O médio sem espaço no Sporting que Mourinho quis no FC Porto. Quem se lembra de Ricardo Fernandes?
Ricardo Fernandes representou Sporting e FC Porto
Médio de características
ofensivas, com qualidade técnica, e bom executante de bolas paradas, nasceu em
Moreira de Cónegos e cresceu futebolisticamente nas camadas jovens do Desportivo
das Aves, mas quando transitou para sénior mudou-se para o Moreirense,
então na II
Liga.
Entre 1997 e 2000 contribuiu para
uma ascensão meteórica do Freamunde
na pirâmide do futebol português, da III Divisão Nacional ao meio da tabela da II
Liga, explodindo em 1999-00 com nove golos em 31 jogos no segundo
escalão. No início dessa época assinou um
contrato válido com o Sporting
a partir da temporada seguinte, tendo chegado a fazer a pré-época às ordens de Augusto
Inácio e participado em vários encontros particulares no verão de 2000, mas
na hora da verdade foi emprestado ao Santa
Clara, tendo ajudado os açorianos
a sagrarem-se campeões da II
Liga. Em 2001-02 estreou-se na I
Liga com a camisola do Gil
Vicente, por empréstimo dos leões,
e somente na temporada que se seguiu é que ficou definitivamente integrado no
plantel dos verde
e brancos, então às ordens de Laszlo
Bölöni. Depois de uma boa pré-época, com
alguns golos, foi suplente utilizado no jogo
inaugural da temporada, diante do Inter de Milão para a terceira
pré-eliminatória da Liga dos Campeões, e titular na goleada ao Leixões
para a Supertaça
Cândido de Oliveira (5-1), tendo estado em evidência ao bisar e falhar um
penálti.
Nessa fase inicial da época foi
beneficiando da ausência de João Vieira Pinto, suspenso devido a uma agressão
ao árbitro do Portugal-Coreia
do Sul no Mundial 2002, mas rapidamente perdeu espaço após o regresso à atividade
do “grande artista”. Desapareceu da equipa no final de setembro e reapareceu a
meio de dezembro para bisar numa goleada ao Oliveira
do Hospital para a Taça
de Portugal (8-1) e entre o final de janeiro e início de fevereiro, tendo
apontado um golo num triunfo sobre o Paços
de Ferreira em Alvalade
para o campeonato (4-0).
Feitas as contas, fechou a
temporada 2002-03 com 12 jogos e cinco golos pela equipa principal e nove
partidas pela equipa B. “Cheguei ao final da época sem saber se o homem [Bölöni]
gostava muito de mim ou não gostava nada de mim. Isto não é uma crítica. A
nível pessoal tivemos sempre boa relação, só que eu percebia que não ia jogar.
Tinha vindo de uma época boa no Gil
Vicente, tinha sido a minha estreia na I
Liga. Inicio a pré-época a pensar: ‘Aqui vai ser mais difícil, não me dou
como perdido, mas sei bem que vai ser difícil, apesar do João estar castigado e
jogarmos mais ou menos na mesma posição...’ A minha vontade foi sempre sair.
Entrei com vontade de ser emprestado. Percebi que o Bölöni
não valorizava muito aquilo que fazia, mas fui andando devagarinho e sempre com
esta coisa de querer sair”, recordou à Tribuna
Expresso em outubro de 2018.
Apesar da escassa utilização,
tinha um fã chamado… José
Mourinho, treinador do FC
Porto que havia acabado de conquistar campeonato, Taça
de Portugal e Taça
UEFA. Já o técnico que sucedeu a Bölöni
no Sporting,
Fernando Santos, era um grande apreciador das qualidades do extremo portista Clayton.
Os clubes conversaram e deu-se uma troca de jogadores. “Eu na altura estava
lesionado, tinha feito uma cirurgia ao ombro, estava parado e fiquei um
bocadinho com o pé atrás. Custava-me a acreditar, apesar de saber que o Mourinho
já me queria ter levado para Leiria. Tinha jogado pouco no Sporting.
O FC
Porto estava a ganhar tudo naquela época e ia-se lembrar do Ricardo
Fernandes? Mas surgiu aquela situação da troca com o Clayton
e o presidente contacta-me. Nunca tinha falado com o Pinto
da Costa, mas quando ouvi aquela voz do outro lado... Não acreditava. Só
que é uma voz inconfundível”, lembrou. Ainda que tapado por Deco, conseguiu
atuar em 21 encontros numa equipa que venceu Supertaça
Cândido de Oliveira, campeonato e Liga
dos Campeões e que ainda disputou a Supertaça
Europeia e a final da Taça
de Portugal. Ricardo Fernandes foi utilizado em todas essas competições,
tendo defrontado, por exemplo, AC
Milan na Supertaça Europeia e Real
Madrid e Manchester
United na Champions. “Até cheguei bem, comecei a época
com confiança, mas fui perdendo-a. Aquilo era tudo tão perfeito que eu olhava
mais para o lado do que para mim próprio. Acabou por me prejudicar”, explicou,
ao Maisfutebol,
em maio de 2022. “Fui à Corunha com o meu pai, de carro, e o Mourinho
gostou de me ver no balneário no final. Depois, na final [da Champions],
fiquei na bancada com o Secretário. Era a minha companhia em muitos jogos e o
Secretário até brincava com a situação: ‘Tu és o 19.º jogador, eu sou o 20.º. E
foi assim que festejei na Alemanha, de fato”, acrescentou o médio, que ao
serviço dos azuis
e brancos se sagrou campeão nacional da I
Divisão depois ter feito o mesmo na II Divisão B e na II
Liga e de ter sido vice-campeão da III Divisão após ter vencido a sua
série. Dispensado por Luigi del Neri, rescindiu
com o FC
Porto e teve a possibilidade de assinar por Vitória
de Guimarães e Sp.
Braga, mas acabou por optar por rumar à Académica.
Apesar de ter algum estatuto, foi pouco utilizado em Coimbra, não indo além de
22 jogos e dois golos (ambos ao Sp.
Braga na jornada inaugural) em todas as competições em 2004-05.
Seguiram-se onze anos no
estrangeiro, em países como Chipre – foi campeão pelo APOEL em 2006-07 e venceu
a taça cipriota na época anterior –, Ucrânia, Israel e Grécia, antes de
regressar a Portugal em 2016 para competir no Campeonato
de Portugal ao serviço do Trofense
e posteriormente do Felgueiras,
tendo pendurado as botas em 2018, aos 40 anos.
Após encerrar a carreira focou-se
nos negócios, tendo passado a gerir um restaurante japonês - Miyuki - no Parque
das Termas de Vizela.
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