A minha primeira memória de… um jogo entre Espanha e Croácia

David Silva e Strinic disputam a posse de bola

A minha primeira memória de um jogo entre Espanha e Croácia remonta ao primeiro jogo oficial entre ambas as seleções, na fase de grupos do Euro 2012, depois de quatro particulares entre 1994 e 2006.

 

Na altura, la roja de Vicente del Bosque era campeã europeia e mundial e tinha um conjunto fantástico de jogadores. Onze inicial era composto maioritariamente por jogadores de Real Madrid e Barcelona, como Casillas, Arbeloa, Sergio Ramos, Piqué, Busquets, Xabi Alonso, Xavi, Iniesta e várias vezes também Pedro e Fàbregas. Havia ainda um Jordi Alba prestes a dar o salto do Valencia para o Barça, um David Silva titularíssimo do Manchester City, Fernando Torres e habituais suplentes de luxo como Javi Martínez, Juan Mata, Santi Cazorla, Jesús Navas, Álvaro Negredo ou Fernando Llorente.

 

Já a Croácia de Slaven Bilic não tinha marcado presença no grande torneio anterior, o Mundial 2010, mas tinha já um esboço do que viria a seleção poderosa dos anos seguintes, com Modric (ainda no Tottenham), Rakitic (Sevilha), Mandzukic (Wolfsburgo), Strinic (Dnipro), Vida e Vrsaljko (ambos Dínamo Zagreb), Subasic (Mónaco, na II Liga Francesa) e Perisic (Borussia Dortmund).

 

O jogo entre Espanha e Croácia era referente à 3.ª jornada da fase de grupos e opunha os dois primeiros do agrupamento, ambos com quatro pontos. Atrás vinha a Itália, com dois pontos, mas que nessa ronda defrontava a seleção mais débil do grupo, a República da Irlanda.

 

O empate, que servia a Espanha e poderia servir a Croácia caso Itália não vencesse o seu jogo, perdurou até bem perto do apito final. Espanha dominou através da posse bola (entre 70 a 75%), mas jogou quase sempre longe da área adversária, enquanto os croatas tentavam preencher os espaços através de um meio-campo mais reforçado.

 

Num jogo sem muitas ocasiões de golo, a Croácia arriscou mais na segunda parte e Perisic esteve mesmo perto de abrir o ativo, mas esse risco acabou por ajudar Espanha a chegar ao golo da vitória, por intermédio do recém-entrado Jesús Navas, a passe de Iniesta (88 minutos).

 

Numa crónica redigida para este blogue, salientei a “postura defensiva” adotada pela Croácia na primeira parte, “com apenas um ponta de lança, um meio-campo povoado e, no lado direito da defesa, um jogador mais posicional em relação a Srna (Vida), com o lateral do Shakhtar Donetsk a atuar como extremo”. Por seu lado, “Espanha, sempre com uma elevadíssima percentagem de posse de bola, trocava-a longe da baliza contrária, de forma descontraída, até porque o empate também dava a qualificação”.

 

“No segundo tempo, a seleção dos Balcãs soltou-se, tornou-se mais atrevida, e quase sempre guiada por Modric, criou alguns sobressaltos ao sector defensivo dos espanhóis. Curiosamente, com a entrada de dois homens mais ofensivos, Perisic (extremo direito) e Jelavic (ponte de lança), os croatas perderam capacidade ofensiva, porque o seu comandante do ataque, o médio do Tottenham, recuou e passou a partir com bola muito mais de trás, a par do outro médio-defensivo, Vukojevic. E quando este foi substituído, Modric teve de segurar o meio-campo e escusado será dizer que nunca mais se viu, tal como o perigo da formação orientada por Slaven Bilic. Depois, em contragolpe, Jesús Navas deu a vitória à Espanha”, concluí.

 

Individualmente, do lado da Croácia destaquei a competência defensiva de Vida e Schildenfeld, o perigo causado por Rakitic quando apareceu mais adiantado no terreno, o “cérebro” Modric responsável por “passes teleguiados a qualquer distância” e a combatividade de Mandzukic. Da parte de Espanha sublinhei as “intervenções complicadas” que Casillas fez, a profundidade dada ao flanco esquerdo por Jordi Alba e as exibições completas de Sergio Ramos e Piqué a atacar e defender.