É comum ver no futebol italiano o
organizar de jogo de uma equipa a atuar imediatamente à frente da linha
defensiva, como médio mais recuado. Na terminologia do calcio, a
essa função dá-se o nome de regista e nas últimas duas décadas
teve em Andrea Pirlo um mestre a desempenhá-lo.
Tanto no AC
Milan como na Juventus ou até mesmo na seleção italiana, Pirlo era
simultaneamente o médio mais recuado e o mais criativo da sua equipa, algo
habitual em solo transalpino, mas que no restante planeta futebolístico
pareceria um contrassenso. Já imaginaram o Barcelona
de Guardiola com Xavi atrás de Busquets? Ou o Real Madrid de Zidane com Modric
atrás de Casemiro? Pois é.
O facto de o regista ser
o centrocampista mais recuado, porém, não faz dele o mais defensivo. No caso de
Pirlo, era Gattuso e até mesmo Seedorf no AC
Milan e Vidal e Pogba ou Marchisio na Juventus que faziam o chamado trabalho sujo, ou seja,
que ficavam com maior responsabilidade nas tarefas de cobertura.
Se nos rossoneri nunca
houve mais alguém a desempenhar as mesmas tarefas de Pirlo a um nível elevado,
a Juve recrutou Miralem
Pjanic à Roma no verão de 2016 e transformou o bósnio
no seu novo regista, num processo iniciado por Massimiliano Allegri
e ao qual Maurizio Sarri está a dar continuidade.
É Pjanic,
que na capital italiana atuava uns metros mais adiantado, quem pensa o jogo
da vecchia signora ainda no primeiro terço do campo,
à frente dos defesas, e distribui passes bem calibrados a curta e longa
distância, assumindo igualmente protagonismo na execução de bolas paradas –
mais em cantos e livres laterais do que propriamente livres diretos, não por
não se tratar de um especialista mas porque na formação de Turim o dono da bola é Cristiano
Ronaldo.
Os perfis de Pirlo e Pjanic
têm essas semelhanças, mas também muitas diferenças. A classe, a visão de jogo
e a precisão de passe do antigo camisola 21 estão apenas ao nível dos predestinados,
mas o bósnio,
que não deixa de ter um nível bastante satisfatório nesses parâmetros, compensa
essa décalage para o italiano com mais alguma rotatividade, agressividade
defensiva e chegada ao último terço do campo.
Tal como Pirlo, Pjanic
também tem quem lhe faça o trabalho sujo, nomeadamente Khedira e Matuidi, dois
médios que jogam uns metros à frente, mas que passam os encontros em constantes
vaivéns de área a área para acrescentar soluções ao ataque e assumir um papel
importante nas tarefas de coberto durante o processo defensivo.
Como será no Barcelona?
Apesar da importância que tem na
manobra ofensiva da Juventus, Miralem
Pjanic vai mudar de ares na próxima época, uma vez que o Barcelona
pagou 60 milhões de euros pela transferência, o que levanta desde logo algumas
questões: será compatível com Sergio
Busquets, que tem raio de ação bastante semelhante embora com outro tipo de
características? Terá sido contratado com o intuito de jogar uns metros mais
adiantado? Será Busquets
a jogar mais à frente de forma? Estará Busquets
em fim de ciclo no Barça?
É difícil de imaginar que Pjanic
possa desempenhar em Camp
Nou a mesma função que desempenhava da Juventus
e que ao mesmo tempo Sergio
Busquets a continue com as mesmas tarefas nos catalães.
O bósnio
esta habituado a construir e a organizar o jogo sozinho à frente da defesa,
precisamente o mesmo espaço que o médio espanhol ocupa para assegurar o
equilíbrio defensivo à formação
blaugrana.
Também é difícil de imaginar que
o Barça
tenha despendido 60 milhões de euros num jogador de 30 anos com o intuito de o
colocar numa posição – e acima de tudo, numa função – diferente do que aquela em
que Pjanic
se tem vindo a especializar nos últimos anos.
Também é difícil de imaginar que o
Barça
tenha despendido 60 milhões de euros a pensar apenas numa alternativa a Busquets,
até porque Pjanic
ocupa as mesmas zonas do terreno, mas tem um perfil completamente diferente e
que obriga a uma reformulação do meio-campo.
E por último, é igualmente
difícil de imaginar que tenha chegado o fim da linha de Busquets
no Barcelona,
até porque tem sido um jogador fundamental desde os tempos de Pep Guardiola e
com uma sobriedade e cultura tática ímpares no mundo do futebol.
No entanto, também não parecia
fazer muito sentido que Barcelona
e Juventus
trocassem Arthur e Pjanic
quando ainda falta tanto por disputar esta temporada e quando os treinadores das
duas equipas não têm a continuidade assegurada… mas aconteceu.
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