e queiram fazer
o melhor possível numa das únicas oportunidades que dispõem ou quando ouvem
pela primeira vez o hino da Liga dos Campeões.
O fator psicológico é de facto importante
no futebol, e os jovens têm maior tendência a acusar ansiedade e nervosismo,
para além de que por vezes é tanta a irreverência, a vontade de mostrar
serviço, que se esquecem que o fundamental é servir o clube. Jogadores mais
experientes de adversários podem também intimidar ou provocar, e tendo em conta
que o processo de maturação pode não ter sido ainda concluído, isso pode-se
fazer sentir.
E claro, nos aspetos físicos e táticos
existe uma grande diferença. Jogadores habituados a jogar frente a oponentes da
mesma idade, com físicos semelhantes, com o mesmo número de anos de futebol nas
pernas, com um certo ritmo, encontram na chegada a sénior, especialmente ao
mais alto nível, um ritmo superior, atletas muito mais maduros fisicamente, e
experientes ao ponto de ler melhor o jogo em termos táticos, com maior
capacidade de prever e prevenir o que pode ou não acontecer.
É verdade que os jovens futebolistas só
podem chegar a esse tipo de patamar jogando, e jogando num nível de alto
rendimento. Mas em Portugal, nos dois principais candidatos ao título, isso é difícil
de acontecer. FC Porto e Benfica têm discutido palmo a palmo os últimos
campeonatos, em que cada ponto perdido tem um caráter decisivo. De um lado, o
histórico dos últimos trinta anos obriga qualquer treinador a ser campeão, sem qualquer
margem de erro. Do outro, todo o palmarés e mística podem ficar ameaçadas por
um grande rival que provavelmente fará uma ultrapassagem no que concerne a títulos
nacionais, o que obriga qualquer técnico a mudar essa tendência a todo o custo.
É fácil dizer que Quintero tem lugar de
caras na equipa azul e branca. Mas com uma cultura de passe, o menos exuberante
mas mais consistente e coletivo Silvestre Varela, serve os interesses de Paulo
Fonseca. Desequilibra menos, mas também perde menos a bola, ajuda a equipa a
permanecer com a mesma e a controlar e dominar o jogo. Aí está a tal diferença
entre querer mostrar serviço e servir o coletivo.
Também é fácil dizer que João Cancelo,
André Gomes e Ivan Cavaleiro deveriam ter rapidamente uma oportunidade. Mas com
toda a pressão que quem trabalha num clube como o Benfica sente, com a
obrigatoriedade de ganhar, que treinador que quer manter o seu emprego vai
apostar num lateral irreverente e de grande pendor ofensivo que pode não
corresponder na altura de descer ou ficar sem pedalada para fazer toda a faixa
durante 90 minutos? Que técnico que procura recuperar rapidamente a bola pode
arriscar numa posição tão delicada como o meio-campo (ainda por cima as águias
jogam apenas com dois homens no miolo) colocar alguém que nem sempre pressiona?
Quem pode abdicar dos praticamente garantidos 20/30 golos por época de Rodrigo,
Cardozo e Lima para abrir mais espaço a um atacante sem experiência de Primeira
Liga?
A aposta na cantera fica então destinada
para clubes que reduzem em simultâneo orçamento, ambição e pressão, numa
tentativa de reestruturação, como Sporting e Vitória de Guimarães.
Gostei. Opinião cristalina e coerente sobre o assunto.
ResponderEliminarRMC
Não, a ser abordada a questão tinha de se falar de muitas outras condicionantes. Desculpa, mas isso são umas desculpas esfarrapadas. Não nos podemos esquecer da Taça da Liga, da Taça de Portugal e, mais directo ao assunto e mais proporcional, a razão: Apostas na formação / Apostas nas contratações.
ResponderEliminarQual é a diferença entre DD de 19 anos que venha para o SLB ou o J. Cancelo? A diferença é:
Destacam-se em ligas inferiores, nos escalões principais.
Não têm experiência ou rotinas no nosso campeonato, mas como é uma contratação, vai ter mais oportunidades.
Se falhar 1 vez, o Cancelo nunca mais calça. Se falhar 4 vezes, a contratação continua a ser aposta.
Etc...
É bonito falar da pressão psicológica e não falar de todos os intervenientes. O paradigma é mesmo a falta de experiência, tal como no nosso mercado de trabalho, não há experiência sem trabalho, sem aposta na juventude.
O Sérgio Oliveira, estreou-se no Porto com 16 anos, depois, nunca mais.
O Tozé estreou-se, o ano passado, com 19 anos, este ano, viu 4 jogadores contratados para a sua posição.
Que tal isto para a pressão psicológica?
Já agora, que tal uma 1º fase de juvenis e juniores sem ritmo de competição alguma? Que tal umas imposição a obrigarem a adaptação de jovens aos seus clubes principais? Que tal novos incentivos nos escalões mais jovens?
No caso do João Cancelo, quem foi contratado foi o Sílvio, e ainda há o André Almeida.
EliminarE não se pode confundir jogadores nacionais, sem experiência ao mais alto nível, com jogadores da América do Sul, habituados a pressão e a jogos escaldantes como Flamengo - Fluminense ou a Boca - River, só para dar exemplos de maior dimensão. Mas sabe-se que embora o ritmo seja diferente, a pressão que há lá muitas vezes coloca a vida em risco.
E depois não se pode confundir o que é o potencial de um jogador, demonstrado nas camadas jovens. com outro que já em outro sítio demonstrou créditos, e que pode ter um jogo que não lhe corra bem. E claro, se falhar, a confiança de um jovem mais facilmente poderá ser abalada da que um jogador mais experiente. Um erro pode-lhe marcar a carreira do ponto de vista psicológico, outro pode ultrapassar isso mais facilmente.
Quanto à questão do Tozé, que até considero um dos jogadores mais subvalorizados do futebol português, é importante salientar a falta de opções que o FC Porto tinha para o meio-campo nas épocas transatas. Fernando (que poderia sair a qualquer altura), João Moutinho (transferido), Lucho (já sem capacidade para durar 90 minutos em boa parte dos jogos) e Defour. Os dragões necessitavam mesmo de apostar em jogadores para essa posição, que lhes dessem garantias para uma época longa e exigente.
O Sérgio Oliveira ainda não confirmou a confiança depositada em si nos sucessivos empréstimos. Não se afirmou no Beira Mar, por exemplo. Na equipa B do FC Porto também não me pareceu dos jogadores com maior capacidade para dar o salto.
Quanto à sugestão de uma 1ª fase de juvenis e juniores mais competitiva, concordo. No entanto, também poderá retirar competitividade e visibilidade a jovens de equipas não tão cotadas. Mas é algo que tem de ser visto, tal como o regresso da Taça Inter-Regiões.
Porque não chamam os bois pelos nomes? Porque não interessa à maioria dos dirigentes ficarem sem o Seu rendimento "luvas" por cada contratação. Os jovens futebolistas portugueses tem muito mais classe e capacidade que a maioria das contratações que se fazem de brasileiros de segunda linha e de outras nacionalidades. Querem mesmo acreditar que um português de 19 ou 20 anos é menos experiente que um argentino? Claro que o óptimo é ter jogadores experientes, mas é esse tipo de equilibrio que uma equipa precisa e faz parte da equipa tecnica trabalhar esse aspecto. Não é à toa que os nossos jovens inexperientes são cobiçados pela liga inglesa. É tambem uma questão de cultura, em Inglaterra por exemplo se o jovem tiver 15/16 anos e for bom é colocado a jogar na equipa principal. Em Portugal há quantas épocas não é lançado um jogador com essa idade e lhe é dada a oportunidade de continuar a jogar vários jogos? Se não estou em erro talvez tenha sido o Moutinho. Acham mesmo que não existe espaço para lançar mais jogadores? Para mim era mudar a Lei de forma a que houvesse limitação do nº de estrangeiros e os que viessem tinham de ser internacionais pelos seus paises.
ResponderEliminarÉ apenas uma opinião.
Percebo o que entende quer dizer, por haver a pressão de se ter gasto dinheiro numa contratação. Mas geralmente, o tal jogador argentino de 19 anos já tem experiência local de futebol profissional e até com muitos jogos nas pernas.
EliminarE em Inglaterra nem sempre é assim, e depois falamos de um país que tem uma seleção que tem sido de há muitos anos para cá a grande desilusão de Europeus e Mundiais.
Quanto às leis, concordo em parte. Ironicamente são as equipas grandes cheias de estrangeiros, que possibilitam que Portugal ocupe um lugar no Ranking da UEFA que possibilita que as mais pequenas vão à Europa, e não estamos a falar de uma ou duas, mas por vezes três ou quatro. Há uns seria impensável ver ao mesmo tempo Vit. Guimarães, Estoril e Paços numa fase de grupos da Liga Europa em simultâneo.
Porque e que nao falam do caso C.Ronaldo, Nani, Figo, Simão Saborosa, João Moutinho mais recentemente Bruma? O problema e o Porto e Benfica nao terem jogadores jovens com a "estrelinha" capazes de chegar ao topo!!
ResponderEliminarSim, com a globalização do mercado há jogadores como Ronny Lopes, Agostinho Cá, Edgar Ié e Aladje a aparecerem em clubes europeus, Bruma e Ilori a sairem praticamente com idade de júniores, e claro, o mercado de Roménia, Rússia, Ucrânia e Chipre, entre outros, que antes não existia para jogadores portugueses.
EliminarMas há aqui um estudo de caso: Benfica e FC Porto praticamente atuam sem atletas lusos e conseguem ser cabeça de série da Champions... se pelos vistos não estão mal, não vejo porque hão-de querer de mudar.