domingo, 2 de maio de 2021

Carlitos: “Sp. Espinho é o meu clube e darei a vida por ele”

Carlitos ajudou Sp. Espinho a manter-se no Campeonato de Portugal
Uma das principais figuras da história recente do Sp. Espinho, fez toda a formação e está ininterruptamente no clube pelo qual, garante, dava a vida. Aos 35 anos, não jogou tanto quanto gostaria, mas continua a ser um elemento importante na transmissão da mística, da exigência e dos valores dos tigres da Costa Verde.
 
Em entrevista, faz o balanço da temporada 2020-21, fala no “duro” momento da demolição do Estádio Comendador Manuel de Oliveira Violas, recorda as passagens por emblemas como Riachense e Oliveirense e as épocas em que foi orientado por treinadores como Vítor Pereira, João Henriques ou João de Deus.
 
RUI COELHO - Esta época tem sido algo atribulada, não só pela situação da covid-19, mas também pelas coisas não terem propriamente corrido de feição ao Sp. Espinho, que sentiu bastantes dificuldades para assegurar a permanência no Campeonato de Portugal. Que balanço faz de 2020-21 em termos individuais ou coletivos?
CARLITOS - Sim, foi uma época dura. Claro que a situação da covid-19 veio complicar muito, tivemos que parar o trabalho a meio para ficarmos fechados em casa durante 15 dias, mas não é desculpa para tudo. Devíamos ter feito mais, foi para isso que assinámos pelo clube!
O balanço não foi positivo, porque não cumprimos o objetivo que era lutar pelo 1. ° lugar. Chegámos a uma fase da época em que vimos que estávamos numa situação muito má na tabela classificativa e tínhamos só uma opção, salvar o clube da descida de divisão. Graças a Deus conseguimos esse objetivo, pois era o mínimo que podíamos fazer. Em termos individuais esperava muito mais. Sinto-me bem capaz de ajudar a equipa, sei do que sou capaz, mas infelizmente as escolhas recaíram sempre por outros colegas e eu como capitão tive de trabalhar e respeitar as opções. Custou muito estar de fora e ver o meu clube a passar o que passou esta época.
 
O Carlitos esta temporada apenas atuou em pouco mais de 300 minutos em todas as competições. É o peso da idade ou sente que é capaz de ajudar mais a equipa?
Como disse na pergunta anterior, sinto-me capaz de ajudar. Mostrava isso durante a semana! Quando vir que não consigo ajudar, serei o primeiro a dizer.
 
Como tem sido trabalhar com o jovem técnico Bruno China?
O mister Bruno China veio para ajudar a equipa. Estávamos mal quando cá chegou e o grupo precisava de alguém que trouxesse compromisso e responsabilidade.
 
O Carlitos cresceu com o Sp. Espinho a competir nas ligas profissionais, inclusivamente na I Liga. E é o clube da sua terra. Qual é o significado de representar o emblema alvinegro e o que este tem de especial?
O Sp. Espinho é um histórico do futebol português. Lembro-me de ver o clube na I Liga, com o Estádio Comendador completamente cheio. Cresci paredes-meias com o estádio. Nem almoçava direito para ir ver o Sp. Espinho, fosse o jogo onde fosse. É o meu clube e enquanto cá estiver irei dar a minha vida por ele.
 
Como já foi referido, o Carlitos é natural de Espinho. Como foi a sua infância e como é que a bola entrou para a sua vida?
A minha infância foi a jogar à bola contra a parede do antigo Estádio Comendador Manuel Oliveira Violas. O campo de treinos para as camadas jovens eram no Vizelinha, um pequeno campo que ficava atrás da baliza norte do estádio, e um dia pedi ao meu pai para me levar lá para treinar e assim foi. Fiquei e fiz a minha formação no clube.
 
Fez toda a formação no Sp. Espinho. Que memórias tem desses tempos?
Bons tempos! Amizades que ainda hoje se conservam. Tudo era diferente dos tempos de agora. Os campos eram todos pelados, não havia um jogo que não acabasse com sangue nas pernas... Agora existem muito mais condições. Talvez por isso é que acho que temos uma próxima geração de jogadores fenomenais para a nossa seleção. Tenho saudades dos tempos de miúdo nas camadas jovens.
 
O Carlitos entrou para a formação do Sp. Espinho na década de 1990, representou a equipa principal em 2005-06 e 2010-11 e regressou aos Tigres da Costa Verde no início de 2016, tendo assistido à transformação do clube. O que mudou no emblema espinhense ao longo destes anos?
A palavra! Esta direção está no clube por amor, não por dinheiro. Existe confiança e isso é muito importante para um grupo de trabalho.
 
Apesar de todos os anos de casa, quando subiu à categoria de seniores não encontrou espaço na equipa principal. Como digeriu essa situação?
Gostava muito de ter ficado, mas no primeiro treino o mister Francisco Barão disse-me logo que não ia ficar, que podia ficar a treinar até arranjar clube, mas que não ia ficar. Podia ter desistido logo aí, mas fui à luta e foi o próprio Francisco Barão que me arranjou uma equipa para ir jogar. O Sp. Espinho nesse ano tinha uma equipa muito forte, com bons jogadores. Sabia e tinha a consciência que não teria hipótese nenhuma de jogar.
 

“Demolição do estádio? Foi duro”

Carlitos fez toda a formação no Sp. Espinho
No ano de 2019 o mítico Estádio Comendador Manuel de Oliveira Violas foi demolido. Um momento certamente muito triste, não só para si, mas para todos os espinhenses. Como lidou com este acontecimento?
Foi duro! Nunca imaginei que isso pudesse acontecer. Nem nos meus maiores pesadelos. Era a nossa fortaleza! Mesmo já para o fim, não tendo muitas condições, era a nossa casinha. Grandes e grandes momentos vivi ali. Os adeptos não mereciam ficar sem o seu estádio.
 
Ao longo de todos estes anos de casa, quais foram os melhores momentos que viveu?
A subida ao Campeonato de Portugal [em 2017], sem dúvida!
 
O Carlitos é avançado. Como se descreve enquanto jogador?
Sou um jogador de equipa. Dou tudo de mim em campo e graças a Deus fiz sempre golos por onde passei, deixando uma boa recordação. Tenho o dom de marcar. Estou muitas vezes no sitio certo!
 

“Riachense é um grande clube, humilde e com pessoas amáveis”

Na primeira época de sénior, assinou pelo Riachense. Como é que foi parar ao Ribatejo?
O mister Francisco Barão conhecia um empresário e ajudou-me a ir para lá. É um grande clube, humilde e com pessoas amáveis. Ainda hoje, passados 15 anos ou mais, recebo mensagens e telefonemas das pessoas de lá, para ir almoçar ou jantar ou passar uns dias por lá. Fiz muitos amigos mesmo.
 
No Riachense foi orientado por João Henriques, ex-treinador de Paços de Ferreira, Santa Clara e Vitória de Guimarães. Como era ele na altura? Alguma vez pensou que o mister atingisse um nível tão alto?
É verdade. Ainda hoje mantenho contacto com o mister João Henriques. Ele era na altura muito jovem, mas tinha sonhos, era ambicioso e tinha muito prazer no que fazia. Chegou onde chegou através da sua humildade e do seu trabalho.
 

“Trabalhar com Vítor Pereira? Evoluías só de treinar, mesmo se não jogasses”

Carlitos voltou ao Sp. Espinho para ficar em 2015-16
Curiosamente, na temporada seguinte voltou ao Sp. Espinho e foi orientado por um treinador que atingiu um nível elevadíssimo, Vítor Pereira, que viria a sagrar-se bicampeão português pelo FC Porto e campeão chinês pelo Shangai SIPG. Fazemos as mesmas perguntas: como era ele na altura? Alguma vez pensou que o mister atingisse um nível tão alto?
O mister Vítor Pereira era fantástico. Adorei trabalhar com ele, apesar de ter sido só até janeiro. Fez-me bastantes elogios e tinha métodos de treino muito bons. Evoluías só de treinar, mesmo que ao domingo não jogasses.
 
Entretanto jogou por Fornos de Algodres, Arouca e Macedo de Cavaleiros, voltou ao Riachense e passou duas vezes por Monsanto e Cesarense. Como correram essas experiências?
Todas elas estão no meu coração. Fui tão bem-recebido, correu tudo tão bem por onde passei que só tenho de dar graças a Deus por me ter proporcionado jogar nestes clubes.
 
Em 2009-10, ao serviço do Monsanto, defrontou o Benfica do primeiro ano de Jorge Jesus. Que recordações tem desse jogo?
Fantástico! Memorável! Mal treinámos nessa semana! Eram as televisões, os jornais, as rádios, todos os dias lá estavam para falar com o grupo de trabalho. Pena ter sido só uma semana!
 

“Vivi na Oliveirense momentos que nunca irei esquecer”

Carlitos representou Oliveirense entre 2012 e 2016
Entre 2012 e 2016 representou a Oliveirense na II Liga. Que balanço faz desses quase quatro anos e com que opinião ficou do clube?
Foram anos muito bons! Cumpri o objetivo de ser profissional. Vivi no clube momentos que nunca irei esquecer. Os adeptos tinham carinho por mim e isso ajudou bastante! Só tenho de agradecer os anos que lá passei.
 
No seu primeiro ano na Oliveirense, foi orientado pelo técnico João de Deus, atual treinador adjunto de Jorge Jesus no Benfica. O que achou dos métodos do mister?
Tive a sorte de ter sido treinado por bons treinadores. O João de Deus foi o treinador que mais sonhava alto, dizia que ia conseguir chegar à I Liga e conseguiu. Depois conseguiu muito mais do que isso. Ele tinha algo que todos os treinadores deviam ter e que acho fundamental para terem o grupo todo a remar para o mesmo lado, que era a relação treinador/jogador. Ele falava muito com quem não jogava, dava uma palavra, não deixava cair ninguém. Merece tudo o que está a passar.
 
Propomos-lhe um desafio: elabore um onze ideal de jogadores com os quais jogou.
Isso não se faz! Iria deixar tanta qualidade de fora! Dou muito valor a um grupo, todos ajudam, tanto o que tem dois minutos como o que tem mil minutos. Por isso o melhor onze com quem já joguei foram todos os que privaram comigo na minha carreira. Agradeço de coração a cada um por me ter mostrado um pouco de si e ter levado um pouco de mim! O futebol é isto! Relações! Costuma-se dizer que no futebol é difícil fazeres quatro ou cinco amigos na tua carreira, mas eu posso dizer que fiz mais.
 
Foi orientado por João Henriques, Vítor Pereira, João de Deus e Rui Quinta, entre outros. Que treinadores mais o marcaram? Tem algumas histórias com cada um deles que nos possa contar?
Tenho enorme respeito por todos eles. Todos eles me ensinaram alguma coisa que levo para a vida. Tentei aprender ao máximo com eles. Como disse anteriormente, agradeço por ter tido a sorte de ser treinado por bons treinadores.
 
Aos 35 anos, tem ainda algum sonho para cumprir no futebol?
Gostava de terminar a carreira com o Sp. Espinho nos campeonatos profissionais.
 
Além do futebol, tem alguma outra ocupação? Já vai pensando no que vai fazer quando pendurar as botas?
Trabalho em part-time num café em Espinho.
 
Entrevista realizada por Rui Coelho




 



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