Está a fazer escola uma nova
fornada de treinadores portugueses que quer deixar bem vincado que as equipas
que orientam têm a impressão digital deles. Para o bem da modalidade, o registo
que querem imprimir é o de um futebol positivo, de pé para pé, de posse de
bola, de jogadas com cabeça, tronco e membros, com início do guarda-redes e
conclusão de um dos avançados.
As
premissas de que um estilo de jogo atrativo cativa adeptos a ir aos estádios, o
futebol deve ser visto como uma indústria de espetáculo e um jogador só
consegue valorizar-se com a bola nos pés dominam as mentes desta vaga de
técnicos, com Miguel Cardoso (Rio Ave) e Luís Castro (Desp. Chaves) à cabeça. E
a verdade é que dá gosto ver jogar estas equipas.
Os vila-condenses, que
recentemente afastaram o Benfica da Taça de Portugal, são o caso mais
flagrante. Já sabemos que podemos contar com uma matriz de jogo ousada,
irreverente, positivamente arrogante e que faz prometer partidas bem mais
entretidas do que as que estamos habituados a assistir por parte de conjuntos
do meio da tabela.
Neste sentido, com mais bola nos
pés, sobressai o talento das individualidades. Rúben Ribeiro e Marcelo são
alguns jogadores que já andam pela I Liga há várias épocas, mas é com 30 e 28
anos que finalmente são apontados aos três grandes. Outros, como Nélson Monte,
João Novais, Pelé e Guedes, para lá caminham, com um protagonismo que nunca antes
tinham tido. Miguel Cardoso, já fez questão de o dizer, é daqueles treinadores
que preferem morrer agarrado a uma ideia do que abdicar dela, um chavão muito
utilizado pelos peregrinos de Pep Guardiola, a referência dos técnicos desta
geração.
Contudo, o muito bem-vindo
romantismo pode tornar-se suicida se for implementado em excesso. Na verdade,
já se tornou suicida quando foi excessivo. Veja-se o exemplo da recente partida
entre FC Porto e os rioavistas, em que o golo inaugural dos dragões – e que de
certa forma condicionou o resto do encontro… -, nasce da proibição imposta aos
chutões para a frente. Este é apenas o exemplo mais recente e mais castigador,
mas o que não faltam são sustos…
Cássio, individualmente sob
pressão de um avançado e com a equipa alvo de aperto por parte de um bloco
bastante subido dos azuis e brancos, não abdica da ideia do treinador em jogar
apoiado, acabando por falhar o passe. Seguramente, um golo que o treinador da
formação de Vila do Conde não se importará de ter sofrido, pois faz parte do “morrer
agarrado a uma ideia”, mas lanço a questão: não será preferível continuar com
vida?
O continuar com vida não
significa necessariamente bloco baixo e kick
and rush. Pode ser um viver com qualidade de vida, isto é, manter a ideia
mas introduzir nuances. Reconhecer as próprias fraquezas, os pontos fortes do
adversário e, tentar ao máximo, conciliar a matriz com o resultado. O marketing pessoal e autopromoção não devem
colocar em xeque os objetivos competitivos.
Dias depois deste FC Porto – Rio Ave,
que terminou com a vitória dos visitados por 3-0, Real Madrid e Barcelona
defrontaram-se no maior clássico do futebol mundial. Frente a frente, grande
parte dos melhores executantes do planeta. Zidane e Valverde sabem bem a
qualidade dos pezinhos que os seus jogadores têm, mas não foi por isso que em
situações de muito aperto esses mesmos pés não tivessem deixado de resolver alguns
problemas com pontapé para a frente ou que cada canto a favor tivesse sido transformado
num atraso de 30 metros.
Se o chutão é para evitar? Sim,
claramente. Se é para proibir? Jamais. E marcar um golo na sequência de um canto
executado para o interior da área não pode ser encarado como algo integrante do
resultadismo, mas sim uma demonstração de versatilidade.
Mesmo sendo excessivo fica sempre bem arriscar contra equipas ditas grandes que de grande não tem nada se jogamos assim eu soi de que temos que jogar sempre assim FORÇA RIO AVE parabéns Miguel Cardoso
ResponderEliminarSou fã da filosofia imposta por Capucho, Castro e Miguel Cardoso, embora alguns pensem que não, principalmente sobre o último.
ResponderEliminarQualquer equipa deve ter uma identidade. Uma equipa só está perto de garantir vitórias se for fiel a si próprio.
Infelizmente a competição não é justa e algumas equipas têm que se recorrer de outras formas de jogar o jogo, que sendo dentro da lei são tão meritórias como outras. Claro que também são mais ou menos bonitas.
Miguel Cardoso exagera claramente na rigidez da sua ideia de jogo. Não muda nada. Para ele mudar uma coisa é mudar tudo. Eu não concordo, acredito que isso seja adaptar.
Para usar uma imagem: Faz sentido dar um lamborghini a quem não tem experiência de condução? Não, mas a verdade é que podemos dar a experiência e depois o carro.
Faz sentido dar um lamborghini a quem não tem dinheiro para o manter? Não, e não há muita gente para lhe dar esse dinheiro depois.
O Rio Ave pode jogar assim em quase todos os jogos e em quase todos os momentos, mas perante equipas mais capacitadas deve adaptar-se, até porque em terra de cegos quem tem olho é Rei e no Dragão houve muito olho no treinador da casa.
Talvez este modelo desse certo a 100% em 4 ou 5 equipa da atualidade. No Rio Ave poderá dar certo em 70 a 80% das vezes. Nos outros casos devemos reconhecer as nossas inferioridades e adaptar.
Em Conclusão: Será inteligente usar um modelo de jogo cujas fraquezas favorecem as qualidades do adversário?
Não podia estar mais de acordo. Nem diria melhor. Ideia-chave: "Miguel Cardoso exagera claramente na rigidez da sua ideia de jogo. Não muda nada. Para ele mudar uma coisa é mudar tudo. Eu não concordo, acredito que isso seja adaptar."
EliminarOutro exemplo (e podia apresentar muitos mais...):
http://www.vsports.pt/vod/39911/m/361880/vsports/b6b8b2520cac17b56c98f87e1ed29e28