sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Magriço e único jogador português (de gema) campeão no Brasil. Quem se lembra de Peres?

Fernando Peres somou 27 jogos e quatro golos pela seleção nacional A
Várias dezenas de jogadores portugueses passaram pelo Brasil, mas apenas um se sagrou campeão brasileiro. Conseguiu-o ao serviço do Vasco da Gama em 1974, naquele que foi o primeiro de quatro nacionais dos cariocas. Mas Fernando Peres foi muito mais do que um pioneiro no estrangeiro. Foi também um futebolista muito importante em Portugal.
 
Nascido a 8 de janeiro de 1942 em Algés e dotado de um pé esquerdo formidável, foi formado no Belenenses e jogou pela equipa principal dos azuis do Restelo entre 1960 e 1965, período no qual se tornou internacional sub-18, B e A, estreando-se pela seleção principal com um golo num empate diante de Inglaterra em São Paulo (1-1) a 4 de junho de 1964.
 
 
No ano seguinte à primeira internacionalização deu o salto para o Sporting, impondo-se com bastante naturalidade em Alvalade. Na primeira época de leão ao peito sagrou-se campeão nacional e foi convocado para o Mundial 1966, integrando a mítica seleção dos magriços, mas não jogou um único minuto em Inglaterra. Devido a esse facto, tornou-se um acérrimo crítico de Manuel da Luz Afonso, o selecionador dessa campanha, acusado de teimosia por fazer alinhar os mesmos seis do meio-campo para a frente (Coluna, Jaime Graça, José Augusto, Eusébio, Torres e Simões).
 
 
Nas épocas seguintes os desempenhos de Peres no Sporting foram aquém do esperado. Clube e jogador não chegaram a acordo para a renovação de contrato, pelo que o extremo acabou por representar a Académica em 1968-69 ao abrigo da lei estudantil, que permitia que os futebolistas que fossem estudantes se pudessem transferir para o emblema de Coimbra. Nessa temporada ajudou a briosa a atingir a final da Taça de Portugal, perdida para o Benfica no Jamor num jogo que ficou marcado por uma grande revolta estudantil.
 
Após essa época voltou ao Sporting, tendo estado ao mais alto nível ao longo de três anos de verde e branco, entre 1969 e 1972, período no qual apontou 48 golos em 104 jogos, sagrando-se campeão nacional em 1969-70 e vencedor da Taça de Portugal em 1970-71.
 
Paralelamente, assumiu também um lugar de relevo na seleção nacional, deixando marca na presença na Mini Copa disputada no Brasil em 1972, prova na qual somou as últimas de 27 internacionalizações.
 
 
Com uma personalidade vincada, defendeu publicamente o treinador Fernando Vaz após este ter sido despedido pelo Sporting e foi tramado pela direção leonina então liderada por Brás Medeiros, numa altura em que havia a lei da opção, ao abrigo da qual os clubes podiam impedir os jogadores de se transferirem.
 
 
Após um ano sem jogar (e no qual aproveitou para treinar o Peniche), por o Sporting recusar as várias propostas que recebeu de clubes portugueses e estrangeiros, ganhou nova vida com a chegada à presidência de João Rocha, que lhe propôs um regresso ao futebol no… Brasil. Aceitou e mudou-se para o Vasco da Gama.
 
Apenas passou um ano nos vascaínos e foi fustigado por lesões, mas conseguiu contribuir para a conquista do primeiro título nacional da história dos cariocas, em 1974. Se excluirmos destas contas os luso-brasileiros Deco (pelo Fluminense em 2010 e 2012) e Liedson (pelo Corinthians em 2011), nenhum futebolista português voltou a sagrar-se campeão do Brasil.
 
“Foram os melhores anos da minha vida. Fui para o Rio ganhar 150 contos por mês para substituir o Tostão! Logo na estreia, com o Tiradentes do Piauí, marquei um golo. Tecnicamente, os brasileiros são excelentes, mas eu, como também tinha boa técnica, adaptei-me. Ainda por cima, era mais rápido do que eles. Chamavam-me ‘tamanco de ouro’. Tornei-me titular e campeão numa final com o Cruzeiro. E não foi fácil. Tínhamos o Roberto Dinamite, mas havia Zico (Flamengo), Rivellino (Corinthians), Jairzinho (Botafogo), Gerson (Fluminense) e o melhor do mundo no Santos (Pelé). O meu dia típico no Vasco começava muito cedo. Treinávamos logo de manhãzinha e ficava despachado às 10 horas. Depois fazia praia, em Copacabana, que ficava mesmo em frente à minha casa, na Avenida Atlântica. À tarde e à noite tinha uma vida social intensa. É a cidade mais maravilhosa do mundo”, contou.
 
 
Apesar do sucesso vivido no Brasil, não resistiu às saudades da família e voltou a Portugal pela porta do FC Porto, mas problemas físicos travaram-lhe a afirmação nas Antas, pelo que no verão de 1975 voltou ao futebol brasileiro para representar o Sport Recife, pelo qual venceu o campeonato pernambucano no ano de estreia, e o Treze de Paraíba.
 
Depois de encerrar a carreira, aos 34 anos, voltou a Portugal para iniciar o percurso como treinador. Começou pelo Juventude de Évora antes de se estrear na I Divisão ao leme da União de Leiria. Depois passou por Vitória de Guimarães, Estoril, Sanjoanense, Atlético e Peniche, acabando por regressar ao Sporting em 1988 como adjunto de Pedro Rocha.
 
Mais tarde foi comentador na Sporting TV, tendo morrido a 10 de fevereiro de 2019, aos 77 anos.
 











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