Hoje faz anos um dos rostos do Apito Dourado. Quem se lembra do ex-árbitro Jacinto Paixão?
Jacinto Paixão apitou na primeira categoria entre 1996-97 e 2003-04
Um dos rostos do Apito Dourado,
um árbitro acusado de manipular resultados de jogos a favor do FC
Porto e em prejuízo do Benfica
na I
Liga nas épocas 2002-03 e 2003-04. O caso caiu em saco roto, com os dragões
e os seus mais altos dirigentes a passarem impunes na justiça, mas a vida deste
juiz eborense nunca mais foi a mesma.
Natural de Redondo e operador de
máquinas e funcionário da Adega Cooperativa de Reguengos de Monsaraz, iniciou a
carreira de árbitro na Associação
de Futebol de Évora em 1988-89 e esteve na primeira categoria entre 1996-97
e 2003-04. Era conhecido pela forma
arrogante e autoritária de estar em campo e de se relacionar com os jogadores e
nunca chegou a internacional, tendo sido despromovido após ter terminado a sua
oitava temporada entre a elite no 25.º posto da tabela classificativa da APAF. Dois
anos depois, em 2006, numa altura em que já havia rebentado o caso Apito Dourado,
pendurou o apito. Foram precisamente nos seus
últimos anos na primeira categoria que se realizaram os jogos da polémica. Em
dezembro de 2002, num FC
Porto-Académica,
assinalou um penálti e um livre direto inexistentes que permitiram aos dragões
dar a volta ao resultado a vencer por 4-1. Na temporada seguinte, esteve nos igualmente
visados Benfica-Moreirense
(1-1) e FC
Porto-Estrela
da Amadora (2-0). Na véspera da partida entre os azuis
e brancos e os amadorenses,
a Polícia Judiciária escutou um telefonema entre o presidente
portista, Pinto da Costa, e António Araújo, no qual o empresário falou em “fruta”
[alegadamente prostitutas] para dar a Jacinto Paixão. Tanto o dirigente
azul e branco como o árbitro acabaram absolvidos e o caso terminou
arquivado, pois o tribunal cível considerou as escutas ilegais.
Tendo as escutas sido o principal
meio de prova, a primeira instância [na altura Comissão Disciplinar da Liga,
agora a secção profissional do Conselho de Disciplina da FPF] teve que retirá-las
como meio de prova, declarando assim como “não provada” a acusação. O que é certo é que, após jogo de
janeiro de 2004, Jacinto Paixão jantou num restaurante em Matosinhos na
companhia de… Reinaldo Teles, vice-presidente do FC
Porto. “Segui o Reinaldo Teles até a marisqueira e fiquei surpreso quando
ele se sentou na mesa. Fiquei constrangido, mas fiquei mais tranquilo ao ver
que lá estavam o António Garrido e outro árbitro. Depois apareceram o Pinto
da Costa e a sua companheira [Carolina Salgado], que ficaram numa mesa ao
lado. No final quis pagar a contar, mas disseram-me que já estava paga. Talvez
tenha sido o Reinaldo Teles ou o Pinto
da Costa. Não sei”, contou à Benfica TV em dezembro 2010, proclamando
inocência. “Fui sempre um alvo a abater e é
simples: porque sou alentejano. Estive detido uma noite, numa cela, e não sei
por quê. Matei alguém? Não. Sempre me ensinaram, desde pequeno, a ser uma
pessoa honesta. Falam-me em corrupção, mas nunca alinhei nisto. Estou um bocado
mais aliviado, mas não é fácil digerir tudo isto. Não tenho medo de ninguém,
nunca tive. Não sou nenhum coitadinho e quem cala, consente”, afirmou o antigo
juiz, repetindo na ocasião que “o calcanhar de Aquiles da arbitragem são os
observadores”, que são quem decide “a subida e a descida de escalão dos
árbitros”. Em maio de 2011 foram divulgadas
supostas confissões do então ex-árbitro a admitir ter sido corrompido pelo FC
Porto, com recurso a prostitutas, para manipular os três encontros, mas,
quando confrontado por órgãos de comunicação social, não as confirmou nem as
desmentiu.
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