quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Fez-se internacional no Portimonense, foi diretor do Sporting e treinou em seis países. Quem se lembra de Norton de Matos?

Norton de Matos brilhou no Portimonense entre 1981 e 1984
Já fez de tudo no futebol: jogou, treinou, dirigiu, formou e até comentou. Apesar da versatilidade, nunca terá atingido noutra função o nível que alcançou enquanto futebolista, uma vez que chegou a ser internacional A e foi um dos primeiros portugueses a ter sucesso no estrangeiro.
 
Sobrinho-neto do general José Norton de Matos, nasceu a 14 de dezembro de 1953 em Lisboa e começou a jogar futebol nas camadas jovens do Estoril, mas foi no Benfica que concluiu a formação e se tornou internacional jovem por Portugal.
 
Quando transitou para sénior, inicialmente integrou a equipa de reservas dos encarnados, mas em 1973-74 foi emprestado à Académica, tendo aproveitado para frequentar o curso de Direito na Universidade de Coimbra, seguindo assim uma tradição familiar. Contudo, o reitor era salazarista e não guardava boas recordações do tio-avô de Luís Norton de Matos, um dos principais opositores de António de Oliveira Salazar, o que obrigou o então reforço da Briosa a adiar os planos académicos. Curiosamente, foi precisamente durante essa temporada que aconteceu a Revolução dos Cravos.
 
Ainda sem espaço no plantel do Benfica após a cedência, prosseguiu a carreira no Estoril e posteriormente no Atlético, clube no qual teve uma primeira experiência como treinador em 1976-77, ao integrar uma comissão técnica formada com Franque, Mário Wilson (filho) e Nelo até à chegada do novo timoneiro, o ex-defesa benfiquista Artur Santos.
 
Após a descida dos alcantarenses à II Divisão aceitou o convite de António Medeiros, que já o havia orientado na Amoreira, e transferiu-se para o Belenenses.
 
Depois de um ano no Restelo, o avançado transferiu-se para os belgas do Standard Liège no verão de 1978 e, ao longo de três épocas, tornou-se um dos primeiros portugueses a ter sucesso no estrangeiro, tendo vencido uma Taça da Bélgica em 1980-81, ainda que não tivesse jogado na final, diante do Lokeren (4-0).
 
 
Na Bélgica deu de caras, também, com um… mundo novo: “Em Portugal só havia dois canais que acabavam a programação à meia-noite com o hino nacional e eu tinha uma televisão a preto e branco. Chego a Liège e deparo-me no quarto de hotel com uma televisão a cores, com 16 canais. Eu passava horas à frente daquela caixa mágica. E quem me visitava também! Aquilo era um mundo novo. E o vídeo? Comprei uma BetaCam, um aparelho de vídeo que gravava. E eu gravava tudo. Imagine: futebol, música e outros programas. Gastei muito dinheiro na compra de cassetes. Mais surpresas: havia McDonald’s e Coca-Cola.”
 
No que concerne ao futebol e a toda a sua envolvente, também encontrou diferenças abismais. “Mal assinei pelo Standard, recebi da Adidas três pares de chuteiras com pitons de alumínio, outras três com pitons de borracha, fatos de treino, sapatilhas, tudo e mais alguma coisa. O meu carro ficou cheio com aquela tralha toda. E eu só jogava com um par, o outro estava religiosamente guardado lá em casa. Em Portugal, era preciso juntar, juntar e juntar o dinheiro para comprarmos um par de Adidas. E isso também vale para um par de calças da Levi’s, um casaco desta marca, uma blusa da outra. A diferença entre Portugal e Bélgica era enorme. Repare: nós, jogadores do Standard, éramos requisitados uma vez por mês a ir a um centro comercial, tipo Colombo, e passar lá duas horas a dar autógrafos. Eu, por exemplo, tinha casas de fãs espalhadas por toda a Bélgica. Em Bruxelas, Antuérpia, Charleroi… clubes de fãs. Com o consentimento do clube, eles iam buscar-me a Liège e levam-me a um jantar promovido por eles. Lá, jantava ao lado deles. E discursava em francês. Depois, dava-se início à soirée com música, danças e conversa”, contou.
 
De regresso a Portugal, lançou a revista Foot nas bancas lusas, inspirada na Foot belga, e assinou pelo Portimonense. Em 1981-82 viveu mesmo, às ordens de Manuel Oliveira e depois Artur Jorge, a melhor temporada da carreira, tendo apontado 12 golos.
 
Os bons desempenhos valeram-lhe chamadas à seleção nacional A, tendo somado cinco internacionalizações entre janeiro e setembro de 1982. Num desses jogos, em Hannover diante da Alemanha de Harald Schumacher, Pierre Littbarski, Paul Breitner e Karl-Heinz Rummenigge, marcou o golo solitário na derrota da equipa das quinas então comandada por Juca (1-3).
 
 
Após três anos em Portimão, regressou ao Belenenses no verão de 1984 para mais um par de épocas no Restelo, despedindo-se dos azuis com uma derrota na final da Taça de Portugal diante do Benfica a 27 de abril de 1986 (0-2), jogo no qual partiu a cana do nariz num lance com o Veloso, quando estava pré-convocado para o Mundial do México.
 
 
 
Em 1986-87 despediu-se da carreira de futebolista, aos 33 anos, com a camisola do Estrela da Amadora, então na II Divisão Nacional.
 
Depois abraçou a carreira de treinador, começando por orientar o Atlético em 1988-89 e passando depois pela seleção nacional de sub-21, pelo Barreirense e pelo Sp. Espinho.
 
Em 1996 fez uma pausa no percurso como técnico para abraçar a função de diretor desportivo no Sporting, tendo sido o principal responsável pela contratação de dois treinadores (Robert Waseige e Mirko Jozic) e 36 jogadores (Acosta, Afonso Martins, Assis, Balajic, Bino, Carlos Miguel, César Ramirez, De Wilde, Delfim, Dominguez, Duscher, Gil Baiano, Gimenez, Hadji, Heinze, Kmet, Krpan, Lang, Leandro Machado, Luís Miguel, Marcos, Mauro Soares, Misse Misse, Nélson, Nené, Ouattara, Paulo Alves, Pedro Barbosa, Pedro Martins, Quim Berto, Quiroga, Saber, Skuhravy, Tiago, Vidigal e Vinícius). Alguns foram ótimos negócios, uns assim-assim e outros ruinosos.
 
 
Entretanto aventurou-se como comentador da RTP antes de voltar aos bancos para comandar Sp. Espinho e Salgueiros na II Liga.
 
Em 2005-06 estreou-se como treinador na I Liga ao leme de um Vitória de Setúbal que tinha acabado de vencer a Taça de Portugal, mas que vivia uma grave crise financeira, com salários em atraso. Norton de Matos recrutou vários jogadores no mercado francês, que conhecia amplamente, entre os quais os médios Siramana Dembélé e Grégory Lacombe e o atacante Oumar Tchomogo. Só dirigiu a equipa até meio de dezembro, saindo em litígio com a direção de Chumbita Nunes, mas venceu 10 dos 19 jogos oficiais que disputou, deixando os sadinos em 3.º lugar no campeonato e ainda em prova na Taça.
 
 
Depois comandou Vitória de Guimarães, Benfica B e Desp. Chaves na II Liga, os senegaleses do Étoile Lusitana e a seleção da Guiné-Bissau antes de voltar à I Liga pela porta da União da Madeira, não conseguindo evitar a descida de divisão.
 
Posteriormente orientou a seleção de sub-17 da Índia, tendo competido no Campeonato do Mundo da categoria, os indianos do Indian Arrows e as equipas B de Antuérpia, Lille e Seraing. Em Portugal, nos últimos anos treinou o Avanca nos distritais da AF Aveiro em 2021-22 e o Tirsense no Campeonato de Portugal em 2024-25. 



 




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