“Se estiver aqui uma bomba, espero que expluda”. Quem se lembra do caso da penhora das Antas?
Pinto da Costa exaltado por penhora das Antas e a retrete do árbitro
A década de 1990 foi agitada no
futebol português, com muitos líderes carismáticos e/ou populistas a dirigir os
principais clubes e dívidas avultadas. No caso do FC
Porto, houve um episódio que cheirava particularmente mal: a penhora da
retrete do árbitro no Estádio das Antas.
O FC
Porto tinha dívidas ao fisco na ordem de 200 mil contos (1 milhão de euros)
e Pinto
da Costa desafiou o Estado ao entregar como garantia do pagamento da dívida
duas cadernetas prediais: uma relativa ao Estádio das Antas e outra referente à
retrete do balneário do árbitro. Quem não gostou da afronta foi o
governo de Cavaco Silva, nomeadamente o ministro das Finanças, Eduardo Catroga,
que através de uma repartição de finanças do Porto emitiu um auto de penhora da
retrete do árbitro. O caso foi noticiado internacionalmente e levou a que
várias figuras, como o antigo Presidente da República Ramalho Eanes, vários
presidentes de câmara e os presidentes de clubes rivais (Sousa
Cintra e Manuel Damásio) manifestassem apoio aos dragões. “Guerra”, era o que se ouvia nas
Antas. Por isso, o presidente portista convocou uma conferência de imprensa a 1
de março de 1994 para o Pavilhão Américo de Sá, com a presença de centenas de
adeptos em completa histeria e direito a transmissão em direto por parte da
televisão pública. “Peço-vos a maior serenidade porque
acabo de ser avisado de que vem a caminho do Pavilhão do FC
Porto a GNR, com o pretexto de que aqui está uma bomba. Se estiver aqui uma
bomba, espero que expluda”, gritou Pinto
da Costa, bastante exaltado, numa fase em que já estava há 12 anos no
cargo. Ao seu lado tinha o presidente da Federação Portuguesa de Futebol, Vítor
Vasques, e o presidente da Liga, Valentim Loureiro. “Enquanto existir esta penhora, o
FC
Porto não se sentará com ninguém, não negociará a dívida nem pagará um
tostão dela”, acrescentou. Na altura, estava a decorrer um
grande investimento público para receber a Expo 98, em Lisboa, o que levou logo
a acusações de centralismo por parte do presidente do emblema
nortenho. “Levem-nos o dinheiro, façam a Expo 98 e façam já a 99 e a 2000,
façam-nas todas, mas há uma coisa que daqui jamais levarão: a nossa dignidade”,
exclamou.
A meio do processo, o ministro
das Finanças decidiu substituir o Diretor Geral de Contribuições e Impostos, convidando
Próspero Luís que, ainda antes de tomar posse, assegurou que a penhora não
seria levantada e ainda colocou mais lenha na fogueira: “O Estado já tem um
Estádio Nacional por que não ter outro no Porto?” As declarações custaram-lhe o
lugar, pois Eduardo Catroga decidiu não o empossar. Antes do final desse mês, a
penhora foi levantada e a dívida foi negociada uns tempos depois através dos
lucros do totobola, tendo o árbitro voltado a ter sanita no Estádio das Antas.
Para tal contribuiu a influência de
Valentim Loureiro, que além de presidente da Liga de clubes era amigo de Pinto
da Costa e próximo do Governo PSD, que serviu de intermediário e apresentou
no 1º bairro fiscal do Porto uma garantia bancária no valor de 400 mil contos
com o seu aval pessoal e pagou 400 contos referentes à parcela de IVA e IRS,
tendo ainda conseguido renegociar o pagamento da dívida em 60 prestações.
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