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Seleção africanas nunca chegaram às meias-finais de um Mundial
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As imagens da seleção francesa a
festejar a conquista do
Mundial
2018 ou até mesmo da seleção portuguesa a comemorar a vitória no Euro 2016 refletem
uma tendência que ameaça perdurar na história do futebol: a preferência de
jogadores africanos ou afrodescendentes pelas seleções dos países europeus que
os acolhem, em detrimento dos africanas em que têm raízes.
Entre os campeões europeus de
2016 estavam dois jogadores que podiam jogar por
Cabo
Verde (Eliseu e Nani), dois por
Angola
(
William
Carvalho e
João
Mário), dois pela
Guiné-Bissau
(Danilo Pereira e Éder) e um por São Tomé e Príncipe (
Renato
Sanches). Ou seja, sete futebolistas.
E entre os campeões mundiais de 2018
estavam três que podiam jogar pela República Democrática do Congo (Mandanda, Kimpembe
e Nzonzi), dois pelos Camarões (Umtiti e Mbappé), dois pelo Mali (Sidibé e
Kanté),
um por Marrocos (Rami), um pelo Senegal (Mendy), um pela Guiné-Conacri (Pogba),
um pelo Togo (Tolisso), um por
Angola
(Matuidi), um pela Argélia (Fékir) e um pela Mauritânia (Dembélé.) Ou seja, 14
futebolistas (em 23 convocados).
Obviamente que a maior parte
destes atletas passou pela formação de grandes clubes e representaram as
seleções jovens dos países europeus em questão antes de escolher que seleção
principal representar. Mas nem sempre é assim.
E por nem sempre ser assim, as
seleções africanas, nomeadamente as que não participam tão regularmente em
fases finais da
Taças
das Nações Africanas (CAN) ou de Mundial, têm de fazer um trabalho mais profundo
na recolha de dados e no
scouting e sobretudo
pensar mais a longo prazo.
É urgente olhar mais para jovens
talentos que estejam a jogar em contextos competitivos não tão elevados, chamá-los
e, se necessário, sacrificar o apuramento para a fase final que se segue em
prol de um futuro mais promissor.
Obviamente
que isto não pode partir dos selecionadores, que estão pressionados para
apresentar resultados imediatos, mas sim das Federações, que têm de olhar para
lá do próximo
CAN.
Recordo-me de a seleção da
Guiné-Bissau
ter convocado o médio Zezinho quando este ainda era júnior no
Sporting.
O jogador, que era uma grande promessa dos leões, chegou depois a atuar na
equipa principal quando Jesualdo Ferreira. Pode não estar a fazer uma carreira
de acordo com as expetativas, mas a
seleção
guineense reteve-o ainda em tenra idade.
Situação diferente aconteceu anos antes com Rolando, que em entrevista à
Tribuna
Expresso revelou que o selecionador de
Cabo
Verde não o considerou preparado quando ainda jogava no
Belenenses.
“Antes de ser chamado à seleção de Portugal, o selecionador de
Cabo
Verde veio falar com o Pelé, que lhe diz que tinha uns problemas familiares
para resolver e não podia ir à seleção. O Pelé sugere-lhe que me leve, a mim,
porque eu era um miúdo, iria ser o futuro da seleção de
Cabo
Verde. Ainda me lembro desse dia, estava ao lado dele. Mas o selecionador
disse: ‘O miúdo até não é mau, mas não tem condições para jogar na seleção de
Cabo
Verde’. Foi um dia muito triste para mim que sonhava com a seleção de
Cabo
Verde, nem sonhava com a seleção portuguesa”, contou.
Olhando para os campeões europeus
de 2016, reparamos que Eliseu teve uma fase de muita pouca utilização no
Belenenses
e que até chegou a estar emprestado ao Varzim. Onde estava a Federação de
Cabo
Verde nessa altura?
Éder andou pelo Adémia, pelo
Oliveira do Hospital, pelo Tourizense e demorou algum tempo a conquistar o seu
espaço na
Académica.
Onde estava a Federação de
Guiné-Bissau
nessa altura?
O mesmo se verifica quando
olhamos para os campeões mundiais de 2018.
N’Golo
Kanté, hoje considerado um dos melhores médios do mundo, certamente que nem
sonhava jogar por França quando passou por clubes como Suresnes, Boulogne e Caen.
Onde estava a Federação do Mali nessa altura?
Adil Rami esteve no ES Fréjus,
nas ligas não profissionais de França, só chegou ao Lille em 2006 e foi
convocado pela seleção francesa em 2010. Onde esteve a Federação de Marrocos
nessa altura?
As seleções africanas não se
podem apenas queixar. Também têm de ter mais visão a longo prazo. O próximo
Kanté
pode estar ao virar da esquina.
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