sábado, 30 de julho de 2022

A minha primeira memória de... um jogo entre Real Madrid e Juventus

Zidane procura fugir a Del Piero e ao compatriota Trezeguet
Falar da minha primeira memória de um jogo entre Real Madrid e Juventus é regressar à infância, a um tempo em que não havia dois ou três candidatos à Bola de Ouro, mas sim cerca de uma dúzia. Talvez ninguém desse lote mais alargado apresentasse os números de Cristiano Ronaldo, Lionel Messi e mais recentemente Lewandowski e Benzema, mas tinham uma classe e um carisma tremendos. Neste jogo – ou melhor, neste duplo confronto – que recordo estão vários desses nomes: Roberto Carlos, Zinedine Zidane, Luís Figo, Raúl, Ronaldo, Pavel Nedved e Alessandro Del Piero.

E agradeçam o meu poder de síntese pois consegui deixar de fora aquele que na altura era considerado por muitos o melhor guarda-redes do mundo (Buffon), um dos avançados mais temíveis do futebol mundial (David Trezeguet) e um dos centrocampistas mais conceituados e carismáticos na altura (Edgar Davids).

O Real Madrid era o campeão europeu e contava com uma equipa recheada de galácticos, mas do outro lado estava uma Juventus que se preparava para conquistar o bicampeonato em Itália. Na primeira-mão das meias-finais da Liga dos Campeões 2002-03, no Santiago Bernabéu, a formação de Turim preocupou-se em chegar viva ao reencontro da semana seguinte. Aos 23 minutos, Ronaldo isolou-se e, com frieza, bateu Buffon. E contra a corrente, Trezeguet empatou no final da primeira parte, aproveitando uma bola perdida na área na sequência de vários ressaltos. Os merengues voltaram a marcar aos 73', por Roberto Carlos, num pontapé de ressaca no seguimento de um canto, mas não ficaram propriamente tranquilos quando o apito final confirmou a vitória por 2-1.




“O Real Madrid sentiu muito a ausência de Raúl, e a lesão de Ronaldo, no começo da segunda parte, ainda baralhou mais o campeão europeu. A Juventus, segura de si e sempre imperturbável, marcou um golo e teve mérito na forma como cortou linhas de passe e acertou nas marcações. A juntar à classe e à disciplina de jogo que patenteia, a vecchia signora descansou mais com a saída de Ronaldo, autor do primeiro golo da noite, num tiro indefensável após combinação entre Figo e Morientes. Portillo, que entrou para o lugar do Bola de Ouro, não tem a força, a classe e a velocidade do fenómeno. Sem Ronaldo, a Juve respirou um pouco melhor, acabando por sofrer o segundo, num remate colocadíssimo de Roberto Carlos, após canto de Figo. A presença de Morientes na equipa titular fez com que Guti jogasse ao lado de Makelele. O avançado espanhol atuou perto de Ronaldo, respondendo a Juventus com Iuliano e Ferrara no eixo (curiosamente vão ficar de fora na segunda mão). O golo de Ronaldo, aos 23 minutos, não espicaçou a Juventus. O Real manteve o pé no acelerador na procura do segundo. Já Figo infernizava a vida a Birindelli. Só que a Juve é uma fortaleza e sabe reagir. Com alguma sorte pelo meio, ao cair do pano para o intervalo, Trezeguet empatou. Na segunda parte, Lippi colocou Thuram no eixo defensivo, Birindelli viajou para a direita, entrando Pessotto para marcar Figo. O português começou bem e sentou por duas vezes o lateral. Sem Ronaldo, o Real perturbou-se e a equipa ficou partida. Reagiu a Juve que foi trocando a bola, segurando o empate. O pressing do Real nos últimos 20 minutos deu frutos: Roberto Carlos marcou e, nos últimos segundos, Figo e Helguera quase sentenciavam a eliminatória. A Juve saiu de Madrid a sorrir: basta-lhe um golo para chegar à final”, podia ler-se na edição do jornal O Jogo do dia seguinte.



No mítico Estádio Delle Alpi, na segunda-mão, os jogadores da Juventus superaram-se e alcançaram uma vitória por 3-1, tendo chegado a estar com três golos de vantagem. Trezeguet deu o mote aos 12 minutos, ao marcar o primeiro, à boca da baliza, após Del Piero ganhar nas alturas a Míchel Salgado. No final da primeira parte Del Piero fez o 2-0, na sequência de um belíssimo trabalho individual. No início do segundo tempo Figo dispôs de uma grande penalidade, mas permitiu a defesa de Buffon. Aos 73', Nedved sentenciou a eliminatória através de um pontapé fantástico, mas pouco depois viu um cartão amarelo que o tirou da final frente ao AC Milan. Até ao apito final, Zidane marcou o golo de honra do Real Madrid em Turim.

“A Juventus qualificou-se para a final da Liga dos Campeões ao bater o Real Madrid, que sentiu em demasia o golo madrugador de Trezeguet, perturbando-se e abrindo brechas imperdoáveis nas linhas atrasadas. A ausência de Makelele, as fragilidades físicas evidenciadas por Raúl, o momento intermitente de Ronaldo, lançado apenas na segunda parte, as gritantes debilidades defensivas, a classe de Del Piero e Nedved, foram contras a mais mesmo para a que é considerada a equipa maravilha do circuito mundial. Na final de 28 de Maio, em Old Trafford, a Juve, a fazer uma época notável, encontrará outra equipa italiana, o Milan. Não se confirmou o desejo de Rui Costa que queria encontrar Figo na final. A Juve não deixou, e a estrela portuguesa tem razões de sobra para não esquecer o embate de ontem no Delle Alpi: falhou um penálti (67’), quando estava 2-0, que podia ter invertido o curso aos acontecimentos, levou um amarelo e não teve a interferência no jogo ofensivo merengue como costuma ter. O golo de Zidane, aos 87’, ainda trouxe alguma emoção ao clássico que a equipa de Turim, com uma frieza impressionante, controlou, garantindo a sua oitava presença na final. Figo ficará ligado ao afastamento do Real Madrid, porque falhou no altura de não falhar. O que é raro. Na marcação de um penálti, a castigar derrube de Montero a Ronaldo, o extremo português partiu sem confiança e denunciou o remate. No mesmo lance, o suíço Urs Meier, que dirigiu o encontro, errou duas vezes: Ronaldo partiu em posição irregular e Montero, que fez a falta, devia ter visto o cartão vermelho direto, mas nem o amarelo viu, o que, no caso, até seria o segundo”, escreveu o jornal O Jogo.






 

 



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