Pedro Henriques disputou 47 jogos pelo Benfica e 82 pelo Vitória FC |
Hoje comentador da Sport TV,
outrora um lateral esquerdo competente e regular, que somou 221 jogos e meia
dúzia de golos na I
Divisão entre 1994 e 2004. Somou 58 internacionalizações pelas seleções
jovens e pertenceu aos quadros do Benfica
e do FC
Porto, mas não chegou a jogar de dragão
ao peito. Acabou por ter mais sucesso com as camisolas de emblemas de dimensão inferior,
como o Vitória
de Setúbal ou o Belenenses.
De titular em sacrifício a dispensado e... livre para assinar pelo FC Porto
Apesar dos sacrifícios, foi
colocado na lista de dispensas no final da época. “Fui falar com o Toni,
que era o diretor desportivo, e perguntei-lhe o que se passava. ‘epá, Pedro,
sabes’. Começou com aquela conversa de enrolar. ‘Já estás’, pensei. Mas
questionei-o: ‘andei aqui a treinar e a jogar lesionado, o treinador
escolhia-me apesar de ter o outro que estava bom, e agora no fim da época ele
fica e eu saio?’. ‘Sabes como é, é o treinador. Mas a Académica
quer que tu vás para lá’. Respondi-lhe que não queria ser emprestado. ‘Tenho
mais um ano de contrato, vocês ficam com o dinheiro e eu vou à minha vida’. Quando
ele disse que não podia ser, fui direto: ‘oiça, se tiver de deixar de jogar,
deixo. Não meto mais os pés aqui. Ainda estou em idade de voltar a estudar’. Como
ele gostava de mim, ou dizia que gostava, acabou por aceitar. O Benfica
não me pagou nada pela rescisão e fiquei livre”, recordou.
Livre para assinar por quem quisesse,
foi supostamente abordado por Oviedo, Alavés
e Atlético
Madrid até se decidir pelo Portsmouth,
então na II liga inglesa. Porém, não aceitou o pedido para treinar à
experiência e acabou por rumar ao… FC
Porto.
Apesar de ter feito o melhor
contrato da carreira no emblema
da Invicta, a verdade é que não chegou a estrear-se de dragão
ao peito. “O plantel tinha cinco laterais esquerdos e nunca fui opção. Já nem
esperava pela convocatória. Tinha quatro anos de contrato e só lá estive metade
do primeiro. Às tantas fui falar com o [António] Oliveira. ‘Mister, estou aqui
há três ou quatro meses e queria saber se estou a fazer alguma coisa de errado
e o que devo melhorar para ser opção’. Diz ele: ‘Estás a fazer tudo bem, estou
muito satisfeito, mas vieste do Benfica
e tenho de ter cuidado a apostar em ti para não te queimar’. Pensei logo:
‘Pronto, está feito, tenho de me ir embora que aqui não jogo’. Foi a última vez
que falei com um treinador sobre questões técnicas. E acabei por ir emprestado
para Setúbal outra vez”, afirmou Pedro Henriques, titular nos derradeiros sete
jogos do Vitória
na I
Liga em 1997-98.
Acabou por ficar no Vitória
de Setúbal até ao verão de 2000. Em 1998-99, talvez a sua melhor temporada
da carreira a nível individual, ajudou os sadinos
a atingir as meias-finais da Taça
de Portugal e sobretudo a apurar-se para as competições europeias depois de
25 anos de ausência. Foi mesmo da autoria do lateral esquerdo o golo que deu a
vitória sobre a Académica
na última jornada e que valeu a qualificação para a Taça
UEFA.
A época de 1999-00 já não foi tão
positiva, apesar de um golo ao Sporting
(e a Peter Schmeichel) em Alvalade
logo na 2.ª jornada. Na eliminatória da Taça
UEFA diante da AS
Roma, foi “atropelado” por Cafu na capital italiana, numa goleada histórica
sofrida pelos setubalenses
(0-7). Já na penúltima jornada do campeonato, viu um cartão vermelho que o
tirou da derradeira ronda, na qual o Vitória
viria a consumar a despromoção à II
Liga.
Seguiram-se duas temporadas positivas
no Belenenses,
a jogar a titular e com os azuis
do Restelo na primeira metade da época, e uma experiência mais negativa ao
serviço do Santa
Clara, em 2002-03, marcada pela descida à II
Liga. “O Santa
Clara tinha dinheiro, ofereceu-me muito mais do que o Belenenses,
mas a mentalidade era má. Havia funcionários e jogadores com o travão de mão
sempre puxado, porque se o clube ganhasse uma dimensão maior sabiam que iam
cair. Era tudo pouco profissional e comecei a irritar-me. Umas vezes o relvado
estava em más condições, outras o balneário não era limpo ou não havia água
quente. Também havia treinos com bolas vazias. A certa altura, chutava-as para
fora do campo. Fazíamos viagens de meia hora, por estradas cheias de buracos,
para irmos correr para a mata. Nada daquilo fazia sentido numa equipa
profissional”, contou.
Entre 2003 e 2005 esteve
vinculado à Académica,
o último clube que representou, mas só disputou 21 jogos em duas temporadas
devido às lesões nos joelhos que o obrigaram a colocar precocemente um ponto
final da carreira, aos 30 anos: “Sempre que era operado ao joelho, vinha a
Lisboa e recuperava com o [António] Gaspar. Nesse ano, lesionei-me e a Académica
não me deixou. Tinha ido buscar um novo fisiatra e o posto médico, que
funcionava muito mal, estava preocupado com a imagem para o exterior. É aquela
mentalidade tacanha que nós temos. Então fizeram-me uma infiltração no joelho
para tratar uma tendinite que não tinha. Fui falar com o fisiatra. ‘Olhe, vocês
já me rebentaram o joelho todo e, se eu continuar a ser tratado aqui, nunca
mais volto a jogar futebol. Tenho três filhos, estou em fim de contrato e tenho
de voltar ainda este ano, se não acabou. Vou tratar-me a outro lado’. Falei com
o Nelo Vingada, que era o treinador, e ele apoiou-me. Resultado: a infiltração
tinha-me danificado o tendão, que teve de ser cortado mais uma vez e ficou com
um terço do tamanho normal. Quando recuperei, nunca mais fui convocado. Até os
juniores e as pedras da calçada eram convocados, menos eu. E o treinador, que
tinha sido meu treinador na Seleção de sub-16, até hoje não me disse uma
palavra. Retirei-me e fiquei dois anos sem ver futebol.”
Entretanto enveredou pelo ramo do
imobiliário e posteriormente tornou-se comentador da Sport TV. Famoso
por soltar uns “uish”, chegou a estar um ano sem comentar jogos do Benfica
devido a comentários depreciativos sobre os frangos do guarda-redes benfiquista
Roberto em off the record mas que foram difundidos publicamente em julho
de 2010.
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