Nuno Gomes deu a Portugal a única vitória oficial sobre Espanha |
O histórico de
confrontos (oficiais e amigáveis) entre Portugal e Espanha é
francamente favorável a nuestros hermanos, mas há várias
décadas que a equipa das quinas tem vindo a dar cada vez mais luta à
seleção do país vizinho.
No total, Espanha soma 16
vitórias contra seis de Portugal – e 17 empates –, mas no que
concerne a jogos oficiais la roja tem quatro triunfos contra
um da armada lusitana, numa contabilidade em que também constam
cinco igualdades.
O primeiro duelo entre
portugueses e espanhóis, que também foi o primeiro jogo da história
da seleção lusa, remonta a 18 de dezembro de 1921, com Espanha a
vencer por 3-1 no Campo de O`Donnell, em Madrid. Já os dois
primeiros compromissos oficiais entre as duas seleções foram
disputados em 1934, ambos relativos à fase de qualificação para o
Campeonato do Mundo desse ano.
11 de março de 1934 –
Fase de qualificação para o Mundial 1934
Espanha
9-0 Portugal
Depois de não ter sido
convidado para participar no Mundial 1930 – o único que não teve
fase de qualificação –, Portugal disputou com Espanha uma espécie
de playoff de apuramento para o Campeonato do Mundo de 1934,
que haveria de se realizar em Itália.
No primeiro jogo, no
Estádio Chamartín – que antecedeu o Santiago Bernabéu como palco
dos jogos em casa do Real
Madrid –, la roja atropelou a seleção lusa então
orientada por Ribeiro dos Reis, que até ficou em Lisboa por motivos
de saúde da mãe, com um expressivo 9-0. Chacho (cinco minutos),
Isidro Lángara (10', 12 g.p.', 47', 79' e 85'), Luis Regueiro (68' e
76') e Ventolrà (77').
De nada valeu o apoio
dado pela multidão na estação de Santa Apolónia antes da viagem
de comboio entre Lisboa e Madrid.
Em Portugal, a goleada
foi alvo de chacota, tendo ganhado fama uma canção chamada Trevo
de Quatro Folhas, de Nascimento Fernandes, que mofava: “Quando
a seleção trabalha/ Como eu quero/ Então é que não falha/ Nove a
zero!”
18 de março de 1934 –
Fase de qualificação para o Mundial 1934
Portugal
1-2 Espanha
Apesar da derrota pesada
sofrida em Madrid, uma vitória portuguesa em Lisboa
(independentemente dos números) levaria as duas seleções para um
jogo de desempate.
Já com Ribeiro dos Reis
no banco, Portugal até se colocou em vantagem logo aos onze minutos,
por Vítor Silva. No entanto, Espanha reagiu rapidamente e aos 25' já
tinha dado a volta ao resultado, graças a dois golos de Isidro
Lángara (13' e 25').
Apesar da derrota, a luta
dada à equipa de nuestros hermanos restaurou o orgulho
nacional.
2 de abril de 1950 –
Fase de qualificação para o Mundial 1950
Espanha
5-1 Portugal
16 anos depois, as duas
seleções voltaram a defrontar-se numa fase de qualificação para
um Campeonato do Mundo. Pelo meio, tinham medido forças em oito
jogos de caráter particular, com Portugal a conseguir a primeira
vitória de sempre sobre a vizinha Espanha em 1947 (4-1).
Apesar das esperanças
renovadas, a armada lusitana orientada por Salvador do Carmo saiu do
Estádio Nuevo Chamartín – assim designado até 1955, quando
passou a adotar o nome Santiago Bernabéu – goleada por 1-5.
Telmo Zarra, que até
novembro de 2014 era o melhor marcador de sempre da liga espanhola,
bisou (18 e 58 minutos). Estanislao Basora (19'), Jose Panizo (20') e
Luis Molowny (65') marcaram os restantes golos espanhóis, ao passo
que Fernando Cabrita foi o autor do tento de honra português (38').
9 de abril de 1950 –
Fase de qualificação para o Mundial 1950
Portugal
2-2 Espanha
Ao quarto jogo, Portugal
saiu de um dérbi ibérico sem ser com uma derrota.
No Estádio Nacional, o
inevitável Telmo Zarra colocou Espanha em vantagem aos 25 minutos.
No início da segunda parte a seleção lusa então orientada por
Salvador do Carmo mostrou-se afinada, com os violinos Travassos (52')
e Jesus Correia (54') a darem a volta ao resultado. No entanto,
Agustín Gainza igualou o encontro já na reta final (82') e colocou
um ponto final nas aspirações portuguesas.
Ainda assim, Portugal foi
convidado (tal como França) a marcar presença no Campeonato do
Mundo, em substituição das desistentes Escócia e Turquia, mas
acabou por recusar. Se tivesse aceitado o convite, teria ficado
integrado o grupo 4, ao lado de Uruguai (que viria a sagrar-se
campeão mundial) e Bolívia.
17 de junho de 1984 –
Euro 1984 (2.ª jornada da fase de grupos)
A estreia portuguesa em
Europeus começou com um empate a zero diante da detentora do título
europeu, a Alemanha (0-0). Também na jornada inaugural do Grupo 2,
Espanha e Roménia também não foram além de uma igualdade (1-1).
No dérbi ibérico da
segunda jornada, António Sousa inaugurou o marcador no Estádio
Vélodrome, em Marselha, através de um remate colocadíssimo que não
deu qualquer hipótese de defesa ao mítico guarda-redes Luis
Arconada (52 minutos). Contudo, Santillana deu o empate à la roja
cerca de 20 minutos depois (73'), na sequência de um pontapé de
canto e de uma série de ressaltos.
20 de junho de 2004 –
Euro 2004 (3.ª jornada da fase de grupos)
Ao sexto encontro
oficial, a primeira vitória para Portugal.
Um jogo que será
recordado para sempre por quem o viveu. Portugal organizava o Euro
2004, mas corria o sério risco de pela primeira vez não ir além da
fase de grupos. Após a derrota na estreia às mãos da Grécia e de
uma vitória sobre a Rússia na segunda jornada, a seleção nacional
estava obrigada a ganhar à vizinha Espanha, que nunca tinha vencido
em jogos oficiais, para seguir em frente na competição. Iker
Casillas, Carles Puyol, Xabi
Alonso, Raúl e Fernando Torres eram algumas das figuras de la
roja.
Ao intervalo, com o
resultado empatado a zero, o selecionador Luiz Felipe Scolari decide
substituir Pauleta, que tinha marcado golos atrás de golos durante a
fase de preparação, mas que ainda estava em branco no torneio, por
Nuno Gomes, um avançado com menos olhos para a baliza, mas com mais
vocação para combinar com os companheiros.
Porém, ao minuto 57 Nuno
Gomes decidiu esquecer os companheiros e meter os olhos na baliza
adversária. “Eu respeitava demasiadas vezes os movimentos dos
companheiros. Alguns críticos apontavam-me o facto de não ser
egoísta como um defeito para um ponta de lança, e em parte concordo
com eles. Por isso, quando o Figo inicia o lance, a lógica diz-me
para fazer o 1-2 com ele. Acontece que já naquela altura se
analisavam os adversários em pormenor, e acredito que os defesas
espanhóis sabiam perfeitamente as diferenças entre a minha forma de
jogar e a do Pauleta. Quando o Figo corre para o meio vê-se que dois
deles [Juanito e Albelda] acompanham o movimento para fechar. É
nesse momento que hesito e me lembro de fugir, por uma vez, aos meus
princípios como jogador. Muitas vezes quando recebemos de costas
para a baliza nem temos tempo para dominar, sentimos logo o central
nos calcanhares. Mas nesse caso percebi que ele [Helguera] não tinha
acompanhado e estava à espera da entrada do Figo. Por isso, uma vez
tomada a decisão, tenho tempo para dominar, rodar e preparar o
remate. Muitas vezes o defesa que sai ao remate levanta uma perna,
para aumentar o volume do corpo. Os avançados sabem que se a bola
passar aí o guarda-redes não a vê logo. Acho que foi isso que
aconteceu: quando rematei a bola passou muito perto das pernas do
Juanito, primeiro, e do Helguera, depois, e o Casillas
não a viu partir. Quando viu, já não podia chegar a tempo”,
descreveu o marcador do golo ao Maisfutebol.
Depois Portugal resistiu
durante a última meia hora e carimbou o passaporte para os quartos
de final.
29 de junho de 2010 –
Mundial 2010 (oitavos de final)
O Green Point Stadium, na
Cidade do Cabo, na África do Sul, foi palco do primeiro dérbi
ibérico num Campeonato do Mundo. Desta feita, houve espaço para as
duas seleções num Mundial.
Após superar um grupo
onde também constavam Brasil, Costa do Marfim e Coreia do Norte, a
seleção portuguesa orientada por Carlos Queiroz encontrou pela
frente a campeão europeia, comandada por Vicente del Bosque e com
cinco jogadores da melhor equipa mundial da altura, o Barcelona
de Pep Guardiola, no onze inicial (Puyol, Piqué, Busquets,
Xavi e Iniesta).
Apesar do favoritismo de
la roja, Portugal conseguiu equilibrar a partida, saindo
derrotado devido a um golo obtido de forma irregular, uma vez que o
seu autor, David Villa, se encontrava em posição de fora de jogo
(63 minutos).
Ainda assim, as opções
táticas de Queiroz deram que falar: Ricardo Costa, um central de
raiz, foi escolhido para o lado direito da defesa, enquanto os
laterais Miguel e Paulo Ferreira não saíram do banco; Pepe
foi utilizado como médio defensivo e foi convocado para o Mundial
apesar de não jogar desde dezembro do ano anterior; minutos antes do
golo, o ponta de lança Hugo Almeida foi rendido por Danny; João
Moutinho, que tinha sido sempre convocado para os jogos da fase
de qualificação e que vinha de uma época positiva no Sporting,
não foi chamado para o Mundial; e Nani, que tinha sofrido uma lesão
no ombro, foi cortado da lista dos convocados apesar de vaticinar um
período de recuperação de... uma semana.
Após o encontro,
Cristiano
Ronaldo recusou prestar declarações aos jornalistas, mas ainda
assim proferiu uma declaração que fez correr muita tinta:
“perguntem ao Carlos Queiroz porque Portugal foi eliminado.”
Por outro lado, Queiroz
justificou a saída de Hugo Almeida por cansaço, mas o próprio
avançado desmentiu essa ideia: “Não estava esgotado. É óbvio
que fiquei chateado. Queria jogar mais.”
Também Deco, que tinha
feito nesse dia o seu último jogo pela seleção, proferiu uma frase
polémica. Questionado sobre se havia bom ambiente no balneário, o
médio respondeu: "Entre os jogadores... sim."
27 de junho de 2012 –
Euro
2012 (meias-finais)
Paulo Bento sucedeu a
Carlos Queiroz como selecionador nacional após o Mundial 2010 e
levou Portugal às meias-finais do Campeonato
da Europa de 2012, após superar um grupo onde também estavam
integradas as seleções de Alemanha,
Dinamarca
e Holanda
e depois de eliminar
a República Checa nos quartos de final.
Do outro lado estava uma
Espanha que era simultaneamente campeã europeia e mundial, mas a
equipa das quinas voltou a conseguir equilibrar a partida, arrastando
um empate a zero até ao desempate por grandes penalidades. Aí
os espanhóis venceram por 4-2 – Cristiano Ronaldo, que tinha
ficado para o fim para bater o quinto penálti, acabou por nem poder
tentar a sorte, uma vez que no pontapé anterior Fàbregas tinha
garantido a vitória para la
roja.
15 de junho de 2018 –
Mundial 2018 (1.ª jornada da fase de grupos)
Portugal
3-3 Espanha
No arranque do Mundial
2018 houve duelo ibérico, numa altura em que ambas as seleções
viviam momentos algo conturbados: Rui
Patrício, William
Carvalho, Bruno
Fernandes e Gelson
Martins tinham acabado de rescindir unilateralmente com o
Sporting
como consequência da invasão à Academia do clube; e Fernando
Hierro tinha sucedido a Julen Lopetegui no comando da seleção
espanhola em vésperas do início do torneio após Lopetegui ter sido
anunciado como novo treinador do Real
Madrid.
E se houve algo que o
jogo de Sochi (Rússia) também teve instabilidade. Mas uma
instabilidade positiva, uma vez que Portugal esteve por duas vezes em
vantagem mas acabou por evitar a derrota ao cair do pano.
Logo aos quatro minutos,
Cristiano
Ronaldo converteu uma grande penalidade a castigar falta sobre o
próprio, dando vantagem à seleção orientada por Fernando Santos.
Diego
Costa empatou aos 24', mas CR7
recolocou a equipa das quinas em vantagem no final da primeira parte
através de um remate de pé esquerdo, num lance em que o
guarda-redes De Gea não ficou nada bem na fotografia.
No segundo tempo, Espanha
deu a volta ainda no primeiro quarto de hora, graças a golos de
Diego
Costa (55') e Nacho Fernández (58'). Contudo, nos últimos
minutos da partida Ronaldo
dispôs de um livre direto em zona frontal e empatou o encontro de
forma magistral.
2 de junho de 2022 –
Liga das Nações (1.ª jornada da fase de grupos)
Espanha
1-1 Portugal
Na terceira edição da
Liga das Nações, ficaram colocadas no mesmo grupo a primeira
seleção a vencer o troféu (Portugal) e a finalista vencida da
segunda edição (Espanha).
E o duelo ibérico marcou
mesmo o arranque da prova, tendo como palco o Estádio Benito
Villamarín, em Sevilha, a cerca de 140 quilómetros da fronteira com
Portugal.
Álvaro Morata colocou la
roja em vantagem, aos 25 minutos, mas Ricardo Horta, que voltava
à equipa das quinas após quase oito anos de ausência, empatou aos
82'.
Antes do encontro, os
adeptos espanhóis assobiaram o hino português.
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