domingo, 28 de outubro de 2018

11 anos, 30 jogos e 38 golos depois. Eis o primeiro Barça-Real sem Messi e Ronaldo

Ronaldo e Messi marcaram uma era nos clássicos espanhóis
O clássico entre Barcelona e Real Madrid - El Clásico para os espanhóis - foi visto durante décadas como um confronto entre um símbolo do nacionalismo catalão e um do patriotismo espanhol. Mas desde que Cristiano Ronaldo assinou pelos merengues no verão de 2009 que o encontro se confundia com um duelo entre CR7 e Lionel Messi. Neste domingo, pela primeira vez em 11 anos, os dois jogadores não vão liderar as respetivas equipas: Ronaldo, porque entretanto se transferiu para a Juventus, e Messi por estar lesionado.


Não é por acaso que o clássico se transformou num duelo Ronaldo-Messi. "São os jogadores que mandaram no futebol espanhol, europeu e mundial nos últimos dez anos", sintetiza Duda, o português com mais jogos na liga espanhola (344), há 19 anos no país vizinho.

Dentro do campo, as duas estrelas justificaram o mediatismo em seu redor. A pulga tornou-se o melhor marcador da história do clássico, com 26 golos em 38 jogos, mas o madeirense aparece imediatamente a seguir na hierarquia, com 18 remates certeiros - os mesmos de Alfredo Di Stéfano - em 30 partidas. Messi é o rei das assistências (14) e um dos cinco jogadores que marcaram dois hat tricks no clássico, a par de Jaime Lazcano, Santiago Bernabéu, Paulino Alcántara e Ferenc Puskás. Ronaldo, por sua vez, é o jogador que marcou em mais partidas consecutivas entre os rivais de Espanha (seis, entre janeiro e outubro de 2012). No total, quando coincidiram em campo nos últimos 11 anos, marcaram 38 golos em 30 jogos.

Para Duda, atual coordenador da formação do Málaga depois de se ter tornado o recordista de jogos do clube andaluz (349), "o clássico ganhou mais projeção" com a rivalidade entre os dois Bolas de Ouro por cinco vezes. "Estamos a falar dos melhores jogadores da atualidade", frisa o antigo médio de 38 anos ao DN.


Agora, no clássico deste domingo (15.15 horas, na Eleven Sports 1) em Camp Nou, não haverá Ronaldo nem Messi pela primeira vez desde 23 de dezembro de 2007. O português, ausência desde julho, rumou à Juventus após nove anos em Madrid. Messi, soube-se no último sábado, vai assistir ao encontro de braço direito ao peito, depois de ter sofrido uma fratura no rádio na vitória sobre o Sevilha (4-2). Por isso, o antigo internacional português diz que "há algumas diferenças" no mediatismo em torno da partida. "Não é a mesma coisa, estamos a falar de duas superestrelas do futebol. Mas é claro que um clássico é sempre um clássico e há sempre motivos para falar de um Barcelona-Real Madrid, pelos clubes que são e pela história que têm", acrescentou o ex-futebolista, que também passou por Cadiz, Levante e Sevilha.

Boas respostas sem os protagonistas

Enquanto coincidiram em Espanha, Cristiano Ronaldo e Lionel Messi defrontaram-se em 30 clássicos de 32 possíveis - o português falhou a final da Taça do Rei de 2013-14 por lesão e a segunda mão da Supertaça de Espanha de 2017 devido a castigo. Curiosamente, o Real Madrid ganhou ambos os jogos. Durante esses nove anos, o mais perto que o argentino esteve de desfalcar o Barcelona frente ao rival foi num jogo do campeonato, em novembro de 2015, quando vinha de uma lesão e entrou aos 56 minutos... quando os catalães já venciam no Santiago Bernabéu por 3-0 - acabaram por golear por 4-0.


Agora, nem um nem outro vai jogar, mas ambos continuam a estar na ordem do dia na imprensa espanhola. "Mais do que o clássico e do que vai ser o jogo, está a falar-se do treinador [Julen Lopetegui], da saída do Cristiano e da falta de golos do Real Madrid. Do Barcelona, fala-se da lesão do Messi", diz Duda, que quando reforçou o Cádiz em 1999 ainda Luís Figo jogava pelo Barça e Simão Sabrosa acabava de chegar a Camp Nou.

Apesar da fase conturbada que o Real Madrid atravessa e da falta que Cristiano Ronaldo faz aos merengues, o esquerdino considera que nenhuma das equipas está em vantagem. "Acho que ninguém parte à frente. Pode passar-se tudo num clássico. Como se vê em muitas das vezes em que se defrontam, por vezes há um que vai em primeiro com bastantes pontos de vantagem mas acaba por perder para o outro. Não há favorito. É 50% para cada lado", frisou em português mas com um sotaque espanhol bastante carregado.

Quem vai emergir aos olhos de 650 milhões?

Sem a presença das duas estrelas que abrilhantaram o clássico nos últimos anos, outras poderão emergir. "Penso que no Barcelona o Coutinho está numa fase de grande rendimento", aponta Duda, em sintonia com os relatos da imprensa espanhola, que fala do jogador mais caro da história dos catalães - 120 milhões de euros fixos mais 40 em variáveis pagos ao Liverpool em janeiro - como um futebolista que, embora não esteja a desiludir em Camp Nou, ainda não foi verdadeiramente posto à prova num jogo desta exigência e mediatismo. Suárez é outro nome de peso e Dembelé também pode fazer mossa, mas Rafinha esteve em bom plano a meio da semana na vitória sobre o Inter e colocou o lugar do francês em risco.


Relativamente ao Real Madrid, o antigo jogador blaugrana Rivaldo disse nesta semana que "parece óbvio que não existe alguém capaz de substituir adequadamente" Cristiano Ronaldo, mas, para Duda, "Modric e Isco podem pôr a equipa a funcionar". Afinal, o antigo médio português conhece bem o espanhol, com quem jogou em 44 partidas oficiais no Málaga entre setembro de 2011 e maio de 2013. E o croata é, para todos efeitos, o detentor da distinção da FIFA para melhor jogador do mundo (The Best) - e terá uma derradeira oportunidade para reforçar a candidatura à Bola de Ouro da France Football, cuja votação encerra a 9 de novembro. Ainda assim, há que ter em consideração Karim Benzema, melhor marcador dos merengues nesta época - voltou a marcar ao Plzen na terça-feira, depois de ter estado em seca desde 1 de setembro -, e Marcelo, goleador improvável nos últimos dois jogos, diante dos checos e do Levante.

Poderá também haver um herói inesperado, como um estreante nestes confrontos entre os rivais de Espanha. No total, são 15 os jogadores que poderão debutar em clássicos. Arthur, Vidal, Lenglet, Malcolm, Cillessen, Sergi Samper e Carlos Aleñá do lado catalão; Courtois, Odriozola, Marcos Llorente, Kiko Casilla, Vinicius Junior, López Vallejo, Federico Valverde e Sergio Reguilón do madridista.

Estes nomes podem não ter o mesmo peso dos reis do futebol mundial da última década, mas Duda lembra que um Barcelona-Real Madrid "é talvez o melhor ou um dos melhores clássicos do futebol, é um dos mais vistos na televisão e tem sempre grandes jogadores". Pela história que tem e porque continuará a haver grandes artistas em campo, a imprensa espanhola estima que o jogo seja transmitido em 183 países e 325 canais televisivos e que haja cerca de 650 milhões de espetadores. No México, por exemplo, o duelo será acompanhado à hora do pequeno-almoço (9.15), enquanto no Japão vai obrigar os adeptos do desporto-rei a ficar acordados até mais tarde (0.15).


Como estava o futebol a 23 de dezembro de 2007?

Nesse Barça-Real de 2007-08, o último sem as presenças de Messi e Ronaldo, um golo do médio brasileiro Júlio Baptista garantiu uma vitória do Real Madrid por 1-0 na casa dos catalães, numa altura em que Ronaldo ainda jogava no Manchester United e Messi estava com problemas na coxa esquerda. Ronaldinho, Deco, Eto'o ou Thierry Henry eram algumas das figuras dos blaugrana, orientados por Frank Rijkaard. Do lado dos homens da capital, alinhavam craques como Casillas, Cannavaro, Pepe, Raúl, Van Nistelrooy, Robinho, Wesley Sneijder ou Arjen Robben, às ordens de Bernd Schuster. Apenas os merengues Sergio Ramos (saiu aos 88 minutos) e Marcelo (suplente não utilizado) poderão repetir a presença num clássico sem Messi e Ronaldo.

Nessa noite de inverno, Zinedine Zidane ainda era o futebolista mais caro da história, devido aos 77,5 milhões de euros que o Real Madrid pagou à Juventus no verão de 2001. O AC Milan era o detentor da Liga dos Campeões, a Grécia era campeã europeia e a Itália a detentora do cetro mundial. Cristiano Ronaldo, hoje melhor marcador de sempre da Champions com 121 golos, apenas levava cinco. Pep Guardiola, consagrado treinador nos dias que correm, ainda dirigia o Barcelona B.

Por Portugal, o FC Porto de Jesualdo Ferreira liderava a I Liga com sete pontos de vantagem sobre o Benfica de Camacho e nove sobre o Sporting de Paulo Bento, numa época em que Estrela da Amadora, União de Leiria e Naval estavam ainda no primeiro escalão.






















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