Nacional e Santa Clara foram promovidos à I Liga |
Nacional e Santa Clara estão de
regresso à I Liga, um e 15 anos depois da última presença, respetivamente,
alcançando a promoção a uma jornada do fim. Os madeirenses voltam a um patamar em
que durante década e meia conseguiram registos dignos de um histórico do
futebol português, enquanto os açorianos vão apenas para a quarta presença,
sendo que apenas duas foram consecutivas.
Os números
mostram que os nacionalistas alicerçaram a sua boa campanha na II Liga no
melhor ataque da competição (72 golos) e a formação de Ponta Delgada na segunda
defesa menos batida (38 golos sofridos, mais quatro do que o Arouca). No
entanto, é mais o que os une do que aquilo que os separa:
1. Insularidade
Inevitável
começar por aqui. Falar de insularidade não é apenas uma questão de localização
geográfica, mas também de aspetos logísticos, climatéricos, sociais e
psicológicos.
Ter de
estar sujeito a um vaivém constante, praticamente todas as semanas – atendendo
ao extenso calendário que obriga à realização de várias jornadas à quarta-feira
-, possíveis atrasos e problemas nos voos e a isso acrescentar viagens de autocarros
que em alguns casos poderão ser longas – Covilhã é o exemplo mais flagrante -
deverá ser extremamente fatigante.
Depois,
estar habituado a um clima muito próprio e ter de encarar um outro bastante
diferente, sobretudo no inverno – estação em que mais se notará a diferença -,
é outro handicap.
Por
fim, e pese a beleza dos nossos arquipélagos, viver numa ilha não será
certamente a mesma coisa do que passar lá três dias ou uma ou até duas semanas
de férias. A dada altura, o perímetro da Madeira e de São Miguel poderão ser
pequenos demais para futebolistas que, grosso
modo, pertencem a uma faixa etária compreendida entre os 20 e os 30 anos. São
jovens, em alguns casos ainda não estabilizaram a vida familiar e, sobretudo se
forem oriundos de uma metrópole, poderão sentir-se presos.
Para
contrabalançar, há o forte apoio dos governos regionais, algo que os clubes do
continente não podem usufruir.
2. Jovens treinadores à procura de afirmação
Costinha
e Carlos Pinto têm backgrounds muitíssimo
diferentes. O primeiro, de 43 anos, foi um médio importante no panorama
nacional e internacional, foi campeão europeu pelo FC Porto, finalista do Euro
2004 e jogou noutros clubes importantes, como Mónaco ou Atlético Madrid. O
segundo, de 45 anos, também um antigo centrocampista, representou clubes
modestos, a maior parte nas divisões secundárias, tendo apenas somado seis
jogos na I Liga, ao serviço de Paços de Ferreira e Salgueiros.
Costinha e Carlos Pinto, os treinadores da promoção |
Pelo know-how apreendido durante a carreira
de futebolista, Costinha estreou-se como treinador pela porta do patamar maior
do futebol português. Contudo, falhou no Beira-Mar e no Paços de Ferreira, o
que o obrigou a tentar a sorte na II Liga, na Académica. Também não foi feliz
em Coimbra mas ainda assim mereceu a confiança dos dirigentes do Nacional para
abraçar um projeto de subida à I Liga. Na Choupana, conseguiu finalmente mostrar
que também pode ter sucesso como treinador.
Por ter
estado longe da ribalta enquanto jogador, Carlos Pinto teve de subir a pulso na
carreira de técnico. Começou pelo Tirsense, onde deixou de jogar, na então II
Divisão B. Após época e meia no emblema de Santo Tirso, mudou-se para o
Freamunde, sagrando-se campeão da edição inaugural do Campeonato de Portugal. Dos
capões saltou para a II Liga, escalão em que esteve quase sempre a trabalhar em
clubes com aspirações de subida, como Tondela, Desp. Chaves ou Santa Clara, mas
até sem atingir a desejada meta… até ao passado fim de semana. Depois de uma
primeira passagem pelos Açores, foi contratado pelo clube terra natal, o Paços
de Ferreira, mas não teve sucesso na Capital do Móvel. Voltou a São Miguel,
devolveu os açorianos ao primeiro escalão uma década e meia depois e, ao que
tudo indica, também deverá voltar à elite.
3. A prova de que é o futebol direto que ainda reina na II Liga
A
introdução das equipas B e uma nova corrente de treinadores românticos levaram
ideias de jogo mais atrativas à II Liga – saliento aqui o
Penafiel de Armando Evangelista e a Oliveirense de Pedro Miguel -, mas
Nacional e Santa Clara mostraram que a velha escola do futebol direto continua
a reinar na competição.
Os
madeirenses procuravam esticar o seu jogo à procura da referência ofensiva
Ricardo Gomes ou da velocidade dos extremos Camacho e Murilo, na tentativa de
explorar os espaços concedidos pelas defesas adversárias. O médio brasileiro
Christian, cedido pelo Paços de Ferreira, era o principal responsável pelos
passes longos.
Por sua
vez, os açorianos bombeavam bolas desde trás invariavelmente à procura do ponta
de lança, que na maioria das vezes era Thiago Santana, embora Clemente também
tivesse jogado muito. Além de aplicar este estilo mais direto no plano
ofensivo, a equipa de Carlos Pinto era uma das equipas melhor preparadas para
combater um jogo mais vertical por parte dos adversários, muito às custas da
estampa física dos centrais Accioly (1,87 m) e Marcelo Oliveira (1,85 m) e do
médio defensivo Diogo Santos (1,90 m).
4. Pontas de lança em redenção
O
nacionalista Ricardo Gomes parte para a última jornada na pele de máximo
artilheiro da II Liga (21 golos) e o santaclarista Thiago Santana no último
degrau do pódio (15 golos), com Carlos Vinícius, do Real, pelo meio (18).
Ricardo Gomes e Thiago Santana foram os homens-golo |
Porém,
quando a temporada arrancou não se esperava números desta envergadura por parte
de ambos os pontas de lança. O cabo-verdiano do Nacional vinha de uma temporada
e meia no clube em que só tinha apontado um golo, enquanto o brasileiro do
Santa Clara tinha chegado aos Açores com apenas um remate certeiro na época
anterior, pelo Vitória de Setúbal… na Taça de Portugal, frente ao Benfica de
Castelo Branco.
Os dois
avançados não só se reencontraram com as redes adversárias como foram figuras
centrais do modelo de jogo de cada formação. Ambos possantes – Ricardo Gomes
com 1,88 m e Thiago Santana com 1,84 m – e com espírito lutador, tiveram as
funções de ganhar primeiras bolas no ar, segurar o esférico à espera de apoios,
dar profundidade ao ataque e… marcar golos. Valorizaram-se e, a confirmar-se
que vão continuar nas respetivas equipas, regressarão à I Liga com estatuto
reforçado.
5. Capitães locais e formados nos clubes
Numa
modalidade em que cada equipa profissional é uma mini sociedade nas nações, Nacional
e Santa Clara têm a particularidade de possuírem capitães naturais das
respetivas ilhas e formados no clube, ainda que com perfis distintos.
O
nacionalista Jota ainda é um jovem, 25 anos, à procura de afirmar-se no clube e
no futebol português. Fez a estreia na equipa principal em 2012, mas só esta
temporada se conseguiu impor no emblema da Choupana, participando em 30 jogos.
Do lado
açoriano, o veterano Pacheco, 33 anos, que embora seja natural de Ponta Delgada
é internacional pelo… Canadá. Está perto de atingir os 350 encontros pelo
clube, tendo-o representado em três ocasiões. A primeira em 2003/04, a segunda
entre 2007 e 2009 e a terceira desde 2010. Titular indiscutível, terá nova
oportunidade na I Liga, depois de em 2009/10 ter lá jogado pelo… Nacional.
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