Um dos melhores médios do futebol
mundial na atualidade, o italiano Nicolò Barella é um apaixonante caso de um
jogador que consegue ser imprevisível sem perder o critério. A qualidade do seu
futebol nota-se em qualquer contexto, mas fica mais exposta em casos como o do
jogo desta quarta-feira no terreno do Feyenoord
(vitória por 2-0), quando jogou sem pensadores como Hakan Çalhanoglu ou Henrikh
Mkhitaryan ao lado.
Desprovido da companhia habitual
do turco e do arménio no trio de meio-campo do 3x5x2 (ou 5x3x2) do Inter
de Simone Inzaghi, o centrocampista transalpino de 28 anos ganhou mais
responsabilidades na construção de jogo e mostrou estar uns furos acima de Kristjan
Asllani e Piotr Zielinski na arte de levar a equipa para a frente. Tomando sempre boas decisões, que
faziam os nerazzurri
progredir com a bola no relvado da banheira de Roterdão, raramente tomava as
óbvias: aqueles passes seguros, mas pouco verticais de cinco metros. Em vez
disso, desenhou linhas de passe que até através da transmissão televisiva eram
difíceis de descortinar, desbloqueando a pressão alta dos neerlandeses e
fazendo o esférico chegar a zonas adiantadas. Concluiu o jogo com 82% de passe
(acertou 31 em 38), uma percentagem não invejável, mas ainda assim muito alta,
alcançada com arrojo e não com passes laterais ou atrasados. Com um raio de ação muito
alargado, tanto aparece junto da própria área, desresponsabilizando os centrais
de um papel tão ativo na construção de jogo, como mais à frente a envolver-se
nas fases terminais das jogadas de ataque. Foi – e tem sido – comum vê-lo a
fazer permutas com o ala direito, aparecendo no corredor lateral e permitindo
que Denzel Dumfries se solte para terrenos mais interiores ou até mesmo para a
zona de finalização. Além de pensar bem e de conseguir
ver fora da caixa, também tem o requinte técnico necessário para colocar efeito
à bola e fazê-la contornar cirurgicamente os adversários e chegar ao destino. E
nem seria necessário ter sido ele a fazer a assistência para o primeiro golo,
um cruzamento preciso ao qual Marcus Thuram deu a melhor sequência, para
validar todos estes elogios.
Mesmo não sendo um jogador que
jogue particularmente perto da área contrária, está no top 10 de futebolistas
com mais assistências (cinco) e passes-chave [passes para finalização] por jogo
(1,8) da Serie
A nesta época. Além de tecnicamente evoluído, é
também um médio que tem a tal intensidade e agressividade de que tantas vezes
se fala, mostrando ter uma capacidade física para correr constamente de área a área
e uma ética de trabalho que não lhe permite virar a cara à luta.
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