Na altura, o árbitro José Guímaro
foi condenado por corrupção passiva após ter sido encontrado em sua casa um
cheque de 500 contos passado pelo presidente leceiro, Manuel Rodrigues. Em
causa terá estado um jogo frente ao Académico de Viseu em 1993, para o
apuramento do campeão nacional da II Divisão B, que terá sido falseado através
da intervenção do juiz da partida. No entanto, a história centenária do Leça
está longe de se esgotar nesse acontecimento menos feliz.
Em 1941-42 o emblema do concelho
de Matosinhos participou pela primeira vez na I
Divisão após ter terminado o Campeonato do Porto na segunda posição, atrás
do Académico
do Porto e à frente do FC
Porto. Porém, os verde e brancos não foram além do 12.º e último lugar.
Nas cinco décadas que se seguiram
o Leça competiu quase sempre nos campeonatos nacionais, mas afastado das luzes
da ribalta. Porém, viria a voltar ao convívio
dos grandes entre 1995 e 1998, no culminar de uma ascensão meteórica
iniciada em 1991-92 com a subida da III à II Divisão B. Em 1997-98 alcançou a
melhor classificação da sua história, o 12.º lugar, mas acabou por descer de
divisão na secretaria.
A partir dessa despromoção, os
leceiros entraram numa espiral negativa que os haveria de levar em 2013 até aos
distritais da AF
Porto, de onde saíram em 2018, tendo já no horizonte a ambição de subir à II
Liga.
Paralelamente, o melhor que o
clube conseguiu na Taça
de Portugal foi atingir os quartos de final em 1994-95.
Vale por isso a pena recordar os
dez jogadores com mais jogos pelo Leça na I
Divisão.
10. Cau (56 jogos)
Cau |
Médio defensivo de origem cabo-verdiana
formado no FC
Porto e campeão mundial sub-20 por Portugal em 1991 – apesar de
posteriormente ter sido revelado que ganhou o título com 24 anos –, não
encontrou espaço na equipa principal portista
e por isso foi ganhar rodagem para outras paragens. Já depois de ter passado
por Rio
Ave e Tirsense,
assinou pelo Leça em 1993, aquando da subida dos leceiros à II
Liga.
Na segunda época em Leça da
Palmeira atingiu os quartos de final da Taça
de Portugal e conquistou o título de campeão do segundo
escalão e em 1995-96 reapareceu na I
Liga para se fixar, tendo disputado 26 jogos (24 a titular) e apontado dois
golos, frente a Campomaiorense e Sporting,
este último na derradeira jornada e que se revelou decisivo para que fosse
alcançada a permanência.
Na temporada seguinte atuou em 30
partidas (todas como titular), voltando a ser importante para que os verde e
brancos assegurassem a manutenção.
No verão de 1997 mudou-se para o Salgueiros,
tendo regressado ao Leça em 2004-05 para jogar na III Divisão.
9. Tozé (57 jogos)
Médio
defensivo natural de Matosinhos e formado no vizinho Leixões, clube pelo qual se estreou na I Divisão em 1988-89, passou
ainda pelo Tirsense antes de
reforçar o Leça no verão de 1996, já com os leceiros estabelecidos no primeiro escalão.
Na
primeira época com a camisola verde e branca disputou 24 jogos (21 a titular)
no campeonato, ajudando a equipa a assegurar a permanência.
Em
1997-98 atuou em 33 partidas (31 a titular) e contribuiu para a obtenção do
12.º lugar na I Liga, a melhor classificação de sempre do clube
apesar da despromoção administrativa que haveria de se seguir.
Após
a descida de divisão manteve-se no patamar maior do futebol português
com a camisola do Alverca.
8. Alfaia (68 jogos)
Alfaia |
Defesa central timorense, mas
desde tenra idade radicado no Alto
Alentejo, passou por clubes como Estrela de Portalegre, Campomaiorense, O
Elvas, Académica
e Rio
Ave antes de assinar pelo Leça no verão de 1993.
Na segunda época com a camisola
verde e branca atingiu os quartos de final da Taça
de Portugal e sagrou-se campeão da II
Liga.
Em 1995-96 estreou-se finalmente
no primeiro
escalão, disputando 19 jogos (17 a titular) no campeonato.
Na temporada seguinte impôs-se
como titular, tendo atuado em 29 partidas (todas no onze inicial) e apontado
três golos, um ao Salgueiros
e dois ao Rio
Ave, ajudando uma vez mais os leceiros a assegurar a permanência.
Em 1997-98 perdeu algum espaço,
até pela a ascensão de um menino emprestado pelo FC
Porto chamado Ricardo Carvalho, mas ainda assim foi utilizado em 20
encontros (19 a titular) e marcou um golo ao Salgueiros,
contribuindo para a melhor classificação de sempre do clube na I
Liga, o 12.º lugar, apesar da despromoção administrativa que viria a
acontecer.
7. Cristóvão (69 jogos)
Com impacto imediato na equipa,
atingiu os quartos de final da Taça
de Portugal e sagrou-se campeão da II
Liga na primeira época de verde e branco.
Em 1995-96 manteve o estatuto de
titular na I
Liga, tendo disputado 33 encontros (31 a titular) no campeonato.
No entanto, nas épocas seguintes
foi perdendo espaço. Em 1996-97 atuou em 24 partidas (21 a titular) e na
temporada que se seguiu não foi além de 12 jogos (dois a titular).
Após a descida de divisão
administrativa devido ao Caso Guímaro permaneceu mais um ano no clube, na II
Liga, antes de voltar a Lisboa para encerrar a carreira no Olivais e
Moscavide.
6. Serifo (72 jogos)
Serifo |
Extremo guineense
bastante veloz, ingressou no Leça em 1987, proveniente do Benfica de Bissau, e
por lá ficou durante uma década e meia, tornando-se num dos jogadores mais
carismáticos e acarinhados do clube.
Quando chegou a Leça da Palmeira,
foi para jogar na III Divisão, e após ter subido à II Divisão B em 1990,
descido à III no ano seguinte, subido duas divisões até chegar à II
Liga em 1993, sagrou-se campeão do segundo
escalão e atingiu os quartos de final da Taça
de Portugal em 1994-95. “Foi fantástico. O Leça tinha poucos adeptos, mas
toda a gente vivia intensamente o clube. É um sítio pequeno, mas muito bonito.
Habituei-me a esse ambiente, a andar na rua e a falar com todos”, recordou ao Maisfutebol em maio de 2019. “Não me
esqueço do jogo da subida à I
Liga, em Paços
de Ferreira. Tivemos dois jogadores expulsos na primeira parte e vencemos
1-0. O Sérgio [Conceição] fez um jogo brilhante, fez o corredor direito de cima
a baixo”, acrescentou.
Pelo meio brilhou numa eliminatória
da prova rainha em Alvalade,
em dezembro de 1993, marcando um bonito golo, com um chapéu a Lemajic.
Na estreia no patamar
maior do futebol português, em 1995-96, disputou 23 jogos (18 a titular) e
ajudou os leceiros a assegurar a permanência.
Na temporada seguinte atuou em 22
encontros (17 a titular) e apontou dois golos, frente a Desp.
Chaves e Sp. Espinho, voltando a ser importante para a manutenção.
Por fim, em 1997-98 foi utilizado
em 27 partidas (25 no onze inicial) e somou quatro remates certeiros, diante de
Marítimo, Sp.
Braga, Salgueiros
e Académica,
que contribuíram para a obtenção da melhor classificação de sempre do clube na I
Liga, o 12.º lugar, apesar de depois ter surgido o Caso Guímaro. “Nem gosto
de falar disso. Já estávamos na I
Liga, acabámos essa terceira época no 12º lugar e andámos perto dos lugares
europeus. O nosso treinador, o grande Vítor Manuel, via passar um avião no
treino e dizia ‘meus meninos, para o ano somos nós a andar nas nuvens da UEFA’.
E depois… acontece esse escândalo e o Leça desce”, confessou ao portal
desportivo. “Não queria acreditar. Vi a notícia na televisão, mas inicialmente
não liguei. Nós ainda fizemos a pré-época para jogar na I
Liga. Fomos surpreendidos, foi um choque. Estávamos a estagiar na Urgeiriça
e de repente aconteceu aquilo. Uma tristeza”, aditou.
Após a despromoção administrativa
continuou no clube até 2003, encerrando a carreira após a descida à II Divisão
B. “Apaixonei-me pelo Leça e fiquei preso a essa emoção. Sempre fui assim.
Cheguei a Portugal com 18 ou 19 anos, e fui acolhido pelo Leça. Depois… sim,
tive várias abordagens de outros clubes, inclusivamente dos três grandes, mas
as direções do Leça tentaram sempre que eu ficasse. E eu fui ficando. Foram 16
anos em Leça da Palmeira, centenas de jogos”, contou.
Em 2009 voltou ao clube para ser
adjunto de Pedro Mesquita. “Correu bem, mas o clube continuava com os problemas
financeiros do costume. Gostei da experiência”, assumiu.
5. Armando (77 jogos)
Armando |
Defesa lateral de baixa estatura
(1,69 m) capaz de jogar à direita e à esquerda, começou a jogar futebol no
clube da terra que o viu nascer, o Paços
de Ferreira, mas em 1992 mudou-se para o Leça, então a militar na II
Divisão B.
Na primeira época no emblema do
concelho de Matosinhos alcançou a promoção à II
Liga e dois anos depois sagrou-se campeão do segundo
escalão e atingiu os quartos de final da Taça
de Portugal.
Em 1995-96 estreou-se na I
Liga, tendo disputado 27 jogos (23 a titular) no campeonato, ajudando os
leceiros a assegurar a permanência.
Na temporada que se seguiu também
contribuiu para a manutenção, tendo atuado em 23 partidas (19 a titular).
Por fim, em 1997-98 foi utilizado
em 27 encontros (25 a titular), revelando-se um jogador importante para a
obtenção do 12.º lugar, a melhor classificação de sempre dos verde e brancos no
patamar
maior do futebol português.
Após a despromoção administrativa
causada pelo Caso Guímaro, permaneceu mais duas temporadas no Leça, na II
Liga, tendo encerrado a carreira em 2000-01 ao serviço do vizinho e rival Leixões.
4. Zé da Rocha (86 jogos)
Zé da Rocha |
Médio cabo-verdiano,
entrou no futebol português pela porta do Académico Viseu em 1990, tendo ainda
passado por Gil
Vicente, Académica
e Rio
Ave antes de ingressar no Leça no verão de 1995, aquando da subida dos
leceiros à I
Liga.
Na primeira época no clube
disputou 23 jogos (22 a titular) e marcou um golo ao Campomaiorense no
campeonato.
Em 1996-97 foi novamente
importante para que fosse alcançada a permanência, tendo atuado em 33 partidas
(todas a titular) e faturou por quatro vezes, diante de Salgueiros,
FC
Porto, Benfica
e Sp. Espinho.
Na temporada que se seguiu foi
utilizado em 30 encontros (27 a titular) e marcou um golo ao Benfica,
contribuindo para a obtenção da melhor classificação de sempre do clube no primeiro
escalão, o 12.º lugar.
Após a descida de divisão
administrativa permaneceu mais quatro anos no clube, até 2002, rumando depois
ao Feirense. Entretanto, em abril de 2000, tornou-se internacional por Cabo
Verde.
3. Vladan (91 jogos)
Vladan |
Guarda-redes de elevada estatura
(1,94 m) nascido na Jugoslávia, radicou-se em Portugal em janeiro de 1993,
quando reforçou a Ovarense.
Um ano e meio depois transferiu-se para o Leça e logo no primeiro ano no clube
sagrou-se campeão da II
Liga e atingiu os quartos de final da Taça
de Portugal.
Em 1995-96 estreou-se na I
Liga, tendo disputado 30 jogos e sofrido 46 golos, ajudando os leceiros a
assegurar a permanência.
Na temporada seguinte melhorou o registo
e voltou a garantir a manutenção: 33 encontros, 40 golos encaixados.
Já em 1997-98 atuou em 29
partidas (27 a titular) e sofreu 41 golos, mas contribuiu para a obtenção da
melhor classificação de sempre, o 12.º lugar.
Após o rebentar do Caso Guímaro e
da consequente despromoção administrativa permaneceu mais dois anos no clube,
tendo encerrado a carreira em 2000, quando ainda tinha 29 anos.
O seu irmão, Vladimir Stojkovic, esteve
vinculado ao Sporting
entre 2007 e 2011 e é 84 vezes internacional AA pela Sérvia. O seu filho,
também Vladimir Stojkovic, fez quase toda a formação no Sporting
e está presentemente vinculado à Académica.
Ambos são igualmente guarda-redes.
2. Nando (97 jogos)
Na primeira época no emblema do
concelho de Matosinhos, este internacional jovem português sagrou-se campeão da
II
Liga e atingiu os quartos de fina da Taça
de Portugal.
No regresso ao patamar
maior do futebol português, em 1995-96, disputou 32 jogos (31 a titular) no
campeonato.
Na temporada que se seguiu ajudou
novamente os leceiros a assegurar a permanência, tendo atuado mais uma vez em
32 partidas (30 a titular) e apontou dois golos, frente a Sp. Espinho e União
de Leiria.
Por fim, em 1997-98 foi utilizado
em 33 encontros (32 a titular) e faturou por duas vezes, diante de FC
Porto e Varzim, contribuindo para a obtenção do 12.º lugar, a melhor
classificação de sempre do clube no primeiro
escalão.
Depois da descida administrada
causada pelo Caso Guímaro continuou mais um ano no clube, rumando depois ao Marco.
1. Constantino (97 jogos)
Constantino |
Disputou o mesmo número de jogos
de Nando, mas amealhou mais 230 minutos em campo – 7809 contra 7579.
Também conhecido por Tino Bala,
é, de longe, o melhor marcador de sempre do Leça na I
Divisão, com 42 golos, é provavelmente o primeiro nome que vem à cabeça de
qualquer adepto quando se fala no clube do concelho de Matosinhos. “Eu nunca vi
ninguém como o Tino Bala. Fazia golos de todas as formas e feitios. Esperava,
desaparecia, fugia para espaços estranhos e surgia a finalizar. Nasceu mesmo
para fazer golos”, confessou Serifo ao Maisfutebol.
Avançado goleador de baixa
estatura (1,70), foi formado e revelado pelo Salgueiros,
mas não encontrou muito espaço na equipa principal e por isso foi rodar para as
divisões secundárias, tendo passado por Recreio
de Águeda, Desp.
Aves e União de Lamas antes de reforçar o Leça no verão de 1993 por indicação de... Reinaldo Teles.
"Quem me diz para ir para o Leça foi o Reinaldo Teles, do FC Porto, que teve uma reunião comigo e me aconselhou a ir para o Leça, mas com contrato apenas com o Leça, porque o treinador desse primeiro ano na II Liga é o Frasco, antiga glória do FC Porto. Fui muito bem-recebido por todos, o Leça tinha um relvado fantástico, boas instalações e os adeptos sempre gostaram de mim", recordou a O Blog do David.
Na segunda época em Leça da
Palmeira sagrou-se campeão na II
Liga e atingiu os quartos de final da Taça
de Portugal, mas foi no primeiro
escalão que verdadeiramente explodiu, tendo sempre superado a dúzia de
golos nas três épocas em que representou os leceiros no patamar
maior do futebol português. “Massacrámos quase todas as equipas e fomos
promovidos com mérito. Essa equipa era fantástica, há quem diga que é a melhor
da história do Leça. Tínhamos uma união enorme. Lembro-me que íamos jantar
todos tantas e tantas vezes. Tudo começava nesses jantares. Aliás, o Leça
sempre foi conhecido pela união das suas equipas. Por isso, conseguia fazer
pequenos milagres”, recordou ao Maisfutebol
em maio de 2019.
Em 1995-96 disputou 30 jogos (22
a titular) e apontou 15 golos, ajudando os verde e brancos a alcançarem pela
primeira vez a permanência na I
Liga. Desp.
Chaves (três), Farense,
Salgueiros,
Tirsense
(quatro), Vitória
de Guimarães, Felgueiras, Campomaiorense (dois) e União
de Leiria (dois) foram as vítimas de Constantino, sendo apenas superado
pelo portista
Domingos (25 golos) e pelo benfiquista
João Pinto (18) na tabela de marcadores.
Na época seguinte foi titular nas
34 jornadas e voltou a ter dezenas e meia de remates certeiros para amostra,
apontados a União
de Leiria (três), Salgueiros,
Rio
Ave, Marítimo, Belenenses
(quatro), FC
Porto (dois), Gil
Vicente, Estrela
da Amadora e Vitória
de Guimarães, voltando a ser essencial para que a manutenção fosse
atingida. Nessa temporada, apenas foi batido pela concorrência do portista
Jardel (30 golos), do boavisteiro
Jimmy Hasselbaink (20) e do estrelista
Gaúcho (16).
Curiosamente, foi em 1997-98,
quando o Leça obteve a melhor classificação da sua história, o 12.º lugar, que
Constantino teve o seu registo menos bom – mas ainda assim invejável – com a
camisola verde e branca: 12 golos. As vítimas foram FC
Porto (dois), Estrela
da Amadora, Campomaiorense, Vitória
de Setúbal, Rio
Ave (dois), Farense,
Vitória
de Guimarães, Salgueiros,
Belenenses
e Benfica.
Entretanto rebentou o Caso
Guímaro e os leceiros foram despromovidos na secretaria. "O Caso Guímaro foi uma injustiça para o Leça numa altura em que o Leça estava estabilizado na I Liga. Isso quase que acabou com o clube, que caiu para os distritais", lamentou.
Após a descida de
divisão, Constantino mudou-se para os espanhóis do Levante, tendo ajudado o
emblema de Valência a subir à II
Liga.
Depois de passagens por
Campomaiorense e União de Lamas, regressou ao Leça em 2001 para mais três
temporadas no clube, as duas primeiras na II
Liga e a última na II Divisão B.
Após encerrar a carreira iniciou
a de treinador, tendo desempenhado as funções de adjunto na equipa principal
dos leceiros entre 2006 e 2009.
"Sinto-me uma referência do Leça. Ainda hoje falam dos meus golos no clube, os adeptos no Facebook dizem-me sempre que fui o goleador Tino Bala, mas foi com a ajuda de todos os meus companheiros que atingi o estatuto de goleador", afirmou ao nosso blogue.
Atualmente é funcionário de uma
empresa municipal responsável pela gestão das infraestruturas desportivas em
Matosinhos.
Sem comentários:
Enviar um comentário