A Académica venceu hoje o FC Porto por 3-0 em Coimbra e eliminou assim os «dragões» da Taça de Portugal, impedindo-os de concretizar o sonho de conquistar a competição pela quarta vez consecutiva.
Eis a constituição das equipas:
Académica
A Académica, depois de entrar com todo o gás no campeonato está agora a acumular alguns resultados menos positivos, não vencendo um jogo há mais de um mês (16 de Outubro, 1-0 ao Oriental, Taça de Portugal) e se tivermos em conta apenas partidas com equipas do principal escalão, não vence um encontro desde 26 de Setembro (4-0 ao Feirense, Liga ZON Sagres).
Ainda assim, ocupa a tranquila 7ª posição, com os mesmos pontos que o Olhanense que está em 6º.
A única ausência importante é o defesa-central Abdoulaye.
FC Porto
Os dragões apresentam-se em Coimbra sem grandes surpresas, as únicas novidades são as titularidades de Rafael Bracali (guarda-redes da Taça) e Maicon (fruto das lesões de Fucile e Sapunaru). Sem tão grande alarido, porque são jogadores habituados a jogar de inicio, Otamendi, Varela e Walter entram para os lugares que se previam que fossem de Mangala, James e Kléber.
Esta partida é fundamental para Vítor Pereira, visto que após a derrota em Chipre para a Liga dos Campeões e o empate em Olhão, uma eliminação na Taça de Portugal podia levá-lo ao desemprego.
A primeira parte não teve oportunidades de golo e grandes motivos de interesse, disputou-se a um ritmo muito lento, mesmo com muito tempo útil, de tal forma que o árbitro praticamente não deu descontos.
O jogo foi sempre equilibrado, e o único remate que levou relativo perigo foi por Adrien Silva aos 23’, que passou uns bons metros acima da trave.
Nos primeiros 45 minutos, a Académica optou maioritariamente por atacar pelo flanco esquerdo, aproveitando a inexperiência de Maicon na lateral.
A segunda metade foi diferente, as equipas entraram com uma atitude diferente, mostraram vontade de marcar e vimos mais ocasiões em poucos minutos logo a seguir ao recomeço, como um remate de Hulk para defesa apertada de Ricardo ou um remate de Pape Sow à malha lateral.
Depois, aos 58’, aconteceu o primeiro de vários acontecimentos que desmoronou o FC Porto. Quem acompanha a minha opinião sabe que sou um adepto confesso do talento de James Rodríguez, mas ao colocá-lo em campo quase que para a posição de “10” para retirar Belluschi, a equipa perdeu um elo de ligação entre os sectores, alguém que ajudasse João Moutinho a transportar a bola do meio-campo defensivo para o ofensivo e ganhou um homem na frente para tentar gerar desequilíbrios, mas de que vale isso se a formação perdeu capacidade de fazer com que o esférico pisasse esses terrenos?
No minuto seguinte, Éder apareceu isolado por Sissoko mas Alvaro Pereira fez um corte decisivo e na quase na sequência do lance, do outro lado do campo, Hulk volta a rematar para defesa de Ricardo, que foi uma espécie de último suspiro dos dragões até ao que estava para vir.
E o que estava para vir eram os golos da Académica, primeiro por Marinho, a encostar ao segundo poste, sozinho e em posição regular, um passe cruzado de Sissoko pela esquerda, aos 64’.
Vítor Pereira quis dar a volta ao resultado, mas fez duas alterações que ainda pioraram a sua equipa no que concerne à construção de jogo. Varela deu lugar a Kléber e o FC Porto passou então a jogar com dois pontas-de-lança posicionais cujas características pouco ou nada acrescentam no que concerne a fazer com que a bola chegue às zonas de conclusão, e ainda trocou Moutinho por Defour, e apesar das semelhanças, o belga não tem ainda o nível do português.
Ou seja, nesta fase tínhamos uma espécie de 4-1-1-4 em que Defour pouco ou nada podia fazer na construção de jogo, os alas não tinham muitas hipóteses de poder mexer com o jogo e os avançados não tinham oportunidades porque as bolas não chegavam lá.
Quem agradeceu foram os “estudantes” que estavam sólidos a defender, estavam a conseguir sacudir a pressão, aliviar com maior ou menor dificuldade as bolas que apareciam na sua grande área e foram-se aventurando no contra-ataque, geralmente conduzidos por Sissoko, que aos 82’ conseguiu ultrapassar Maicon (que desistiu do lance para reclamar falta) e cruzou atrasado para Adrien Silva rematar para o 2-0. Segundo golo que foi uma fotocópia do primeiro, apenas mudaram os protagonistas.
A seguir ao golo sofrido, o FC Porto reagiu na marcação de um livre directo, mais uma vez por Hulk, para mais uma grande defesa de Ricardo.
Nas bancadas, as imagens da Sporttv captavam as expressões faciais de Pinto da Costa e era bem audível a insatisfação dos adeptos portistas para com o seu treinador: “Vítor, cabrão, pede a demissão!”
Os homens de Coimbra foram fazendo o seu jogo, e aos 89’, com um bom passe Éder isolou Diogo Valente que perante Bracali fez o 3-0, resultado com que a partida iria terminar minutos mais tarde.
Este, para já, foi o resultado mais negro (e não digo isto pela cor do equipamento do adversário) desde que a contestação a Vítor Pereira começou, não só pelos números, mas também por significar a eliminação precoce do FC Porto da Taça de Portugal.
Analisando as equipas, começo pela de arbitragem. Sou um crítico habitual de Bruno Paixão, mas tenho que dar a mão à palmatória, pois foi discreto e nunca prejudicou o jogo, ao contrário do que é habitual.
Quanto à Académica, penso que demonstrou organização, paciência e qualidade. Organização porque em todas as fases do jogo esteve sempre equilibrada, soube defender e atacar, conseguiu dois golos parecidíssimos e isso trata-se de uma situação muito treinada, ou então, coincidência, mas acredito na primeira opção. Paciência porque não foi atrás do ritmo lento do FC Porto na primeira parte para abrir-se em demasia, e esperou pelas oportunidades para criar perigo e marcar. Qualidade porque tudo o que fez foi devido ao valor da formação tanto individual como colectivamente, obtendo uma vitória justa e folgada perante o campeão nacional, que não perdia por tais número há mais de um ano e meio.
Ricardo esteve sempre no caminho da bola, a defesa foi organizada e não deu muitas hipóteses, Hélder Cabral foi um lateral ofensivo quando teve oportunidade, no meio-campo Pape Sow e Diogo Melo deram músculo, Adrien Silva foi o dínamo da equipa pelo centro e mostrou qualidades para dar que pensar aos dirigentes do Sporting que querem ir ao mercado contratar um jogador para a sua posição (recordo que ele está emprestado pelo clube de Alvalade), Sissoko (de apenas de 19 anos) fez o que quis de Maicon e parece ter um futuro muito promissor, Marinho marcou mas em termos de criatividade não esteve ao nível do extremo do outro flanco, e Éder, ponta-de-lança, não marcou mas fez uma assistência e também foi importante a destabilizar.
No que concerne ao FC Porto, faltou ritmo na primeira parte, os jogadores não corriam, não criaram desequilíbrios, não procuraram o golo, e na segunda metade, quando até estavam por cima, Vítor Pereira destruiu a capacidade da equipa construir jogo e retirou Belluschi de campo, colocando um homem para apoiar o ponta-de-lança, mas como já disse mais atrás, sem alguém lá atrás para transportar a bola, era impossível ela chegar a James Rodríguez para auxiliar o ponta-de-lança.
Bracali não teve culpas nos golos, Maicon foi uma nulidade, um lateral inventado, no entanto, se a solução passava por uma adaptação de um central, porque não Otamendi que já fez essa posição pelo menos na selecção argentina ou Mangala que de entre os homens do eixo defensivo do FC Porto é o mais rápido? Foi do lado do brasileiro que surgiram os dois primeiros golos da Académica e ofensivamente nada acrescentou. De resto, no que diz respeito a este sector, Otamendi falhou menos que Rolando e Alvaro Pereira já se sabe, não fez um jogo brilhante mas não sabe jogar mal.
O meio-campo nunca soube aumentar o ritmo de jogo, Varela esteve apagado, Hulk foi o mais inconformado mas ainda não está ao nível que nos habituou e Walter nem se deu por ele.
Os homens que entraram também pouco ou nada acrescentaram.