Eleições de 2018 tiveram recorde de candidatos e de eleitores |
“Tudo está bem quando acaba bem”.
Este chavão parece adequar-se ao estado de espírito dos sportinguistas depois
de as eleições mais concorridas em número de candidatos (seis) e de eleitores
(22.400) terem guiado o antigo diretor clínico do clube Frederico Varandas à
presidência do Conselho Diretivo.
Desde cedo que se percebeu que a
luta iria ser a dois, entre o médico militar o antigo
guarda-redes de futsal João Benedito. No entanto, também se entendia que os
dois favoritos faziam parte do mesmo eleitorado e não de duas formas distintas
(passo a redundância) de ver o Sporting. Ou seja, a dúvida entre muitos dos
votantes era entre um e outro. Se o candidato em que votaram não ganhasse, os
associados queriam que ganhasse o outro. Benedito
era o plano B de grande parte dos que votaram na lista de Varandas e
vice-versa. Durante o próprio dia das eleições, foram vários os sócios que o
assumiram.
Assim sendo, apesar de Benedito
ter tido mais votantes mas Varandas ter ganhado por ter tido mais votos e sem
maioria absoluta, ninguém se importou muito com isso. Nem o próprio Benedito,
que congratulou o vencedor, declarou-o como o seu presidente e anunciou o seu
sair de cena.
O fair play do antigo
guarda-redes foi a cereja no topo do bolo de um dia eleitoral marcado por
um enorme civismo por parte de cada um dos candidatos, que ainda antes de
conhecerem os resultados assumiram que iriam apoiar o novo presidente e não
iriam ser oposição, e das mais de duas dezenas de milhares de sócios, que se
expressaram de forma absolutamente pacífica. Nem o presidente destituído fez
qualquer tipo de manifestação.
O próprio dia 8 de setembro
acabou por ser o culminar de uma campanha em que a natural animosidade nunca
passou os limites do razoável, pelo menos por parte dos candidatos aceites pela
Mesa da Assembleia Geral.
As circunstâncias ditaram um
final feliz, mas nem tudo foi perfeito. Além da demora na contagem e recontagem
do voto, temeu-se uma eventual falta de legitimidade do novo presidente e
criticou-se o número avultado de candidatos e a não retirada de cena de alguns
deles quando se percebeu que estavam destinados a um resultado humilhante.
Assim sendo, há ilações a tirar e
aspetos a rever para que eleições futuras não dependam das semelhanças entre os
principais candidatos (ou a falta delas…), do bom feitio dos mesmos e do
civismo de quem estava apenas desesperado em voltar a ver a paz no clube.
Eis algumas das matérias que deveriam
ser revistas:
1 – Número de votos vs. Número de votantes
Neste caso, Frederico Varandas e João
Benedito eram candidatos com personas
semelhantes e cuja forma de ver o Sporting não apresentava grandes
dissemelhanças. O antigo
guarda-redes era a alternativa para a maioria dos que votaram no médico e
vice-versa. Ganhando um ou outro, os sportinguistas ficavam felizes.
O fair play de Benedito no momento da derrota e o facto de um não
romper com as ideias do outro acabaram por não dar azo a análises muito
detalhadas, mas é preciso não esquecer que o ex-guardião teve mais 1.018
pessoas a votar nele. Num universo de associados de um clube desportivo, é algo
gigante.
Desta vez, aplicou-se a máxima do
“tudo está bem quando acaba bem” mas, no futuro, se algo semelhante voltar a
acontecer com candidatos que apresentem mais contraste nas suas ideias, tal
como Bruno de Carvalho e Godinho Lopes em 2011, o presidente eleito poderá ter
de viver com a sombra da pouca legitimidade.
Algo a rever. Não que se passe do
8 ao 8 e cada sócio passe a ter direito a apenas um voto, mas pelo menos que se
reduza o peso da antiguidade.
2 – Metodologia de voto
É inconcebível que em 2018 o
vencedor de umas eleições com um universo de pouco mais de 20 mil votantes
possa demorar sete horas a ser apurado.
É exigida uma resposta mais
célere a quem tem a responsabilidade de organizar o sufrágio e a solução deverá
passar pela extensão do voto eletrónico a todo o território. A partir de casa
ou nos núcleos e de norte ao sul do país e até no estrangeiro. Não creio que a
autenticidade de um voto a partir de casa ou nos núcleos mais próximos gere
mais desconfiança no que concerne a segredo de voto e autenticidade.
Além da questão da celeridade no
apuramento dos resultados, seria facilitada a mais sócios a oportunidade de
participar na assembleia eleitoral.
3 – Número mínimo de assinaturas
Os estatutos do Sporting frisam
que “as candidaturas terão de ser propostas por sócios com capacidade eleitoral
ativa que representem, pelo menos, mil votos”.
No entanto, houve dois candidatos
(Fernando Tavares Pereira e Rui Jorge Rego) que não chegaram a esse número nas
eleições. Cedo se percebeu que não teriam hipóteses, mas não desistiram e
acabaram por dispersar votos que seriam úteis para ajudar a legitimar ainda
mais o vencedor. Rui Jorge Rego teve inclusivamente um número irrisório de
votantes: 98.
Num clube grande como o de
Alvalade, o surgimento deste tipo de candidatos – que na realidade não o são… -
deverá ser combatido, e uma das formas de o combater é aumentar o número mínimo
de assinaturas.
4 – Ausência de segunda volta
Desta vez, e não me canso de o
dizer, prevaleceu o “tudo está bem quando acaba bem” porque era mais o que unia
do que o que separava Frederico Varandas e João
Benedito, os dois principais candidatos.
Felizmente para os destinos do
clube, as sondagens acabaram por ajudar a bipolarizar os votos no médico e no
antigo guarda-redes de futsal, mas não era um dado adquirido. A música poderia
ser outra se o eleitorado de José Maria Ricciardi, que apresentou ideias bem
diferentes, fosse um dos dois envolvidos na discussão.
No entanto, é preciso não
esquecer que chegou a estar em cima da mesa a possibilidade haver nove
candidatos, sendo um deles o destituído Bruno de Carvalho. Uma maior dispersão
de votos poderia bastar para que, por exemplo, um destituído fosse reconduzido meses
depois, o que não faz sentido algum.
O fantasma da falta de
legitimidade acabou por passar ao lado de Alvalade, mas nada garante que não
possa bater à porta em eleições futuras. Uma segunda volta, conforme sugerido
por Dias Ferreira, seria um reforço de democracia e consequentemente de legitimação.
5 – Ausência de dia de reflexão
Talvez o ponto menos importante
deste artigo. Porém, numa campanha com tantos candidatos e tantas ideias, não
deixa de ser estranho haver um debate entre os seis pretendes a presidente a menos
de 12 horas de as urnas abrirem.
Um voto em consciência não
deveria ter o ruído das novidades, dos trunfos e da exposição de ideias de
última hora.
Pode aceder aos estatutos do
Sporting Clube de Portugal clicando AQUI.
Varandas ao espelho: "Je suis Bruno de Carvalho".
ResponderEliminarParvo ou engraçadinho?
EliminarTriste comentário de um triste, o teu.
Porque é que obrigam os votantes por correspondência a reconhecimento notarial?
ResponderEliminarPorque é que existindo tantos núcleos essa reconhecimento não possa ser feito pela direcção do núcleo?
Ou ainda mais drasticamente porque não votar descentralizadamente nalguns núcleos (Capitais de distrito)