Quando Marcelo Rebelo de Sousa
anunciou ao país que ia decretar estado de emergência, a 15 de março,
registavam-se ainda 245 casos confirmados de covid-19
e nenhuma morte em Portugal.
Nessa altura, Alentejo
e Madeira ainda não tinham quaisquer casos e já se falava da importância do distanciamento
social, da higienização das mãos e da etiqueta respiratória.
Dias depois, quando o estado de
emergência entrou em vigor às 0.00 de dia 19, Portugal
tinha 642 casos confirmados – um aumento de 194 face às 24 horas anteriores - e
uma morte. Por essa altura, ainda era possível identificar as cadeias de
transmissão e os lares ainda não se tinham tornado na situação problemática que
são hoje.
Este sábado, 2 de maio, foi levantado
o estado de emergência e entrou em vigor o estado de calamidade. Porém, os
números sugerem uma enorme falta de coerência para a escolha do timing para o levantamento de
restrições. No dia em que o estado de emergência deixa de estar ativo, conhecem-se
25 351 casos confirmados em Portugal.
Destes, 1007 resultaram em óbitos e, por outro lado, 1647 pessoas recuperaram. Feitas
as contas, há 22 697 casos ativos em Portugal,
ou seja, 35 vezes mais do que aqueles que existiam quando o estado de
emergência entrou em vigor. Onde está a coerência?
No dia 18 de março, último dia em
que Portugal
viveu sem restrições, foram anunciados 194 novos casos confirmados. Ontem, dia
1 de maio, último dia de estado de emergência, foram 306 – e a média dos
últimos cinco dias foi de 297,4. Onde está a coerência?
A 18 de março, 89 pessoas estavam
internadas, 20 das quais em unidades de cuidados intensivos (UCI). Ontem, dez
vezes mais pessoas estavam internadas (892) e quase oito vezes em UCI (154). Onde
está a coerência?
O
próprio primeiro-ministro, António Costa, já admitiu que, estando cerca de
0,2% da população contaminada, na melhor das hipóteses apenas 2% dos cidadãos
em Portugal
estarão imunes ao novo coronavírus, um “nível de imunização natural muitíssimo
baixo”. Um nível tão baixo que o líder do governo considerou prematuro a
disseminação de testes serológicos.
Embora o nível de imunização seja
muitíssimo baixo, mas todos os outros números sejam bastante mais altos do que
quando foi decretado e entrou em vigor o estado de emergência, lojas até 200m² e
com porta aberta para a rua, cabeleireiros, salões de estética, livrarias,
comércio automóvel, bibliotecas e arquivos poderão reabrir na segunda-feira. E
para o próximo mês está previsto o regresso
do futebol da I Liga, ainda que à porta fechada, entre outras atividades e
serviços. Onde está a coerência?
Terão sido precipitadas tantas
restrições a partir de 19 de março em vez de aplicarem apenas algumas condições?
Ou será agora precoce o levantamento do estado de emergência? Os números
mostram que algo não bate certo.
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