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Adeptos do Vitória de Setúbal vivem dias de sofrimento e revolta |
Se na
I
Liga o contrato de direitos televisivos e pouco mais dava para cobrir o
orçamento da SAD e o ativo que é um plantel de futebol profissional dava alguma
esperança em inverter uma realidade de muitos milhões (quantos serão afinal?)
de passivo, no terceiro escalão do futebol português o único passo possível a
dar – já dava para ver e a cada dia que passa se percebe melhor – é rumo ao precipício.
Não sou especialista em questões
jurídicas e económicas, mas uma coisa me parece inevitável: a insolvência da
SAD. Enquanto escrevo estas linhas, até temo que a insolvência surja mais rapidamente
do que este artigo na Internet. Essa insolvência ditará o fim da linha da
equipa que está a disputar o
Campeonato
de Portugal e, consequentemente, uma dura e longa sanção por parte da FIFA.
Ou seja, se o
Vitória
Futebol Clube quiser voltar a estar representado nos campeonatos nacionais,
terá de esperar uns bons anitos.
O problema é que o
Vitória
Futebol Clube, tal como a SAD à qual está ligado, também vive uma situação
financeira bastante difícil de reverter. São demasiadas dívidas e demasiada
incapacidade para responder a despesas correntes num contexto pandémico que
ameaça durar demasiado tempo.
Esta é, por isso, a crónica de
uma refundação anunciada. Os integrados que comecem a pensar no
modus operandi, porque os apocalípticos
mais cedo ou mais tarde terão de se render às evidências. O
Vitória
é um monstro, mas de há uns anos para cá que é um monstro a viver dentro de um
colete de forças.
O único senão é a possibilidade
de a
Vitória
SAD ganhar o recurso que a recoloque na
I
Liga. Mas será que vai haver uma decisão em tempo útil? Se a SAD for
declarada insolvente antes, uma decisão favorável reverteria para quem? Ou
melhor: se a SAD for declarada insolvente antes, o recurso cairá automaticamente?
Seja como for, convém arregaçar
as mangas e arrepiar caminho, criando com a máxima urgência uma associação de
vitorianos
a pensar na possível – ou até mesmo provável – queda do clube. O
Desportivo
das Aves fez o mesmo para manter a secção de voleibol num nível elevado e
contornar as sanções da FIFA no que concerne ao futebol, tendo em vista uma fusão
entre o clube original e a nova associação a longo prazo.
Também em Portugal, existe a
Associação
Farense 1910, criada em 2016 para o que der e vier, mas que por enquanto tem
funcionado como equipa satélite do
Farense
original. Mais perto de Setúbal, em Évora, o Lusitano local criou a Associação
Lusitano de Évora 1911 devido ao litígio com a SAD, de forma a não impedir que
a equipa da nova associação possa defrontar a da SAD caso venham a disputar a
mesma competição. Se o
Vitória
seguir o mesmo caminho, poderá pelo menos manter a equipa de andebol na
I
Liga caso a SAD caia e o clube sobreviva durante mais uns anos.
A secção de futebol teria assim
um caminho difícil e ainda longo pela frente, mas não impossível de percorrer. O
Parma
em Itália e o
Rangers
na Escócia foram obrigados a renascer das cinzas e estão agora nos
principais campeonatos dos seus países, mas em Portugal também há exemplos
animadores: o
Arouca
saiu dos distritais em 2007 e chegou à
I
Liga em 2013 (seis anos), o
Tondela
saiu dos distritais em 2005 e chegou à
I
Liga em 2015 (10 anos), o
Famalicão
caiu nos distritais em 2008 e voltou à
I
Liga em 2019 (11 anos) e o
Farense
recomeçou nos distritais em 2006 e atingiu a
I
Liga em 2020 (14 anos). O próprio Académico Viseu teve de renascer das
cinzas em 2005, atingiu a
II
Liga em 2013 e esteve perto de subir ao primeiro escalão em 2018. E estamos
a falar de clubes sem a massa adepta, a história e o potencial do
Vitória.
Ainda assim, e porque este tipo
de decisões também são tomadas com o coração, ficariam a faltar as respostas a
um imenso mar de interrogações: quem definiria os estatutos do novo
Vitória:
a atual direção, o Conselho
Vitoriano
ou uma comissão de
vitorianos?
Conseguiria haver consenso num clube que tem estado tão dividido? Os sócios
iriam aceitar o novo
Vitória
como o
Vitória
deles? A Câmara Municipal reconheceria a nova associação como o novo
Vitória
e continuaria a disponibilizar o
Estádio
do Bonfim? As empresas reconheceriam a nova associação como o novo
Vitória
no momento de avançar para um patrocínio?
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