quinta-feira, 17 de outubro de 2019

Nandinho recorda jogo no Alverca: "Estive para não jogar e marquei três golos ao Sporting"

Nandinho em luta com o lateral sportinguista Abdelilah Saber
Marcar um hat trick ao Sporting é um feito de que poucos futebolistas se podem gabar. No caso de Nandinho, era altamente improvável, pois a sua utilização esteve em dúvida até à hora do jogo e porque nem antes nem depois dessa mágica tarde de 17 de abril de 1999 voltou a marcar três golos num jogo oficial. Fê-lo ao serviço do Alverca, que nesta quinta-feira (20.45) vai reeditar os renhidos duelos com os leões em jogo da 3.ª eliminatória da Taça de Portugal.


Passados mais de 20 anos, esse dia mantém-se fresco na memória do atacante que despontou no Salgueiros e que na altura estava emprestado aos ribatejanos pelo... Benfica. "Não é todos os dias que se marca um hat trick. Até foi o único hat trick que marquei a nível profissional... logo contra um grande, num momento difícil para nós, que lutávamos para não descer de divisão. É claro que não me esqueço desse dia", começou por dizer ao DN.

"Na véspera do jogo treinei limitado, para me proteger um bocadinho, e estava com uma pequena lesão no joelho, sofrida no jogo anterior ou durante um treino dessa semana. No aquecimento fui fazer um teste para ver se estava em condições de poder atuar, acabei por jogar e as coisas aconteceram. Estive para não jogar e marquei três golos ao Sporting", prosseguiu o antigo extremo, de 46 anos, que também jogou na I Liga ao serviço do Vitória de Guimarães e do Gil Vicente.

À exceção da lesão que o colocou em dúvida até bem perto do apito inicial do árbitro José Pratas, Nandinho diz que a tarde inspirada que viveu não estava nos planos e que nada durante as horas que a antecederam lhe deu especial motivação. "Foi tudo normal no estágio. Conversávamos e jogávamos cartas e bilhar. Foi uma rotina normal. Imaginamos sempre o que podemos fazer durante o jogo, mas nunca imaginei que podia apontar um hat trick naquele jogo, e dar a vitória frente a um clube grande. A minha essência era querer ganhar sempre e fazer um bom jogo para ajudar a equipa, mas nem estava muito focado em se seria eu a resolver ou não. Acabou por acontecer", contou o agora treinador do Almería B, da III Divisão espanhola, que já dirigiu juniores e seniores do Gil Vicente e ainda a equipa principal do Famalicão.


"Certamente fiz jogos melhores"

Nandinho confessa que fez melhores exibições durante a carreira, mas que a partida com o Sporting "foi daqueles jogos em que tudo saiu bem". "Certamente fiz jogos melhores mas em que não tive tanto protagonismo porque não marquei golos. A visibilidade é feita pelos golos e quem faz golos é quase sempre o melhor em campo. Até foi melhor a exibição coletiva e poderiam ter sido colegas meus a ter marcado. Lembro-me de que o Cajú teve uma bola à trave, mas acabou por não marcar e eu nesse dia fui mais eficaz", recordou.

Nostálgico, o antigo extremo foi até capaz de descrever os três golos, apontados aos 27, 34 e 66 minutos - para o Sporting, nessa derrota por 3-2 no Ribatejo, marcaram Edmilson aos 10' de grande penalidade e Quim Berto aos 60' de livre direto. "O primeiro golo foi num livre na zona central e julgo que é o Abel Silva que mete a bola por fora da barreira e eu, descaído para a direita, faço um remate cruzado a meia altura que entrou no lado contrário. O segundo foi um passe do Nikola Milinkovic - o pai do Milinkovic-Savic que está na Lazio e do guarda-redes que está na Standard Liège -, que a meio do meio-campo me faz um passe e eu rematei de primeira e fiz um grande golo. A bola entrou no ângulo superior. O terceiro foi uma bola na linha [lateral] que me foi passada e eu, na zona do vértice da área, vim para dentro e rematei cruzado de pé esquerdo ao ângulo superior."

Depois do hat trick, o treinador José Romão deu descanso aos 78 minutos a Nandinho, fazendo entrar... Maniche. "Fui substituído devido ao cansaço normal de quem joga numa ala, que está sujeito a muitos deslocamentos rápidos, e porque foi um jogo exigente. Era uma situação normal, que também acontecia com o Ramires, o Rui Borges e o Maniche, que acabou por me substituir na altura. E, claro, também pela lesão que me afetou durante a semana, para poder estar disponível para os jogos que faltavam até ao final da época", recordou.


"Amigos sportinguistas diziam para não lhes aparecer à frente"

Após o jogo, Nandinho aproveitou os dois dias de folga e seguiu viagem para o Porto, de onde é natural, para estar com a família e os amigos. Depois foi jantar fora e sentiu na pele o que é ser-se uma estrela. "Quando saí para jantar, toda a gente me reconheceu e veio cumprimentar-me. Os meus amigos sportinguistas brincavam e diziam para eu não lhes aparecer à frente e que só marcava golos ao Sporting. O que não era verdade, porque eu também marcava aos outros grandes", lembrou bem-disposto. De facto, durante a carreira o extremo apontou um total de quatro golos ao Sporting, outros tantos ao Benfica e dois ao FC Porto.

Na altura "não havia redes sociais, mas havia troca de mensagens e telefonemas" e por isso não ficou sem receber felicitações. "Já havia telemóveis, ainda se utilizavam aqueles que pareciam uns tijolos. Fui muito falado durante uns dias, mas depois voltou tudo ao normal. O fenómeno do futebol é assim mesmo, as coisas acontecem muito rapidamente e é tudo muito efémero", recordou.

Alverca era carrasco dos leões

Esse 3-2 de Alverca em abril de 1999 marcou o início de uma série de sete jogos consecutivos entre as duas equipas sem que o Sporting conseguisse vencer. Em mais de três anos, os leões não foram além de quatro empates e três derrotas. A diferença de estatuto entre ambos os clubes pouco se refletiu no interior das quatro linhas, ao ponto de serem mais os jogos que os leões não venceram (sete) do que aqueles que ganharam (seis).

Nandinho procura roubar a bola a Delfim
Atualmente, os ribatejanos estão duas divisões abaixo - ocupam o segundo lugar da Série D do Campeonato de Portugal, atrás do Olhanense -, mas Nandinho avisa que "no futebol tudo é possível". "Ainda não foi há muito tempo que uma equipa do Campeonato de Portugal [Caldas] chegou às meias-finais da Taça de Portugal. É claro que o favoritismo é do Sporting, mas o futebol não é como antigamente, em que as equipas entravam quase derrotadas frente a clubes da I Liga e sobretudo frente aos grandes. Hoje já se trabalha bem em todas as divisões, há boas equipas e bons jogadores no Campeonato de Portugal e o treinador do Sporting [Silas] sabe-o bem, pois jogou recentemente e recrutou jogadores no Campeonato de Portugal. Penso que o Sporting tem de olhar para o Alverca com o mesmo respeito do que quando joga com um adversário da I Liga, caso contrário pode ter dificuldades. A responsabilidade está toda do lado do Sporting. Se o Alverca eliminar o Sporting, será certamente um feito que dará notoriedade não só ao clube mas também ao treinador e ao plantel. Julgo que também há essa ilusão e esse sonho de eliminar um grande que passa pela cabeça dos jogadores do Alverca", perspetivou o antigo extremo, que em 1996 representou a seleção portuguesa de sub-21 no Campeonato da Europa da categoria, em Itália, onde defrontou a squadra azzurra de Fabio Cannavaro, Alessandro Nesta, Christian Vieri e Alessandro Del Piero.

Sobre o clube pelo qual disputou 18 jogos e marcou cinco golos na segunda metade da temporada 1998-1999, Nandinho vê "com bons olhos este ressurgimento do Alverca". "Sei que o clube passou por um período difícil e que houve pessoas que pegaram na equipa e não a deixaram cair. Foram criando bases e condições e sei que hoje têm um bom complexo desportivo, com qualidade. Na altura treinávamos no campo onde jogávamos e havia apenas um pelado atrás onde jogava a formação. Estão a fazer uma boa época e nos lugares cimeiros, a lutar para subir. É um clube pelo qual eu guardo um carinho especial. Estive lá pouco tempo, foram seis meses em que fui muito acarinhado", rematou.










 











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