quinta-feira, 12 de junho de 2025

O génio excêntrico de FC Porto e Sporting que chegou a selecionador. Quem se lembra de Oliveira?

António Oliveira brilhou de leão e dragão ao peito
Um dos jogadores mais geniais da história do futebol português, um criativo que gostava de atuar solto atrás dos avançados, onde podia dar largas à imaginação e talento que possuía. Um génio que, assegura quem o viu jogar, poderia ter ido mais longe na carreira não fosse a personalidade difícil que faziam dele uma espécie de enfant terrible.
 
Aos 13 anos já treinava com os seniores do Penafiel, mas como o clube duriense não tinha camadas jovens, resolveu mudar-se para o FC Porto, emblema no qual se começou a destacar como… lateral esquerdo. “Vi pela primeira vez o António a jogar nos nossos juniores, como defesa esquerdo! Eu, treinador de bancada, pensava que ele tinha talento a mais para jogar naquele posto. Contratado para treinador o José Maria Pedroto, após analisarmos o nosso plantel, ele foi da mesma opinião e disse-me que iria fazer dele, como avançado, um jogador que ficaria na nossa história. E mais do que ficar na nossa história ficou na do futebol português”, contou Pinto da Costa no livro Azul até ao Fim.
 
António Oliveira estreou-se pela equipa principal dos dragões a 2 de maio de 1971, quando tinha apenas 18 anos, e foi ganhando paulatinamente o seu espaço até se tornar numa das principais figuras dos azuis e brancos, o maestro e capitão da equipa que em 1977-78 quebrou o longo jejum de 19 anos sem o título nacional – na época anterior havia contribuído para a conquista da Taça de Portugal.
 
Depois de ter ajudado o FC Porto a sagrar-se bicampeão em 1978-79, viveu a primeira das suas polémicas. Numa altura em que Portugal começava a exportar alguns futebolistas, como João Alves, Norton de Matos, Seninho e Vítor Baptista, António Oliveira sentiu o chamamento do estrangeiro e sobretudo do dinheiro, tendo assinado pelo Betis, numa transferência que rendeu 36 mil contos ao emblema da Invicta. A Federação Portuguesa de Futebol ainda tentou intrometer-se para impedir que o jogador saísse, temendo uma debandada geral, mas a secretária de Estado do Trabalho, Manuela Aguiar, interveio para defender os futebolistas no direito à emigração por melhores condições laborais, permitindo que o médio ofensivo fosse para Sevilha ganhar um salário mensal de 60 contos.
 
 
No entanto, Oliveira não se adaptou a Espanha, tendo pedido para regressar a casa ao fim de meio ano, após apenas dez jogos realizados pelos béticos. “A minha visão do mundo é nitidamente provinciana – foi a conclusão a que cheguei depois de ter vivido seis meses de solidão espiritual”, resumiu.
 
Para permitir o regresso às Antas, o presidente do Betis exigiu uma indemnização de 6000 contos ao FC Porto. O presidente portista Américo de Sá hesitou e deixou Oliveira à beira de um ataque de nervos, ao ponto de ter sido o próprio a predispor-se para pagar esse valor do seu próprio bolso.
 
Porém, no verão de 1980, numa altura de alguma instabilidade no clube devido à luta de poderes entre Américo de Sá e Pinto da Costa, Oliveira saiu – quando já somava um total de 253 jogos e 92 golos de dragão ao peito – e voltou ao Penafiel para ter a sua primeira experiência como jogador-treinador, contribuindo para um honroso 10.º lugar na época de estreia dos durienses na I Divisão.
 
 
Na temporada seguinte reforçou o Sporting para formar um trio de ataque demolidor com Manuel Fernandes e Rui Jordão. Juntos marcaram quase 80 golos (Jordão 34, Oliveira 22 e Manuel Fernandes 21) e conquistaram a dobradinha em 1981-82, apesar de não serem propriamente os melhores amigos. O médio ofensivo falhou, devido a lesão, o jogo do título, o dérbi com o Benfica em Alvalade – vitória por 3-1 com hat trick de Jordão –, mas antes do encontro proferiu uma frase que ficou para sempre lapidada na memória dos sportinguistas: “Por cada leão que cair outro se levantará.” Nesse ano foi também distinguido com o Prémio Stromp, na categoria Atleta Profissional.
 
No início da época que se seguiu, na sequência de um atribulado estágio de pré-temporada que resultou no despedimento do técnico inglês Malcolm Allison, o presidente João Rocha entregou a Oliveira o comando da equipa, passando o médio a exercer a função de jogador-treinador. Foi assim que guiou os leões à conquista da Supertaça Cândido de Oliveira e aos quartos de final da Taça dos Campeões Europeus, naquela que ainda hoje é a melhor campanha de sempre do clube na competição.
 
Contudo, a situação de jogador-treinador nunca agradou às outras estrelas da equipa. Depois de uma derrota pesada em Braga (0-3) em março de 1983 que coincidiu com uma lesão que lhe exigiu um mês de repouso absoluto, Oliveira foi substituído interinamente por Martinho Mateus no comando técnico até à chegada de Josef Venglos, voltando depois a futebolista a tempo inteiro.
 
 
Haveria de permanecer em Alvalade até ao verão de 1985, despedindo-se ao fim de 94 jogos e 42 golos, para viver uma última experiência como jogador-treinador, no Marítimo, aos 33 anos.
 
Depois pendurou as botas, colocando ponto final numa carreira que contemplou 24 internacionalizações e sete golos pela seleção nacional A, e dedicou-se a tempo inteiro às funções de treinador.
 
Passou sem grande sucesso pelos bancos de Vitória de Guimarães, Académica, seleção nacional de sub-21, Gil Vicente e Sp. Braga, chegando a descer de divisão ao leme dos estudantes em 1987-88, mas ainda assim foi convidado para assumir o cargo de selecionador nacional dos AA, tendo qualificado a equipa das quinas à fase final do Euro 1996 – após dez anos de ausência em fases finais – e guiado a seleção aos quartos de final desse Campeonato da Europa.
 
 
Após o torneio foi convidado por Pinto da Costa para se tornar treinador do FC Porto, tendo guiado os dragões ao tri (1996-97) e ao tetra (1997-98) na sequência do único pentacampeonato do futebol português, além de ter vencido uma Supertaça Cândido de Oliveira (1996) e uma Taça de Portugal (1997-98).
 
No verão de 1998 alegou motivos pessoais e familiares para deixar o comando técnico dos portistas, numa altura em que tinha o seu nome associado aos casos Paula e N’Dinga e detinha, juntamente com o irmão Joaquim Oliveira, a Sportinveste, holding do grupo formada nesse ano e da qual faziam parte, entre outras, Olivedesportos, PPTV – Publicidade de Portugal, Jornalinveste (proprietária de O Jogo) e participações na Sport TV e na Sportinveste Multimédia.
 
Em 1998-99 teve uma fugaz passagem pelo comando técnico do Betis, abandonando o cargo ainda antes da época começar devido a um desentendimento com o presidente.
 
Depois de cerca de dois anos sem treinador, voltou a exercer as funções de selecionador nacional em 2000. Conseguiu qualificar a equipa das quinas para o Mundial 2002 – após 16 anos de ausência de Portugal em Campeonatos do Mundo –, mas não foi além da fase de grupos. A participação portuguesa no torneio ficou ainda marcada por uma convocatória algo polémica, com a inclusão de jogadores conceituados a viver momentos delicados na carreira como Paulo Sousa ou Vítor Baía, o teste positivo de Kenedy num controlo antidoping e um estágio demasiado prolongado no continente asiático.
 
Nunca mais voltou a treinar, mas não se afastou do futebol. Entre 2004 e 2007 foi presidente do Penafiel, tendo convidado o velho conhecido Manuel Fernandes para treinador, e mais recentemente foi apontado como possível sucessor de Pinto da Costa na presidência do FC Porto



 





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