Como começaste a ver e gostar
de wrestling? Sei que o teu pai te mostrava algumas coisas…
O meu pai não era o maior dos fãs, mas mostrava-me cassetes e eu parava para ver, ganhei gosto e comecei a gravar as minhas próprias cassetes, do Raw e Smackdown na SIC Radical. Comecei a não perder um episódio, quando começou a dar em Portugal, em 2004.
O que te fascinou?
Quando era pequena, gostava muito dos Power Rangers, e aquilo fazia-me lembrar os Power Rangers: larger than life characters, atleticismo, as histórias… mas na altura não sabia que era propriamente um teatro. O meu pai disse-me que era pré-determinado, que era combinado. Não acreditei, mas fui pesquisar e vi que ele dizia a verdade. Mas não mudou nada em mim. Continuei fã.
Nesse período tornaste-te fã
de alguns wrestlers nos quais te inspiraste para a composição do teu move-set.
Tens o Codebreaker de Chris
Jericho, o DDT da Lita, o Cloverleaf de Dean Malenko…
Temos sempre os primeiros favoritos. No caso dos homens o Chris Jericho e no das mulheres a Lita, ela mais do que ninguém fez com que gostasse de wrestling. Fui buscar bastante inspiração a eles. Depois comecei a ver outras coisas e a moldar o meu wrestling ao que ia vendo, como Dean Malenko e Manami Toyota. Em termos de personagem adoro o Triple H e o Steve Austin.
Começaste a treinar com 15
anos, em 2009. O que te levou a seguir esse sonho?
Comecei no Wrestling Portugal, a 2 de fevereiro de 2009. Era uma grande fã, e passou-me pela cabeça a ideia de ser wrestler. Ao início pensava ser que tinha de ir para Nova Iorque ou algo do género, que não havia cá nada. Mas depois descobri o WP num fórum, e os treinos eram em Queluz, onde eu vivia, e até fiquei confusa porque pensava que era a localização da minha casa, era quase ao lado da minha casa.
O meu pai não era o maior dos fãs, mas mostrava-me cassetes e eu parava para ver, ganhei gosto e comecei a gravar as minhas próprias cassetes, do Raw e Smackdown na SIC Radical. Comecei a não perder um episódio, quando começou a dar em Portugal, em 2004.
Quando era pequena, gostava muito dos Power Rangers, e aquilo fazia-me lembrar os Power Rangers: larger than life characters, atleticismo, as histórias… mas na altura não sabia que era propriamente um teatro. O meu pai disse-me que era pré-determinado, que era combinado. Não acreditei, mas fui pesquisar e vi que ele dizia a verdade. Mas não mudou nada em mim. Continuei fã.
Temos sempre os primeiros favoritos. No caso dos homens o Chris Jericho e no das mulheres a Lita, ela mais do que ninguém fez com que gostasse de wrestling. Fui buscar bastante inspiração a eles. Depois comecei a ver outras coisas e a moldar o meu wrestling ao que ia vendo, como Dean Malenko e Manami Toyota. Em termos de personagem adoro o Triple H e o Steve Austin.
Comecei no Wrestling Portugal, a 2 de fevereiro de 2009. Era uma grande fã, e passou-me pela cabeça a ideia de ser wrestler. Ao início pensava ser que tinha de ir para Nova Iorque ou algo do género, que não havia cá nada. Mas depois descobri o WP num fórum, e os treinos eram em Queluz, onde eu vivia, e até fiquei confusa porque pensava que era a localização da minha casa, era quase ao lado da minha casa.
Só passado um ano de insistência é que me deixaram ir. Disseram que era maluca, que ia levar pancada, que me ia partir toda. Na altura fazia natação, tinha a escola, um horário puxado. Venho de uma família de futebolistas, mas o futebol não era algo natural para mim. O meu avô e o meu tio-avô foram futebolistas, até internacionais, a minha mãe praticavam várias modalidades no Belenenses.
Sim, lembro-me. Quando morreu [27 de janeiro de 2000], penso que tinha sete anos. Ele vivia no Canadá, não passava aqui muito tempo. Chegou a vir cá e uma das minhas principais recordações foi quando recebeu um prémio qualquer no relvado do Restelo, antes de um jogo do Belenenses. Eu tinha uns dois anos e essa é uma das primeiras memórias que tenho dele. Lembro-me de ele agradecer às pessoas e de eu correr atrás dele, ele rir e pegar-me ao colo. Ele tinha um grande sorriso, dava-me conforto. Até estou emocionada por falar dele.
Não só pensei, como diziam-me para fazer alguma coisa. Pensei em chamar um pontapé de pontapé de pontapé célebre, que é de um pontapé num jogo na Covilhã e está retratado numa fotografia. Ainda não levei essa ideia avante, também porque nunca me quis aproveitar da identidade dele. Algumas pessoas até me chamam Matateu na brincadeira. Agora levo na ‘descontra’, mas ao início não queria que soubessem.
Sabe que eu pratico e gosta bastante. Eu gostava que ele me viesse ver, mas não é assim tão fácil traze-lo. Gosta muito e quero ver se consigo fazer isso. Ele diz que gosta que eu faça, e encoraja-me. É radical, como a minha mãe [Argentina Fonseca]. A minha mãe só ofereceu resistência quando lhe disse que queria treinar, mas a partir daí deu-me apoio total.
Como foram os primeiros treinos, as primeiras quedas, as primeiras dores?
O meu primeiro treino foi mesmo brutal. Ainda levei um bocadinho de tempo para entrar no ringue, acho que foi só no segundo treino. Primeiro tens de aprender a cair num colchão para depois aplicar isso no ringue. No ringue é bastante diferente, mais duro. Os meus primeiros treinos foram brutais. Nenhum corpo está habituado a cair, tens de ir habituando o corpo, e eu tinha 15 anos. Nunca tinha feito nada parecido, nenhuma arte marcial. Nos dias a seguir parece que fui atropelada. O Bammer era o treinador principal e também havia o Cougar.
Não me sentia bem, sentia que aquele ambiente não era para mim. Adorava o wrestling, mas não gostava do ambiente. Estou a treinar outra vez no Wrestling Portugal, porque saí do CTW, e posso dizer que as coisas mudaram, não tem nada a ver com o WP daquela altura. Não me estava a sentir bem no WP e o Ultra Psycho disse-me para ir treinar no CTW, na Venda Nova. Fiquei 13 anos.
Saí há um ano ou dois anos. Não quero entrar muito nesse assunto. Houve situações que me levaram a não sentir bem.
Tenho tido algumas lesões, mas considero-me sortuda. Tendo em conta há quanto tempo faço isto, acho que já deveria ter tido mais. Tenho sido sortuda porque tenho estado no ringue com pessoas que me têm sabido proteger. A mais grave que tive foi o ombro deslocado, lesão da qual ainda não recuperei totalmente.
Não queria entrar por aí, trabalho para uma agência. Tenho o 12.º ano e quero voltar a estudar e entrar para a universidade, mas ainda estou indecisa entre geologia ou algo relacionado com medicina.
Costumo ir bastante ao Reino Unido (pelas promotoras Eve, Purpose, Wrestleforce, Colosseum e EWE). Há dez anos que vou lá. Encontro lá lutadoras que me fazem elevar o nível. Tenho ido bastante a Espanha (RCW, Tyris, Lucha Libre Barcelona e NCW), vou lá umas seis ou sete vezes por ano, já devo ter lutado nas promotoras todas lá, tratam-me bastante bem lá. Este ano fui aos EUA, era um sonho antigo, na ACW (All Caribbean Wrestling), que faz shows sobretudo nas Caraíbas, mas tenho lutado sobretudo na Europa.
Na ACW olhava para um lado ou para o outro e via James Ellsworth, Elijah Burke, Mark Henry (que era uma espécie de coordenador), Bradshaw (JBL) e Faarooq, que fazem lá algum tipo de trabalho. Pensei: ‘é aqui que eu quero estar’. Ter o feedback dessas pessoas faz-te crescer.
Antes tinha mais medo de pedir para tirar fotos, para não me acharem uma mark. No fim de contas somos todos iguais, mas não está errado teres uma admiração por esta ou por aquela pessoa. Não sou tão de fotos, sou mais de conversas. As conversas dão-me tanto gosto que me esqueço de tirar uma foto. Não tenho problemas com isso. Não acho que me esteja a rebaixar se pedir uma fotografia.
Em Portugal é impossível. Estou a tentar ir mais vezes ao estrangeiro. Quero fazer isto de forma o mais profissional possível.
Sim, se chegarmos a um consenso. Nunca lutei no WP, mas foi onde comecei e tenho curiosidade. Seria giro.
Depende do nível em que estás na tua carreira, se tens algum tipo de hype, de estatuto. Lutar todos os sábados e domingos com um estatuto já médio, já dá para se conseguir sobreviver, pagar contas, não ter um nível de vida confortável. Estando no Reino Unido consigo fazer combates todos os fins de semana e estou a pensar emigrar. É uma atividade muito extralaboral. No Reino Unido é onde consegues estar mais perto de ser profissional. Cada vez há mais promotoras a dar mais oportunidades.
Tive um tryout há uns cinco anos para a WWE. Recebi um email, na altura tinha um trabalho novo, era o meu primeiro dia de trabalho, entrava cedo, às 7h, e meia hora antes precisava de fazer uma notícia para o CTW e vi um email da WWE. Estranhei. O assunto era que eu tinha sido convidada, havia lá um email enorme a dizer que eu tinha sido convidada para um tryout. Foi uns dois meses antes do tryout. Pensei que fosse gozo ou uma tentativa de rapto. Fui de Lisboa para a Alemanha, uma pessoa da WWE foi-me buscar ao aeroporto. Foi incrível. Ainda hoje não consigo explicar o quão bom foi. Não fui contratada, mas aprendi imenso. Em 2019, na altura do NXT UK, havia rumores que apontavam para a abertura do NXT Europa, mas não chegou a acontecer.
Aprendi um bocadinho de tudo, o saber estar nestes ambientes, o que é diferente de estar no backstage de um show indy em Lisboa. Foi uma diferença gigante, com dress code e provas físicas. Foi um choque. A nível técnico estava bem preparada, vim de uma boa escola, o CTW. Disseram-me que tinha uma boa base a nível técnico. Havia câmaras por todo o lado e até estavam a gravar um documentário. Foi um choque. Aprendi um bocadinho de tudo, são coisas que ainda hoje tento pôr em prática. Eles têm um estilo que visa trabalhar o público em casa, não o que está na plateia.
Sim. Exato. Não me importo de lutar com homens, mas já gostei mais. Não é constrangedor, porque sempre treinei com homens. Estou completamente à vontade, mas comecei a aperceber-me que nem toda a gente gosta de combates intergénero, sobretudo o público feminino. É difícil fazer um combate bom, é preciso ter uma boa história, não pode ser só um homem a bater numa mulher. Há muita gente que não gosta.
Não há uma separação. A Cláudia Bradstone está dentro de mim. Não posso ser a Cláudia Bradstone 100% do meu dia, se não ia ser presa. Sou muito emocional, muito justiceira e corajosa, mas na minha vida pessoal tenho de meter isso de parte.
É aquela fúria toda que tento esconder, situações desde que eu era pequena e que eu cresci com elas. Uma espécie de bad ass? Aceito. Há gente que diz que lhes faço lembrar a Rhea Ripley, talvez por ser alta (1,72 m). Aceito como um elogio, sou fã dela.
Tentei muitas outras coisas, que não tinham nada a ver contigo. O que resultou para mim foi ser fiel a mim própria. Mas antes de tentar este meu caminho tentei outros, cheguei a ter o cabelo loiro e mandar beijinhos para o público. Houve uma altura em que andava com uma gimmick parecida à da Mickie James, country. Mas agora sim, sinto que o público já quer saber de mim e dos meus combates, antes sentia que era apenas mais uma.
Nunca fui muito fã de nacionalizar a minha personagem e isso até está em desuso. Talvez um dia apareça com uma bandeira, mas uma gear [roupa] não, não está nos meus planos.
Prefiro ser face. Toda a minha carreira fui face e estou muito ambientada. Têm puxado mais por mim para fazer ser heel e tem sido um desafio, o que é bom para não estagnar. O problema não é carregar mais o combate, é assumir-me como heel, fazer com que me odeiem. O meu cérebro diz que eu sou face.
Isso é óbvio! Dizem para investir porque temos praia e bom tempo, falam-me do Algarve e do pastel de nata.
É uma ótima altura! E há muito talento, muitas veteranas a quem se pode pedir conselhos. Há dez anos era muito mais difícil e não havia tão boas atletas.
Treino wrestling uma ou duas vezes por semana, no WP, e no Wrestlefest, em Almada, com o Nélson Pereira e o Luís Manuel como promotores. Já fizemos shows no Parque Mayer, o que é espetacular, trazer o wrestling de volta ao Parque Mayer 50 anos depois. O Wrestlefest está a apostar numa escola. Fora vou aos treinos que houver, em Londres há todos os dias. Faço trabalho de ginásio nos outros dias e gosto de ter um dia de descanso. Treino musculação, cardio e explosão. Ganhei um bocado de peso quando saí do CTW, passei por uma fase depressiva, mas agora estou a voltar ao meu auge físico. Toda a gente devia ter restrições alimentares, mas muitos não cumprem. Tenho uma alimentação equilibrada. Tudo depende de como queres parecer. Não fico tão amassada como ao início, mas fico. Há sempre alguma coisa que não corre tão bem, como um ringue mais duro ou acertarem-me com demasiada força, e saio mais dorida. Mas ao início custou-me mais.
Acho que seria a Lita. Das que estão mais no ativo, a Mickie James.
Quando fazíamos viagens, no CTW, viajava sempre com o Nélson Pereira. Tínhamos de ir para o Porto de madrugada, às 3 da manhã, e ele foi-me buscar a casa. Éramos para apanhar a A1 no sentido sul-norte, mas um carro da polícia meteu-se ao nosso lado e bloqueou a saída para o norte. A única via que estava disponível era para a ponte Vasco da Gama e cheios de sono não dormimos, fomos de direta, e tivemos de passar uma ponte de 17 km para depois voltar e ainda nos perdermos no Montijo até chegarmos ao Porto.
É um escape para a realidade, como fã e performer. Enquanto fã estava tudo bem no mundo durante aquelas horas, e como performer a mesma coisa.
São coisas que tenho de trabalhar, falar sobre elas, a minha personagem é uma forma de exteriorizar. Verbalmente é bastante difícil.
Sem comentários:
Enviar um comentário