André Horta, no meu entender, o melhor em campo |
Quando, aos 70 minutos, Yazalde
colocou o Rio Ave em vantagem, os adeptos do Vitória, ao olhar para o relógio,
lá iam dizendo para o companheiro do lado que se chegassem ao empate já seria bom.
Afinal, antes de marcar, os
vila-condenses tinham disposto de duas boas oportunidades e estavam melhor no
jogo. E estavam a mostrar, também, possuírem uma equipa de um nível
ligeiramente superior, com jogadores experientes, juntos há vários anos e,
especialmente, de qualidade acima da média. Basta dizer que a maioria seria titular
na turma de Quim Machado.
No entanto, o empate que aos 70
minutos era visto como bom, aos 86 nem passava pela cabeça dos adeptos sadinos,
quando festejaram o golo de Suk, que dava a reviravolta. Aos 80’, André Claro
tinha empatado de grande penalidade.
Na cabeça dos setubalenses, já se
faziam as contas: Sete pontos em três jornadas; a Académica e o Moreirense,
ainda a zero, defrontam Sporting e Benfica, respetivamente; com um bocado de
sorte, a liderança no final da ronda.
Cedo demais. Os rioavistas ainda
alcançaram a igualdade, por André Vilas Boas, na sequência de um livre lateral
(90’), para frustração para os do Bonfim.
Rio Ave melhor, Vitória mais perigoso
Depois de ter jogado diante de
Boavista e Académica, que lutam pela permanência na Liga, o Vitória teve no
candidato europeu Rio Ave o duelo mais exigente das três primeiras jornadas.
O que a teoria perspetivava, a
prática confirmou. Os vitorianos sentiram dificuldades em impor o seu futebol
de transições ou até mesmo quando tentaram um jogo mais apoiado. Suk não
conseguiu ganhar tantas bolas divididas como nos encontros anteriores e nem
sempre esteve bem apoiado por André Claro, que também esteve mais apagado. E do
outro lado encontraram uma equipa madura, organizada, ambiciosa no seu modelo
de jogo e com jogadores com qualidade e capacidade física para interpretarem
esse modelo, a fazerem circular o esférico de pé para pé e a conseguirem coloca-lo
nas costas da defesa adversária.
O Rio Ave deu a entender estar
sempre (até aos 80 minutos) por cima do encontro, conseguindo jogar no
meio-campo adversário mas sem criar perigo. Raeder terá feito, no máximo, uma
defesa complicada. Já o Vitória, que aparentava não estar tão tranquilo, era quem
dispunha das principais ocasiões.
Fig. 1 - Nove contra cinco na área sadina |
Parece estranho que quem
dominasse e que quem criasse mais perigo não fosse a mesma equipa. Mas
tal
encontra alguma justificação ao analisar a postura defensiva do Vitória, sempre
com as linhas (4x4x2 ou 4x3x1x2 caso André Horta saísse a pressionar) muito
juntas, garantindo assim superioridade numérica e redução do espaço ao adversário.
A fig. 1 (aos 8 minutos) ilustra bem a forma harmónica, solidária e compacta
como os homens do Sado defendiam a sua baliza.
Obviamente que, com jogadores já
amarelados, cansaço e várias desconcentrações, os rioavistas foram criando
perigo no segundo tempo, culminando as ameaças com o golo de Yazalde. Ainda
assim, há que salientar como é importante para Quim Machado a defesa da sua
baliza. Dou dois bons exemplos: na primeira parte, num lance de bola corrida,
Suk foi visto perto da sua área a fazer um desarme; nos cantos, todos os
jogadores da equipa estão na área e, à moda antiga, vê-se Nuno Pinto a proteger
o primeiro poste [ver vídeo abaixo].
Ficha de jogo
I Liga – 3.ª jornada
Estádio do Bonfim, em Setúbal
Vitória (4x1x3x2): Raeder; William Alves (Miguel Lourenço, 75),
Frederico Venâncio, Rúben Semedo e Nuno Pinto; Paulo Tavares c (Arnold, 73);
Costinha, André Horta e Ruca (Dani, 61); Suk e André Claro
Suplentes não utilizados: Miguel
Lázaro (GR), François, Vasco Costa e Uli Dávila
Treinador: Quim Machado
Disciplina: Cartão amarelo
a William Alves (8), Paulo Tavares (38), Nuno Pinto (42) e Frederico Venâncio
(72)
Rio Ave (4x2x3x1): Cássio; Lionn, Aníbal Capela, André Vilas Boas c e Marvin Zeegelaar; Wakaso e Filipe Augusto; Ukra
(Kayembe, 59), Bressan (João Novais, 82) e Héldon; Guedes (Yazalde, 64)
Suplentes não utilizados: Rui
Vieira (GR), Pedrinho, Edimar e Roderick
Treinador: Pedro Martins
Disciplina: Cartão amarelo
a Wakaso (19), Marvin Zeegelaar (74), Kayembe (77) e Cássio (79)
Árbitro: Jorge Sousa (AF Porto), assistido por Bertino Miranda e Álvaro
Mesquita e com Hélder Lamas como 4.º árbitro
Golos
0-1, por Yazalde (70). Héldon
passou como quis por William Alves no corredor esquerdo e cruzou para o segundo
poste, onde Yazalde apareceu a finalizar no espaço entre Rúben Semedo e Nuno
Pinto.
1-1, por André Claro (80, g.p.).
André Horta foi progredindo pelo corredor esquerdo, onde foi encontrando
espaço, e desmarcou Costinha nas costas da defesa vila-condense. Costinha
acabou por derrubado por Cássio à entrada da área e foi assinalada uma grande
penalidade. André Claro bateu o livre para o meio da baliza, mas Cássio
atirou-se para o seu lado direito.
2-1, por Suk (86). Canto
na esquerda marcado por Costinha, de pé direito. A bola vai para o coração da área
onde Suk, de cabeça, a desvia para o segundo poste, onde aparece Frederico Venâncio
a cabecear a trave. Contudo, na recarga, o coreano cabeceou para o fundo das
redes.
2-2, por André Vilas Boas
(90). Livre na direita marcado por Filipe Augusto, de pé esquerdo, e bola para
o interior da área onde André Vilas Bolas se antecipou a Rúben Semedo e
cabeceou para o empate.
Estatísticas (Vitória-Rio Ave)
Posse de bola (%): 47-53
Ataques: 32-34
Remates: 14-12
Cantos: 3-3
Faltas cometidas: 20-14
Foras de jogo: 3-0
Apreciação individual
Raeder: Para o alemão, já é
automático: sempre que tem a bola nos pés olha para a frente e procura Suk,
tentando colocar lá o esférico. É difícil avaliar o seu desempenho, pois está
ilibado nos golos e foi poucas vezes posto à prova.
William Alves: É um pouco
duro de rins para jogar a lateral e se bater com extremos velozes. Foi o caso
do lance do primeiro golo do Rio Ave, onde Héldon passou por si como quis (70’).
Contudo, há um aspeto a ter em conta: não recorreu à falta porque estava
condicionado por um cartão amarelo que viu bem cedo (8’). Apareceu bem na área
do Rio Ave ao cabecear com perigo em duas ocasiões (27’ e 48’).
Venâncio parte do coração da área para atacar 2.º poste |
Frederico Venâncio: Jogo
de grande sacrifício, uma vez que teve de jogar grande parte do encontro com a
cabeça ligada. Esteve sempre mais concentrado que o seu companheiro de setor e
ainda foi presença assídua na área rioavista em cantos e livres laterais,
atacando na maioria das vezes o segundo poste.
Rúben Semedo: Não ficou
muito bem na fotografia no lance do 0-1, pois Yazalde andou sempre perto de si
no decorrer da jogada (70’). Voltou a estar mal no 2-2, ao deixar-se antecipar
por André Vilas Boas (90’). Já antes tinha sentido dificuldades para travar
Guedes, ora em velocidade, ora pelo ar.
Nuno Pinto: Apontou um
conjunto de cruzamentos perigosos e conseguiu secar Ukra. Acusou algum desgaste na parte final do encontro.
Paulo Tavares: Homem de
passes precisos, mas também agressivo no aspeto defensivo. Creio que é um luxo
para o Vitória ter um médio-defensivo das suas características, embora os
adeptos, bem exigentes, lhe peçam para soltar a bola mais rapidamente. Tal como
em Coimbra, foi amarelado ainda na primeira parte e, para não correr o risco de
ser expulso, subiu alguns metros depois da entrada de um trinco – desta vez
Dani. Acabou por sair aos 73’, com o 0-1 no placard,
quando a equipa precisava de mais dinâmica ofensivamente.
Costinha: Vai-se sentido
cada vez mais confiante. Dá para ver, pelos lances individuais e pelas combinações
em que entra. Embora tivesse atuado na ala direita, apareceu muitas vezes no
meio, a tentar criar superioridade numérica nessa parte no terreno e a fugir de
Marvin Zeegelaar, bem mais poderoso e rápido, com quem travou por diversas
vezes uma luta desigual. Numa dessas aparições por zonas alheias, ganhou a
grande penalidade (80’).
André Horta: Não foi quem
sofreu nem quem converteu o penalty,
mas teve muito mérito no lance do 1-1. Mesmo em esforço, progrediu sozinho pela
esquerda e desmarcou Costinha na área rioavista (80’). Foi crescendo no jogo à
medida que este se desenrolava, levando a equipa para a frente especialmente no
segundo tempo, utilizando a sua técnica, raça e visão de jogo. Foi o médio que mais
pressionou – algo estrategicamente definido - e ainda assim teve pulmão para os
90 minutos. No meu entender, o melhor jogador do Vitória em campo. Estranho não
ter sido convocado para os sub-21…
Ruca: Executou dois
excelentes cruzamentos que, Suk (16’) e William Alves (26’), respetivamente,
desperdiçaram. Fechou muito bem o corredor esquerdo, funcionando praticamente
como segundo lateral. Faltou-lhe, contudo, a acutilância que Costinha foi tendo
faseadamente no lado direito e, por isso, somou, ao terceiro jogo, a terceira
substituição.
Suk está a fazer um grande início da época |
André Claro: Perde muitas
vezes a bola e nem sempre decide bem, mas os adeptos perdoam-no, porque sabem
que dos mesmos pés surgem várias ocasiões de golo. Revelou frieza na marcação
da grande penalidade, ao chutar para o centro da baliza (80’).
Dani: À terceira jornada,
participou no terceiro jogo na condição de suplente utilizado. Acrescentou
alguma experiência e, com a sua entrada, o médio mais defensivo (que antes era
Paulo Tavares) deixou de estar amarelado.
Arnold: Algumas acelerações
no corredor direito foi o que deu para ver do extremo congolês durante um
quarto de hora.
Miguel Lourenço: Rendeu o
já amarelado William Alves no lado direito da defesa. Apenas preveniu males
maiores, pois pouco podia acrescentar porque foi um central adaptado a lateral
a substituir um central adaptado a lateral.
Outras notas
Fábio Pacheco, médio-defensivo
que jogou os dois primeiros encontros na Liga adaptado a central, falhou o
encontro devido a expulsão por acumulação de amarelos na partida com a
Académica.
O médio saudita Abdulaziz
Al-Mansour fez treino condicionado durante a semana.
Já era esperado que Ricardo não
integrasse os 18 da ficha de jogo. Mas continua sem figurar nesse lote Diego,
Gorupec, Elhouni e El-Gadi, só para citar alguns. E o que se passou com
Zequinha, quem nem no banco esteve?
3.079 espetadores no Bonfim. Um retrocesso em relação ao jogo com o Boavista (3.300) e bastante aquém dos 5 mil que Quim Machado
pedia.
‘Opta Vitória’
O Rio Ave apenas conseguiu uma
vitória nas últimas onze deslocações ao Bonfim para a Liga. Foi a 25 de
novembro de 2012, tendo vencido por 5-3. Nos restantes novo embates: sete
triunfos sadinos e três empates.
Quim Machado ainda não venceu no Bonfim |
Miguel Lourenço foi o 17.º
jogador utilizado por Quim Machado nesta edição do campeonato.
Raeder, Frederico Venâncio, Nuno
Pinto e Suk são os únicos totalistas do Vitória na Liga: 270 minutos.
A última ocasião em que o Vitória
somava cinco ou mais pontos à 3.ª jornada foi em 2004/05. Nessa altura, já
tinha sete, com José Couceiro no comando técnico.
Suk e André Claro têm três golos
quando estão apenas decorridas três jornadas. O último jogador a poder gabar-se
de tal façanha pelos sadinos foi Hugo Henrique, em 2001/02.
Última época em que o Vitória
tenha marcado oito (ou mais) golos nas três primeiras rondas? 1983/84. Valeram,
na altura, os tentos de Jorge Plácido (3), Carlos Freire (2), Formosinho, Jorge
Roçadas e Luís Sobrinho.
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