Magriço e único jogador português (de gema) campeão no Brasil. Quem se lembra de Peres?
Fernando Peres somou 27 jogos e quatro golos pela seleção nacional A
Várias dezenas de jogadores
portugueses passaram pelo Brasil, mas apenas um se sagrou campeão brasileiro.
Conseguiu-o ao serviço do Vasco
da Gama em 1974, naquele que foi o primeiro de quatro nacionais dos cariocas.
Mas Fernando Peres foi muito mais do que um pioneiro no estrangeiro. Foi também
um futebolista muito importante em Portugal.
Nascido a 8 de janeiro de 1942 em
Algés e dotado de um pé esquerdo formidável, foi formado no Belenenses
e jogou pela equipa principal dos azuis
do Restelo entre 1960 e 1965, período no qual se tornou internacional
sub-18, B e A, estreando-se pela seleção
principal com um golo num empate diante de Inglaterra
em São Paulo (1-1) a 4 de junho de 1964.
No ano seguinte à primeira
internacionalização deu o salto para o Sporting,
impondo-se com bastante naturalidade em Alvalade.
Na primeira época de leão ao peito sagrou-se campeão nacional e foi convocado
para o Mundial 1966, integrando a mítica seleção
dos magriços, mas não jogou um único minuto em Inglaterra. Devido a esse
facto, tornou-se um acérrimo crítico de Manuel da Luz Afonso, o selecionador
dessa campanha, acusado de teimosia por fazer alinhar os mesmos seis do
meio-campo para a frente (Coluna, Jaime Graça, José Augusto, Eusébio,
Torres
e Simões).
Nas épocas seguintes os
desempenhos de Peres no Sporting
foram aquém do esperado. Clube e jogador não chegaram a acordo para a renovação
de contrato, pelo que o extremo acabou por representar a Académica
em 1968-69 ao abrigo da lei estudantil, que permitia que os futebolistas que
fossem estudantes se pudessem transferir para o emblema
de Coimbra. Nessa temporada ajudou a briosa
a atingir a final da Taça
de Portugal, perdida para o Benfica
no Jamor num jogo que ficou marcado por uma grande revolta estudantil. Após essa época voltou ao Sporting,
tendo estado ao mais alto nível ao longo de três anos de verde e branco, entre
1969 e 1972, período no qual apontou 48 golos em 104 jogos, sagrando-se campeão
nacional em 1969-70 e vencedor da Taça
de Portugal em 1970-71. Paralelamente, assumiu também um
lugar de relevo na seleção
nacional, deixando marca na presença na Mini Copa disputada no Brasil em
1972, prova na qual somou as últimas de 27 internacionalizações.
Com uma personalidade vincada,
defendeu publicamente o treinador Fernando Vaz após este ter sido despedido
pelo Sporting
e foi tramado pela direção leonina
então liderada por Brás Medeiros, numa altura em que havia a lei da opção, ao
abrigo da qual os clubes podiam impedir os jogadores de se transferirem.
Após um ano sem jogar (e no qual aproveitou
para treinar o Peniche),
por o Sporting
recusar as várias propostas que recebeu de clubes portugueses e estrangeiros,
ganhou nova vida com a chegada à presidência de João Rocha, que lhe propôs um
regresso ao futebol no… Brasil. Aceitou e mudou-se para o Vasco
da Gama. Apenas passou um ano nos vascaínos
e foi fustigado por lesões, mas conseguiu contribuir para a conquista do
primeiro título nacional da história dos cariocas,
em 1974. Se excluirmos destas contas os luso-brasileiros Deco (pelo Fluminense
em 2010 e 2012) e Liedson
(pelo Corinthians
em 2011), nenhum futebolista português voltou a sagrar-se campeão do Brasil. “Foram os melhores anos da minha
vida. Fui para o Rio ganhar 150 contos por mês para substituir o Tostão! Logo na
estreia, com o Tiradentes do Piauí, marquei um golo. Tecnicamente, os
brasileiros são excelentes, mas eu, como também tinha boa técnica, adaptei-me.
Ainda por cima, era mais rápido do que eles. Chamavam-me ‘tamanco de ouro’.
Tornei-me titular e campeão numa final com o Cruzeiro.
E não foi fácil. Tínhamos o Roberto Dinamite, mas havia Zico (Flamengo),
Rivellino (Corinthians),
Jairzinho (Botafogo),
Gerson (Fluminense)
e o melhor do mundo no Santos
(Pelé).
O meu dia típico no Vasco
começava muito cedo. Treinávamos logo de manhãzinha e ficava despachado às 10
horas. Depois fazia praia, em Copacabana, que ficava mesmo em frente à minha
casa, na Avenida Atlântica. À tarde e à noite tinha uma vida social intensa. É
a cidade mais maravilhosa do mundo”, contou.
Apesar do sucesso vivido no
Brasil, não resistiu às saudades da família e voltou a Portugal pela porta do FC
Porto, mas problemas físicos travaram-lhe a afirmação nas Antas, pelo que
no verão de 1975 voltou ao futebol brasileiro para representar o Sport
Recife, pelo qual venceu o campeonato pernambucano no ano de estreia, e o
Treze de Paraíba. Depois de encerrar a carreira,
aos 34 anos, voltou a Portugal para iniciar o percurso como treinador. Começou
pelo Juventude
de Évora antes de se estrear na I
Divisão ao leme da União
de Leiria. Depois passou por Vitória
de Guimarães, Estoril,
Sanjoanense,
Atlético
e Peniche,
acabando por regressar ao Sporting
em 1988 como adjunto de Pedro Rocha. Mais tarde foi comentador na Sporting
TV, tendo morrido a 10 de fevereiro de 2019, aos 77 anos.
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