Tedros Adhanom Ghebreyesus lidera a OMS |
Ainda mal se falava na
administração de uma terceira dose de uma vacina contra a covid-19
e já o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom
Ghebreyesus,
avisava de que a solução não passava por aí, mas sim por bons níveis de
cobertura vacinal à escala mundial, incluindo necessariamente nos países mais
pobres. O
mesmo apelo já tinha sido feito quando se pensou em vacinar os mais jovens.
Além
de uma questão de equidade, o responsável máximo da agência especializada
das Nações Unidas (ONU) defendia que, para derrotar a pandemia, importava que
não existissem países/regiões sem cobertura vacinal em larga escala, para
não dar tempo nem espaço para o surgimento de novas variantes nesses territórios.
Ninguém lhe deu ouvidos. Talvez
por Ghebreyesus ser etíope (e, consequentemente, africano), terá sido olhado
pela Comissão Europeia e pelos países fora da União Europeia como uma espécie
de juiz em causa própria. Ou então, talvez os governantes tivessem sentido que
seria complicado explicar aos seus eleitorados que deixariam de vacinar
localmente para enviar vacinas para os países mais pobres.
Os países mais ricos limitaram-se
a cumprir uma espécie de mínimos olímpicos da diplomacia, ao enviar para a
COVAX, iniciativa da OMS que trabalha para a aquisição e posterior distribuição
de vacinas contra covid-19
para os países mais pobres, aquilo
a que podemos designar de restos. Nos últimos meses, a
organização tem alertado que, por exemplo, as vacinas chegam a África já
bastante perto do prazo de validade. E mesmo quando chegam a tempo, é
praticamente impossível respeitar os timings
de intervalos que são cumpridos nos países europeus, o que leva a um maior
espaçamento entre a primeira e a segunda dose.
Contudo, o surgimento da variante
Ómicron na África do Sul, um país de um
continente que no final de dezembro tinha menos de 7% da população totalmente
vacinada, vem de certa forma confirmar a tese há vários meses defendida por
Tedros Adhanom Ghebreyesus.
Ainda assim, a disseminação
massiva da Ómicron, que
ao que tudo indica é mais contagiosa do que a Delta, não mudou
mentalidades, apesar de em muitos países europeus se estar a assistir a um
impensável retrocesso no alívio das restrições, incluindo
em Portugal, onde bares, discotecas, creches e escolas foram encerrados a
seguir ao Natal. Agora, já se fala em quarta dose, com
Israel a tornar-se uma vez mais no primeiro país do mundo a decidir reforçar o
esquema vacinal.
Mas, se em vez de se pensar em
sucessivas doses de reforço, que tal seguir finalmente a recomendação do diretor-geral
da OMS?
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