quarta-feira, 16 de outubro de 2024

O campeão pelo Benfica que apurou o Vitória FC para a UEFA em 1999. Quem se lembra de Pedro Henriques?

Pedro Henriques disputou 47 jogos pelo Benfica e 82 pelo Vitória FC
Hoje comentador da Sport TV, outrora um lateral esquerdo competente e regular, que somou 221 jogos e meia dúzia de golos na I Divisão entre 1994 e 2004. Somou 58 internacionalizações pelas seleções jovens e pertenceu aos quadros do Benfica e do FC Porto, mas não chegou a jogar de dragão ao peito. Acabou por ter mais sucesso com as camisolas de emblemas de dimensão inferior, como o Vitória de Setúbal ou o Belenenses.
 
Por falar em Belenenses, foi precisamente nos azuis do Restelo que começou a jogar futebol, na altura acompanhando um colega de escola. Aos 15 anos mudou-se para o Benfica apesar do interesse do FC Porto, e estreou-se nas seleções jovens, mais precisamente pelos sub-16, num torneio na Venezuela.
 
A estreia pela equipa principal dos encarnados aconteceu logo num jogo marcante, uma vitória sobre o Gil Vicente em Braga, a 25 de maio de 1994, no qual a equipa então orientada por Toni carimbou a conquista do título nacional. Pedro Henriques só jogou seis minutos, mas foi considerado campeão. “Era uma equipa do outro mundo. Quando entras lá dentro, é como se os cromos que tens na caderneta começassem a andar, a brincar e a treinar contigo”, afirmou ao Sol em janeiro de 2013, em alusão a jogadores como João Vieira Pinto, Rui Costa, Neno, Silvino, Mozer, Schwarz e Rui Águas.
 
Na temporada seguinte, já com Artur Jorge no comando técnico, só foi utilizado num jogo, uma goleada por 12-0 ao Marinhense em que até marcou um golo e fez uma assistência.
 
 
Em janeiro de 1995, perante a titularidade indiscutível de Dimas na lateral esquerda, foi pela primeira vez emprestado ao Vitória de Setúbal, tendo sido quase sempre titular durante a segunda volta do campeonato, numa época marcada pela despromoção dos sadinos à II Liga.
 
“Tive um bom desempenho e regressei ao Benfica. Entretanto, saiu o Artur Jorge, entrou o Mário Wilson e deu-me uma oportunidade. Joguei até rebentar o joelho”, contou, acerca de uma lesão sofrida numa receção ao Sp. Braga em abril de 1996. “É horroroso. Tinha tudo do meu lado. Estava a jogar bem, era titular do Benfica aos 20 ou 21 anos, ia acabar o contrato e tinha saído a lei Bosman. Ainda vivia em casa dos meus pais e tinha a possibilidade de enriquecer rapidamente, quer fosse para fora, quer ficasse no Benfica com um novo contrato, mais próximo dos jogadores da classe média. Mas rebentei o joelho todo, a recuperação foi dolorosa, chorei. O meu pai teve de meter férias para me poder levar ao Estádio da Luz porque no primeiro mês não podia conduzir. Nem podia pôr o pé no chão”, acrescentou. Ainda assim, no final da temporada teve motivos para sorrir, pois o Benfica venceu a Taça de Portugal.
 
Ainda não totalmente recuperado, aproveitou a saída de Dimas para a Juventus para reforçar a titularidade, já com Paulo Autuori como treinador, tendo regressado aos relvados numa vitória em Leiria, em setembro de 1996. “Depois há a troca do Autuori pelo Manuel José e ao fim de um ano, no mesmo dia [5 de abril], já não sei qual porque não sou supersticioso, voltei a lesionar-me no joelho, dessa vez só no menisco. Foi num jogo com o Sporting, num lance normal com o Sá Pinto, mas continuei a jogar e a treinar com o joelho todo ligado. O Manuel José tinha o El Hadrioui, mas preferia-me a mim a meio gás. Quando fomos às Antas, no dia anterior treinámos no hotel e não liguei o joelho. Estava de ténis, escorreguei e o resto do menisco foi à vida de vez. Tive de ser operado. E voltei a falhar a final da Taça”, frisou, acerca da final perdida para o Boavista no Jamor.
 

De titular em sacrifício a dispensado e... livre para assinar pelo FC Porto

Apesar dos sacrifícios, foi colocado na lista de dispensas no final da época. “Fui falar com o Toni, que era o diretor desportivo, e perguntei-lhe o que se passava. ‘epá, Pedro, sabes’. Começou com aquela conversa de enrolar. ‘Já estás’, pensei. Mas questionei-o: ‘andei aqui a treinar e a jogar lesionado, o treinador escolhia-me apesar de ter o outro que estava bom, e agora no fim da época ele fica e eu saio?’. ‘Sabes como é, é o treinador. Mas a Académica quer que tu vás para lá’. Respondi-lhe que não queria ser emprestado. ‘Tenho mais um ano de contrato, vocês ficam com o dinheiro e eu vou à minha vida’. Quando ele disse que não podia ser, fui direto: ‘oiça, se tiver de deixar de jogar, deixo. Não meto mais os pés aqui. Ainda estou em idade de voltar a estudar’. Como ele gostava de mim, ou dizia que gostava, acabou por aceitar. O Benfica não me pagou nada pela rescisão e fiquei livre”, recordou.
 
Livre para assinar por quem quisesse, foi supostamente abordado por Oviedo, Alavés e Atlético Madrid até se decidir pelo Portsmouth, então na II liga inglesa. Porém, não aceitou o pedido para treinar à experiência e acabou por rumar ao… FC Porto.
 
Apesar de ter feito o melhor contrato da carreira no emblema da Invicta, a verdade é que não chegou a estrear-se de dragão ao peito. “O plantel tinha cinco laterais esquerdos e nunca fui opção. Já nem esperava pela convocatória. Tinha quatro anos de contrato e só lá estive metade do primeiro. Às tantas fui falar com o [António] Oliveira. ‘Mister, estou aqui há três ou quatro meses e queria saber se estou a fazer alguma coisa de errado e o que devo melhorar para ser opção’. Diz ele: ‘Estás a fazer tudo bem, estou muito satisfeito, mas vieste do Benfica e tenho de ter cuidado a apostar em ti para não te queimar’. Pensei logo: ‘Pronto, está feito, tenho de me ir embora que aqui não jogo’. Foi a última vez que falei com um treinador sobre questões técnicas. E acabei por ir emprestado para Setúbal outra vez”, afirmou Pedro Henriques, titular nos derradeiros sete jogos do Vitória na I Liga em 1997-98.
 
Acabou por ficar no Vitória de Setúbal até ao verão de 2000. Em 1998-99, talvez a sua melhor temporada da carreira a nível individual, ajudou os sadinos a atingir as meias-finais da Taça de Portugal e sobretudo a apurar-se para as competições europeias depois de 25 anos de ausência. Foi mesmo da autoria do lateral esquerdo o golo que deu a vitória sobre a Académica na última jornada e que valeu a qualificação para a Taça UEFA.
 
 
A época de 1999-00 já não foi tão positiva, apesar de um golo ao Sporting (e a Peter Schmeichel) em Alvalade logo na 2.ª jornada. Na eliminatória da Taça UEFA diante da AS Roma, foi “atropelado” por Cafu na capital italiana, numa goleada histórica sofrida pelos setubalenses (0-7). Já na penúltima jornada do campeonato, viu um cartão vermelho que o tirou da derradeira ronda, na qual o Vitória viria a consumar a despromoção à II Liga.
 
 
Seguiram-se duas temporadas positivas no Belenenses, a jogar a titular e com os azuis do Restelo na primeira metade da época, e uma experiência mais negativa ao serviço do Santa Clara, em 2002-03, marcada pela descida à II Liga. “O Santa Clara tinha dinheiro, ofereceu-me muito mais do que o Belenenses, mas a mentalidade era má. Havia funcionários e jogadores com o travão de mão sempre puxado, porque se o clube ganhasse uma dimensão maior sabiam que iam cair. Era tudo pouco profissional e comecei a irritar-me. Umas vezes o relvado estava em más condições, outras o balneário não era limpo ou não havia água quente. Também havia treinos com bolas vazias. A certa altura, chutava-as para fora do campo. Fazíamos viagens de meia hora, por estradas cheias de buracos, para irmos correr para a mata. Nada daquilo fazia sentido numa equipa profissional”, contou.
 
 
 
Entre 2003 e 2005 esteve vinculado à Académica, o último clube que representou, mas só disputou 21 jogos em duas temporadas devido às lesões nos joelhos que o obrigaram a colocar precocemente um ponto final da carreira, aos 30 anos: “Sempre que era operado ao joelho, vinha a Lisboa e recuperava com o [António] Gaspar. Nesse ano, lesionei-me e a Académica não me deixou. Tinha ido buscar um novo fisiatra e o posto médico, que funcionava muito mal, estava preocupado com a imagem para o exterior. É aquela mentalidade tacanha que nós temos. Então fizeram-me uma infiltração no joelho para tratar uma tendinite que não tinha. Fui falar com o fisiatra. ‘Olhe, vocês já me rebentaram o joelho todo e, se eu continuar a ser tratado aqui, nunca mais volto a jogar futebol. Tenho três filhos, estou em fim de contrato e tenho de voltar ainda este ano, se não acabou. Vou tratar-me a outro lado’. Falei com o Nelo Vingada, que era o treinador, e ele apoiou-me. Resultado: a infiltração tinha-me danificado o tendão, que teve de ser cortado mais uma vez e ficou com um terço do tamanho normal. Quando recuperei, nunca mais fui convocado. Até os juniores e as pedras da calçada eram convocados, menos eu. E o treinador, que tinha sido meu treinador na Seleção de sub-16, até hoje não me disse uma palavra. Retirei-me e fiquei dois anos sem ver futebol.”
 
Entretanto enveredou pelo ramo do imobiliário e posteriormente tornou-se comentador da Sport TV. Famoso por soltar uns “uish”, chegou a estar um ano sem comentar jogos do Benfica devido a comentários depreciativos sobre os frangos do guarda-redes benfiquista Roberto em off the record mas que foram difundidos publicamente em julho de 2010. 







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