Vitória de Setúbal e Alverca medem forças na Liga 3 |
Dois clubes que já andaram entre
a elite do futebol português, embora com dimensões históricas bem distintas, Vitória
de Setúbal e Alverca coincidiram em três temporadas na I
Liga e em duas na II
Liga entre a segunda metade da década de 1990 e o início do século XXI.
Em dez jogos entre as duas
equipas até este segundo reencontro na Liga 3, os sadinos
venceram oito, empataram um e perderam outro.
Ao longo desse percurso, os setubalenses
têm tido nos seus quadros jogadores que já tinham pertencido aos ribatejanos
e vice-versa. Vale por isso a pena conferir o nosso onze ideal de futebolistas
que passaram pelos dois clubes, distribuídos em campo num 4x4x2 clássico.
Miguel Lázaro (guarda-redes)
Miguel Lázaro |
Sem querer ser indelicado, é
justo dizer que a posição da guarda-redes é aquela em que este onze ideal não
está tão bem servido.
Afinal, Miguel
Lázaro nunca chegou a disputar um jogo oficial pelo Vitória
de Setúbal, apesar de ter integrado os quadros dos sadinos
durante cinco anos e meio (de meados de 2013 a dezembro de 2018), e defendeu a
baliza no Alverca
em 40 jogos não no período áureo dos ribatejanos,
mas sim numa fase em que os alverquenses
estavam a reaparecer nos campeonatos nacionais (de janeiro de 2019 a meados de
2020).
Ricardo Carvalho (defesa central)
Ricardo Carvalho |
Se Miguel
Lázaro é uma espécie de patinho feio deste onze, o senhor que se segue é
apenas um dos melhores defesas portugueses de todos os tempos e um campeão
europeu por clubes e seleções.
No entanto, Ricardo Carvalho era
apenas um jovem de 21 anos à procura de ganhar rodagem para integrar o plantel
principal do FC
Porto quando foi emprestado ao Vitória
de Setúbal em 1999-00, já depois de um empréstimo ao Leça
e de uma época em branco nas Antas. Nessa temporada no Bonfim
em que amealhou 28 jogos e dois golos em todas as competições, não conseguindo
evitar a descida à II
Liga.
“O [mister] Carlos Cardoso era da
velha escola. Era mais físico, mais corrida, mais esse género. Com o Rui Águas
era mais moderno, com mais bola, com joguinhos que toda a gente gosta mais. Mas
tanto com um como com o outro joguei e cresci como jogador. Na altura tinha
dois colegas, o Frechaut e o Mário Loja, que já conhecia da seleção de sub-21,
por isso foi mais fácil a entrada no balneário. Também acabei por ter boa
relação com o Hélio,
que era o capitão da nossa equipa”, contou à Tribuna
Expresso em janeiro de 2021.
Na época seguinte foi cedido ao Alverca,
numa aventura em que atuou em 32 encontros em todas as provas e marcou um golo
ao Sp.
Braga, tendo depois conseguido conquistar um lugar no plantel
portista. “O clube fez uma boa campanha, na altura o presidente era o Luís
Filipe Vieira, foi o ano também em que o Mantorras "explodiu" e
fizemos uma boa campanha. Penso que terminámos em 10.º lugar, o que para o Alverca
foi muito bom”, recordou.
Veríssimo (defesa central)
Veríssimo |
Central natural de Vila Franca de
Xira, notabilizou-se com a camisola do Alverca,
um dos clubes do seu concelho. Depois de ter passado grande parte da formação
no Benfica
e de se ter estreado pela equipa principal das águias
em março de 1996, foi cedido na segunda metade desse ano aos ribatejanos.
No arranque da época 1999-00
voltou a Alverca
e por lá ficou durante cinco anos, quatro dos quais na I
Liga. No total, amealhou 192 encontros e três golos pelos alverquenses
em todas as competições.
Depois transferiu-se para o Vitória
de Setúbal, clube pelo qual haveria de conquistar uma Taça
de Portugal e chegar a mais uma final. Entre 2004 e 2007 totalizou 74
partidas pelos sadinos
nas várias provas, incluindo Taça
UEFA.
Abel Silva (lateral direito)
No início de 1995, após meio ano
sem jogar na Luz, transferiu-se para o Vitória
de Setúbal e rapidamente ganhou um lugar no onze
sadino, tendo atuado em dez partidas, mas acabou por se mostrar impotente
para evitar a descida à II
Liga.
Seguiram-se passagens por Felgueiras,
Campomaiorense
e Estoril.
No verão de 1998 ingressou no Alverca,
que na altura tinha acabado de subir pela primeira vez à I
Liga. Em dois anos no Ribatejo amealhou 40 partidas as competições.
Nandinho (lateral esquerdo)
Nandinho |
Lateral esquerdo nascido em
Setúbal e formado maioritariamente no Vitória,
foi obrigado a procurar outras paragens quando transitou para sénior, tendo
representado Estrela
Vendas Novas, Maia e Salgueiros
nos primeiros anos de carreira.
Em 2003-04 ingressou no Alverca,
então orientado por José
Couceiro (já lá vamos…), e participou em 14 partidas em todas as provas
numa campanha que culminou na descida à II
Liga.
Apesar da despromoção, seguiu com
o treinador para o Vitória
de Setúbal. Ao longo de três anos na equipa principal do clube que o formou
amealhou 80 partidas e um golo (à Académica,
em 2006-07), venceu uma Taça
de Portugal em 2004-05, foi finalista vencido na edição seguinte e jogou na
Taça
UEFA.
“O Vitória
já não ganhava uma taça há 38 anos. Foi um marco grande. Uma loucura, Setúbal
em peso, uma cidade inteira a ir para o Jamor, foi tudo maravilhoso. Tivemos
duas finais seguidas, com duas idas à Europa
pelo meio. O Vitória
de Setúbal projetou-me no estrangeiro. Tivemos situações não muito boas.
Acontecia os clubes estarem com salários em atraso. Isto prova o valor que a
equipa tinha, a vontade dos jogadores”, contou ao Maisfutebol
em novembro de 2017, revelando que Scolari o chegou a observar com o intuito de
chamar à seleção nacional.
Paulo Filipe (médio defensivo)
Paulo Filipe |
Jogador polivalente, capaz de
atuar como central, lateral direito e médio defensivo, entra nestas contas
enquanto trinco.
Produto da formação
sadina e internacional sub-18 por Portugal, transitou para a equipa
principal em 1997-98, mas foi na época seguinte, que ficou marcada pelo
primeiro apuramento do Vitória
para as competições europeias em um quarto de século, que se conseguiu afirmar.
Nas duas temporadas que se seguiram perdeu algum espaço, mas entre 1997 e 2001
amealhou 71 jogos e dois golos com a camisola verde e branca, a maior parte na I
Liga.
Após passagens por Sp. Espinho e Torreense,
ingressou no Alverca
em 2004-05, numa temporada em que atuou em 35 partidas e marcou dois golos em
todas as competições, ajudando a assegurar em campo uma permanência de que os ribatejanos
não usufruíram porque decidiram extinguir o futebol sénior.
Hugo Leal (médio centro)
Hugo Leal |
Antiga promessa do futebol
português e campeão europeu de sub-16 em 1996, estreou-se pela equipa principal
do Benfica
quando tinha apenas 16 anos, em abril de 1997, e foi emprestado ao Alverca
menos de meio ano depois, numa altura em que os ribatejanos
eram a equipa-satélite das águias.
Nessa temporada ao serviço dos alverquenses
disputou 21 jogos e três golos em todas as provas, tendo contribuído para a
primeira subida à I
Liga da história do clube.
“Como o Benfica
tinha uma parceria com o Alverca,
com idade de júnior fui jogar com os seniores do Alverca
para a segunda divisão. Permitia-me jogar ao fim de semana também pelo Benfica.
Joguei num e noutro e no ano seguinte joguei só pelo Benfica”,
recordou à Tribuna
Expresso em julho de 2017.
Entretanto afirmou-se na Luz,
tornou-se internacional A e passou por clubes como Atlético
Madrid, Paris
Saint-Germain, FC
Porto e Sp.
Braga.
Já na curva descendente da
carreira representou o Vitória
de Setúbal durante duas temporadas, entre 2010 e 2012, período no qual
amealhou 52 partidas e dois golos com a camisola
verde e branca em todas as competições.
“Apanhei uns quantos
[treinadores]. Tive Manuel
Fernandes no primeiro ano. Houve faltas de pagamento. Houve situações
constrangedoras de gente que não tinha como sobreviver e isso fez com que me
desgastasse muito. Sofri um bocadinho também com o mal dos outros”, confessou.
Manú (extremo)
Manú |
Extremo nascido em Setúbal, fez
grande parte da formação no Vitória
entre 1992 e 1993, tendo ainda passado pelo “O
Sindicato” antes de concluir o processo formativo no Alverca
em 2000-01.
Em maio de 2002 estreou-se na
equipa principal dos ribatejanos
com um golo ao Sp.
Braga, na derradeira jornada da I
Liga e numa altura em que a despromoção estava já consumada. Porém, nas
duas épocas que se seguiram foi ganhando paulatinamente o seu espaço,
amealhando mais quatro dezenas de partidas e três golos pelos alverquenses
antes de dar o salto para o Benfica
em 2004.
Sem conseguir afirmar-se nas águias,
Manú passou pelo Estrela
da Amadora e pelo Marítimo, assim como pelos campeonatos de Itália
(Série B), Grécia, Polónia, China
e Chipre antes de regressar ao Vitória
de Setúbal no verão de 2004, numa fase em que estava prestes a comemorar o
32.º aniversário. “É um grande orgulho voltar à minha cidade e ter oportunidade
de representar, de novo e ao fim de alguns anos, o maior
emblema a sul do Tejo”, afirmou, aquando da apresentação. “Nasci e cresci
em Setúbal e foi no Vitória
que dei os primeiros pontapés na bola. Foi também aqui que comecei a ver
futebol. Quando surgiu a oportunidade nem sequer pensei duas vezes. Joguei no Vitória
entre os 6 e os 12 anos e agora tenho o privilégio de representar a equipa
principal. É um orgulho tremendo”, acrescentou, em entrevista ao Record.
Apesar das expetativas, a
aventura correu-lhe mal, não indo além de 13 jogos, zero golos e… duas
expulsões ao longo de cerca de cinco meses.
Zé Rui (extremo)
Zé Rui |
Extremo internacional cabo-verdiano
formado no Alverca,
afirmou-se na equipa principal dos ribatejanos
entre 2002 e 2004, período no qual amealhou 36 jogos e dois golos em todas as
provas.
Valorizado pelas boas campanhas
no Ribatejo, apesar da descida à II
Liga na despedida, deu o salto para o Benfica,
clube pelo qual não chegou a jogar. Na primeira época de vínculo aos encarnados
foi emprestado ao Vitória
de Setúbal e, ainda que fosse perdendo algum fulgor no decorrer da
temporada, amealhou 26 partidas e três golos em todas as competições, tendo
conquistado a Taça
de Portugal.
“Na altura, o Trapattoni tinha
ganho o campeonato, o Benfica
queria fazer a dobradinha e o Vitória
de Setúbal estragou a festa. Até hoje lembro isso. Não joguei a final, mas
contribuí. Gostei muito”, recordou ao Maisfutebol
em abril de 2019.
Ladji Keita (avançado)
Ladji Keita |
Possante avançado senegalês (1,88
m), entrou no futebol português pela porta do Alverca
em fevereiro de 2005, proveniente dos franceses do AS Valence, tendo apontado
sete golos em 13 jogos que ajudaram os ribatejanos
a assegurar em campo a permanência na II
Liga, apesar de o clube ter extinguido o futebol sénior no final dessa
época.
Entretanto passou pelo Rio
Ave e pelo futebol cipriota antes de chegar ao Bonfim
no verão de 2009. Numa temporada marcada por enormes dificuldades financeiras e
desportivas, Ladji Keita foi decisivo para que a equipa conseguisse assegurar a
permanência e, consequentemente, para que o clube tivesse mais algum tempo se
pudesse reorganizar depois de ter estado à beira de ser extinto. Dez golos em
28 jogos foi o registo deste atacante, de longe o melhor marcador dos sadinos
em 2009-10.
Valorizado pela boa campanha, deu
o salto para o Sp.
Braga sem que os setubalenses
recebessem qualquer compensação financeira, numa situação que resultou num
diferendo entre o clube o empresário José Caldeira. Os vitorianos
alegavam que o avançado terá renovado ao aceitar a opção no contrato quando
assinou por uma época, o agente dizia que o emblema
sadino devia ter proposto a renovação em janeiro.
Chiquinho Conde (avançado)
Chiquinho Conde |
Avançado moçambicano, começou a
carreira no Maxaquene, o mesmo clube que revelou Eusébio quando ainda se
chamava Sporting de Lourenço Marques, e de lá saiu para o Belenenses
em 1987, tendo ajudado o emblema
do Restelo a conquistar a Taça
de Portugal em 1988-89. Foi o primeiro moçambicano a jogar legalmente em
Portugal após a independência do país.
Após três temporadas nos azuis e
uma no Sp.
Braga, avançou para a primeira de três passagens pelo Vitória,
onde formou uma dupla diabólica no ataque com Yekini durante as temporadas
1992-93 e 1993-94. “Com ele era tudo fácil. Não parecia tecnicista, mas era
muito poderoso. Muitas vezes ele sozinho amarrava os dois centrais e
libertava-me. Marquei muitos golos assim. Foi um jogador fantástico, o melhor
parceiro que tive. Dávamos muitas assistências um ao outro. Enfim, foi um
período muito bom”, confessou em entrevista ao Maisfutebol,
em julho de 2015.
Quase 30 golos depois, rumou ao Sporting,
onde não foi feliz. Voltou ao Belenenses,
mas sem o mesmo brilho, regressando depois ao Bonfim
em 1996-97 para redescobrir a felicidade, apontando sete golos em 20 partidas
na I
Liga. “Era o meu clube talismã e fica na minha história. O Belenenses
acolheu-me muito bem, mas em Setúbal vivi sete anos fantásticos”, contou.
Entretanto transferiu-se para os Estados
Unidos, mas retornou a Setúbal em dezembro de 1997, para apontar quase 30
golos em dois anos e meio. Foi uma das figuras do 5.º lugar de 1998-99 que
marcou o regresso às competições europeias 25 anos depois, mas acabou por sair
após a despromoção à II
Liga na época seguinte, com destino a Alverca.
No Ribatejo, numa altura em que
já tinha 35 anos de idade, não foi além de 18 jogos e um golo ao Vitória
de Guimarães. A concorrência, que dava pelo nome de Pedro Mantorras, não
lhe deu grandes hipóteses.
Quase duas décadas depois, em
2018-19, regressou ao Vitória
de Setúbal para orientar a equipa de sub-23 na Liga Revelação.
José Couceiro (treinador)
José Couceiro |
Antigo defesa central, foi
presidente do Sindicato dos Jogadores e diretor desportivo do Sporting
antes de ingressar na administração da SAD do Alverca
em 1999-00. Após três temporadas nos gabinetes, assumiu o comando técnico da
equipa principal dos ribatejanos
entre 2002 e 2004, tendo saboreado uma subida à I
Liga e uma descida à II
Liga, tendo averbado um total de 27 vitórias, outras tantas derrotas e 17
empates em 71 jogos.
“A equipa desceu de divisão, eu
era administrador e coloquei o meu lugar à disposição, como é evidente. E os
restantes administradores entenderam que eu devia ter um papel ainda mais
preponderante. Disse-lhes que era impossível porque isso implicava entrar em
áreas onde não devia entrar, nomeadamente na área técnica. Então propuseram-me
ser eu a liderar a equipa técnica”, contou à Tribuna
Expresso em julho de 2017.
“Nessa altura colocaram-me então
a questão de ter esse papel quase de manager. Eu hesitei, porque é uma vida
diferente, mesmo a nível familiar. Recebi um grande incentivo da minha mulher,
a Clara, e na altura já tínhamos as três filhas. Ela disse-me que se eu gostava
e se era uma coisa que me motivava, apoiava. E foi assim que comecei. Agarrei
na equipa, tivemos que renegociar contratos, reduzir contratos, com um grupo de
jogadores fantástico, cuja maioria ficou no Alverca,
na II
Liga, e nesse ano subimos de divisão”, acrescentou.
Apesar da despromoção, foi
recrutado pelo Vitória
de Setúbal e levou os sadinos
aos primeiros lugares da tabela classificativa do primeiro
escalão durante a primeira metade do campeonato, antes de dar o salto para
o FC
Porto. Nessa temporada, acabou também por estar associado à conquista da Taça
de Portugal, embora tivesse sido José Rachão a comandar a equipa nas
derradeiras eliminatórias e também na final.
Haveria de voltar ao comando
técnico dos setubalenses
em 2013-14, quando alcançou um honroso 7.º lugar no campeonato, e entre 2016 e
2018, tendo levado a equipa à final da Taça
da Liga. Somando as três passagens pelo clube, somou 49 triunfos, 35
empates e 52 derrotas em 126 jogos.
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