Os nove guarda-redes que conseguiram marcar golos na I Divisão |
De baliza a baliza, numa ida desesperada
à área adversária ou na conversão de uma bola parada. Ver um guarda-redes a
marcar um golo é raríssimo, mas aconteceu por 13 vezes durante as 86 edições da
I Divisão portuguesa.
Feitas as contas, em média
acontece uma vez em seis anos e meio, embora essa seja uma façanha que já não
se assiste há mais de 16 anos, desde 7 de março de 2004. O primeiro, esse,
remonta a 23 de março de 1958.
Olhando para a lista de guardiões
que faturaram no campeonato português, dois fizeram-no por… três vezes. Ou
seja, esses dois guarda-redes marcaram tantos golos na I Liga lusa quanto… Cristiano
Ronaldo em 28 jogos.
Os clubes que beneficiaram com
golos de guarda-redes foram Beira-Mar e União
de Leiria, ambos com três a seu favor. Por outro lado, Sporting
e Benfica
nunca tiveram essa sorte. Em sentido contrário, o Sp.
Braga foi o clube mais vitimado por esta raridade, tendo sofrido dois
golos.
Vale por isso a pena recordar a
restrita lista de guarda-redes que marcaram golos na I Divisão, por ordem
cronológica.
Acúrcio
Acúrcio |
O jogo que marcou a primeira
vitória de sempre do FC
Porto no terreno do Belenenses.
Depois de um autogolo de Mário Paz ter adiantado os portistas
logo aos dois minutos, pouco depois o guarda-redes dos dragões, Acúrsio,
surpreendeu tudo e todos com um remate de baliza a baliza.
“Coube a Acúrsio o golpe do
desafio. Recebendo a bola dum colega, bateu o esférico com um pontapé longo.
José Pereira saiu, e foi, de novo surpreendido, não tendo Jaburu tocado sequer
na bola. Um golpe raríssimo”, podia ler-se na crónica da revista Sport Ilustrado.
No mesmo jogo, o guardião
fraturou um braço e foi assim que defendeu a baliza dos azuis
e brancos durante a última meia hora.
Dinis Vital
Foi preciso esperar mais sete
anos para se assistir a um golo de um guarda-redes na I Divisão. Logo à 3.ª
jornada do campeonato de 1965-66, o Lusitano Évora obteve o primeiro triunfo da
temporada através de uma entrada sensacional na receção ao Barreirense.
Depois de Coró ter inaugurado o
marcador logo no primeiro minuto, o guardião Dinis Vital surpreendeu tudo e
todos logo a seguir. “O lance foi curioso. Vital pôs a bola em jogo com um
longo pontapé que a levou à baliza do Barreirense.
Bráulio pretendeu socá-la e deu-lhe o caminho da rede!”, descreveu o Diário de Notícias.
Bento
Se em 1965 o Barreirense
sofreu um golo de baliza a baliza, cinco anos depois foi beneficiado por um,
apontado pelo lendário Manuel Bento, então um jovem de 21 anos a dar os
primeiros passos no emblema
do Barreiro. Numa fase em que o jogo com a Académica estava empatado a um
golo, o futuro guardião do Benfica
encheu o pé e bateu Viegas.
“Um golo invulgaríssimo: depois
de ter encaixado a bola, o guarda-redes do Barreirense
bateu-a no solo e, perto do limite frontal da sua grande área, pontapeou-a, com
muita força, na direção do meio-campo antagonista. Talvez até por influência do
vento, o esférico foi cair na linha média da Académica – e com tal força que
nenhum jogador de qualquer dos lados tentou disputá-lo. Pareceu, pois, que ele
iria ser recolhido por Viegas, que, entretanto, abandonara as suas redes,
saindo ao encontro da bola. Mas Viegas adiantou-se demais e, apenas com aquele
toque no terreno, a bola passou-lhe por cima, muito por cima, e entrou nas
balizas da briosa, dando origem a grandes manifestações de regozijo dos
jogadores barreirenses,
para com o seu feliz guarda-redes”, descreveu o jornal A Bola.
Azevedo
Num jogo entre duas equipas na
cauda da tabela classificativa, o fator surpresa e o vento sopraram a favor do
Oriental, que se colocou em vantagem à passagem do quarto de hora por
intermédio de um golo do seu guarda-redes.
“Azevedo e o vento e depois o
alento”, era o título da crónica do jogo no Diário
de Notícias. “Colocando a bola na frente com um pontapé longo e beneficiando
do vento o keeper do Oriental acabou por
marcar o primeiro golo da partida, uma vez que Aníbal deixou que o esférico
batesse junto à baliza à sua guarda, tocando-lhe já sobre a linha de golo de
encontro à barra, acabando por entrar”, podia ler-se na descrição do golo.
Quim
Foi preciso esperar mais 15 anos
para assistir a novo golo apontado por um guarda-redes na I Divisão. O obreiro
do feito foi Quim, guardião do Beira-Mar que antes do jogo até teve de passar
por um momento caricato, tendo sido obrigado a trocar de camisola – uma verde
por outra azul celeste - por imposição do árbitro Sepa Santos.
Depois, ao 41.º minuto da
primeira parte, teve lugar o momento alto da tarde. “Aconteceu o insólito. O
guarda-redes Quim (Beira-Mar) marcou um golo ao seu colega da baliza contrária,
Lúcio, do Tirsense. Lance que deu a vitória aos aveirenses, tornando-se
necessário recuar muito no tempo para se constatar situação semelhante”,
escreveu o Diário de Notícias.
Guy Hubart
Foi preciso esperar seis décadas
desde a implementação da I Divisão para se registar um golo de um guarda-redes
sem ser de baliza a baliza. E também não foi na conversão de uma grande penalidade ou de um livre direto, mas sim de cabeça. Nunca mais aconteceu tal coisa no campeonato português.
A façanha foi da autoria do belga
Guy Hubart, que nos últimos minutos de uma receção do Estrela
da Amadora ao Desp. Chaves, face à desvantagem da sua equipa, subiu à área
adversária num pontapé de canto e saltou ao segundo poste mais alto do que toda
a gente para dar o empate aos amadorenses, então orientados por Fernando
Santos.
Miroslav Zidnjak
Pela primeira vez, um
guarda-redes marcou mais do que um golo na I Divisão. No caso deste croata,
foram três, todos na mesma temporada, no espaço de pouco mais de um mês, e
obtidos de grande penalidade, também algo inédito.
Neste jogo frente ao Marítimo,
faltavam quinze minutos para o fim e os leirienses
apenas venciam por 1-0, mas Zidnjak deixou a sua baliza deserta para marcar na
dos madeirenses.
UNIÃO
DE LEIRIA 2-3 Vitória
de Guimarães (16 de fevereiro de 1997)
Miroslav Zidnjak tomou-lhe o
gosto. Numa altura em que os leirienses
perdiam por 1-2 e faltavam apenas cerca de 15 minutos para jogar, o treinador
Quinito não voltou a hesitar e escolheu o seu guarda-redes para bater o
penálti. E o croata voltou a converter em golo.
UNIÃO
DE LEIRIA 1-2 Sp.
Braga (2 de março de 1997)
Como não há duas sem três,
Zidnjak marcou o terceiro golo nessa época no espaço de pouco mais de um mês –
nem Cristiano
Ronaldo fez melhor em 2002-03, a única temporada do internacional português
na I Liga portuguesa. Nesta receção ao Sp.
Braga, inaugurou o marcador pouco depois da hora de jogo. O problema foi
que depois sofreu dois golos.
Palatsi
Mais um guarda-redes do Beira-Mar
em evidência, dez anos depois de Quim. Os aveirenses perdiam por 2-0 em Braga
quando o guardião francês aproveitou a ausência de Lobão e foi chamado a bater
uma grande penalidade, tendo-a convertido em golo. Um golo que ajudou a formação
de Aveiro a sair do Minho
com pontos.
BEIRA-MAR 3-1 União
de Leiria (7 de janeiro de 2001)
Na jornada seguinte, mais um
golo. Quantos guarda-redes marcaram golos em jornadas consecutivas na I Liga portuguesa? Um: Jerôme Palatsi. Com os aveirenses a vencer em casa por 1-0, o
guardião francês foi novamente chamado a converter um penálti à passagem da
meia hora e voltou a marcar, dilatando a vantagem.
“A única ciência que existe é
partir para o lance concentrado e de cabeça fria. Tudo o resto é secundário.
Quando fui para marcar, tentei esquecer tudo. Olhei para o guarda-redes para ver
o que ele fazia e procurei rematar forte. Como consegui, hoje o mister voltou a
depositar confiança em mim. Nos treinos costumo marcar alguns penalties”,
afirmou depois do encontro.
Moreirense 1-1 VITÓRIA
DE GUIMARÃES (7 de março de 2004)
Ricardo
Na mente de todos os adeptos de
futebol em Portugal está ainda o golo de Ricardo que se seguiu à defesa sem
luvas no desempate por grandes penalidades entre a seleção nacional e a congénere
inglesa no Euro 2004. Mas um ano antes, ainda no Boavista, o guarda-redes
internacional português marcou o único golo oficial da sua carreira,
convertendo um penálti na vitória caseira dos axadrezados sobre o Beira-Mar.
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