Depois da dececionante campanha da seleção
portuguesa, não faltou exigências para que Paulo Bento, o seu timoneiro,
apresentasse a demissão. Mas será ele o verdadeiro culpado?
É verdade que podemos questionar as suas
opções. Deixou de fora Ricardo Quaresma. Afinal, o mustang esteve em grande forma no final da época. Mas curiosamente,
o FC Porto perdeu mais pontos desde a sua chegada. E há que realçar que Paulo
Bento já foi seu colega, adversário e treinador. Há que lhe dar o benefício da
dúvida.
Diz-se que não convocou um
lateral-esquerdo de raiz para estar no banco. Entre todas as posições, afinal,
era a única que não tinha duas opções descaradas. Pedia-se Antunes. Mas o
selecionador convocou sensatamente André Almeida, por poder fazer os dois
corredores. Numa triste coincidência, Fábio Coentrão lesionou-se e o próprio
jogador do Benfica seguiu-lhe as pisadas.
As pessoas que pediam duas opções para
cada posição fizeram ouvir o seu descontentamento, mas certamente se terão
esquecido de outra triste coincidência. Só os guarda-redes e os pontas de lança
apresentavam três galos para um poleiro. E não é que Rui Patrício e Beto, em
determinados momentos se lesionaram? E não é que a Hélder Postiga e a Hugo
Almeida aconteceu o mesmo?
As suas opções são questionáveis, mas não
acredito que exista um lote consensual de 23. Salvo as devidas proporções,
Paulo Bento fez o mesmo que Vicente del Bosque, que continuou a apostar numa
geração que já tinha dado algumas alegrias. Não venceu nenhum Europeu nem
nenhum Mundial, mas só se viu afastado da final do Euro-2012 nas grandes penalidades,
o que para os recursos de um país pequeno e pobre à beira-mar plantado já tem
um grande significado.
Na minha opinião, o principal problema da
seleção nem foram as suas escolhas nem o local do estágio nem a chegada tardia
ao Brasil. Falar nisso é tapar o sol com uma peneira.
O grande problema é um problema de base. Desde
o Euro-2004, mas sobretudo a partir de 2008 e 2009, que os clubes portugueses
de topo não têm apostado em jogadores… portugueses.
Benfica têm conseguido a proeza de começar
jogos sem um único atleta luso em várias épocas e o FC Porto, sem João Moutinho,
também o fez em 2013/14. O Sporting pós-Paulo Bento chegou a apresentar essa
situação, que entretanto se contrariou com Bruno de Carvalho, mas que pode não
durar para sempre, tendo em conta os reforços contratados.
A geração de ouro, que esteve a um passo
da final do Euro-2000, era constituída pelo núcleo duro que tinha participado
nas conquistas dos Mundiais de Sub-20 em 1989 e 1991, mas também por outros
nomes que iam emergindo a cada temporada no futebol português: Quim, Pedro
Espinha, Secretário, Rui Jorge, Dimas, Vidigal, Sérgio Conceição, Nuno Gomes e
Sá Pinto são alguns exemplos.
Essa equipa, que até falhou o apuramento
para o Mundial-1998, dava-se ao luxo de deixar de fora alguns atletas que até
eram importantes nos três grandes, casos de Pedro Barbosa, Paulinho Santos,
Calado ou Paulo Madeira.
Para este Campeonato do Mundo, foram
chamados André Almeida e Rúben Amorim, habitualmente suplentes do Benfica, e
até Éder, que não tem sido titular no SC Braga, sobretudo a partir da chegada
de Rusescu. E atenção, estes três nomes até são, muito provavelmente, melhores
do que quaisquer outros convocáveis para as funções que desempenham na seleção.
Os clubes portugueses procuram comprar
barato no estrangeiro e tentar rentabilizar os ativos, e verdade seja dita, têm
chegado longe nas competições europeias e surpreendendo a Europa do futebol
pela sua posição no Ranking UEFA. É compreensível.
O que não é compreensível é a passividade
da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga de Clubes, que perante este
cenário, a única real medida que toma é impor a utilização de pelo menos dois
(onde isto chegou…) portugueses na Taça da Liga. As equipas bês voltaram, só
podem utilizar de cada vez três atletas com idade superior a 23 anos, mas
escasseiam regulamentos relativamente às suas nacionalidades.
Por muito que se fale em renovação da
seleção, só é possível fazer-se não olhando apenas para o valor dos
futebolistas que integram as camadas jovens (nomeadamente os sub-21) mas
sobretudo criar condições para que tenham o seu espaço ao mais alto nível, em
Portugal. Sugere-se, portanto, uma regulamentação que proteja o jogador
português. Se as entidades que regulam o futebol no nosso país tanto têm feito
para fortalecer os principais clubes (introdução das equipas bês na II Liga),
está na altura de exigir que esses emblemas deem algo pela federação, e mais
concretamente, pela seleção nacional AA.
Impor a utilização de um número mínimo de
jogadores portugueses numa equipa, tanto num jogo como em termos de inscrição,
será o primeiro passo para uma renovação, até porque há Ivan Cavaleiro, João
Mário, Tozé, Bernardo Silva, Tiago Ferreira e outros, com qualidade e sede de
vencer, precisam de espaço. Se não se tomarem medidas imediatas, Portugal
poderá ficar fora de uma grande competição, e aí, será tarde demais.
Ivan Cavaleiro, João Mário, Tozé, Bernardo Silva, Tiago Ferreira, Helder Costa, Tobias Figueiredo, Bruma, Gonçalo Paciência, João Cancelo, William Carvalho, Carlos Mané, William Carvalho (mesmo que já consolidado), Mika, Cédric, Nélson Oliveira, Aladje (mesmo que não sendo dos melhores)... Tantos e tão bons.
ResponderEliminarEsqueci-me de referir o Ricardo (extremo do FC Porto),
EliminarUns mais que outros, uns com um caminho mais longo a percorrer, é por aí!
EliminarMas se não jogarem nos seus clubes...
David,
ResponderEliminaracho que faltou conjunto ao time português neste copa do mundo...
abs...
André Candreva