domingo, 15 de junho de 2014

Os efeitos da análise SWOT de Louis Van Gaal

fifa.com
Um incidente violento num treino, entre os titulares Bruno Martins Indi e Arjen Robben, em articulação com uma não autorizada saída noturna de Dirk Kuyt, Nigel De Jong e Wesley Sneijder, faziam antever uma campanha desoladora no Mundial.

Aliada à rebeldia no seio da seleção holandesa estava também a inexperiência de grande parte dos seus jogadores, ilustres desconhecidos no panorama internacional, nomeadamente, no setor defensivo. Os nomes de maior cartel são os das posições de ataque, com os conceituados Sneijder, Robben e Van Persie à cabeça.

Mas não era só uma questão de nome ou de estatuto, a Holanda sempre nos habituou a dar mais garantias a atacar do que a defender.

Louis Van Gaal juntou dados, e à boa maneira de um gestor, fez uma autêntica análise SWOT ao que tinha à sua disposição.

Certamente terá identificado nos seus homens de ataque os pontos fortes e, nos da retaguarda, os mais fraco.

Praticar um futebol dígono da escola holandesa, patente desde os tempos do futebol total de Johan Cruijff, poderia ser uma ameaça. Pressionar alto, com um bloco subindo e estendido pelo terreno, e praticar um estilo de jogo aberto, dando ênfase à posse de bola, com constantes trocas posicionais, seria um risco com tais inexperientes individualidades.

Sacrificar uma ou outra unidade de cariz ofensivo para garantir equilíbrio defensivo, seria a oportunidade para o futuro treinador do Manchester United formar uma equipa consistente e que desse garantias nos quatro momentos do jogo.

O 4x3x3 ficou na gaveta, e começou a ser testado um 5x3x2 como nunca se viu no país das tulipas.

O ADN da laranja mecânica foi posto de lado, com três centrais a ocuparem bem os espaços à entrada da sua área, dois laterais que corressem tão ou mais depressa para trás do que para a frente, uma unidade no meio-campo com vocação para destruir jogo (De Jong), outro ligeiramente mais ofensivo, mas também acima de tudo consistente (De Guzmán) e por fim, um ‘10’ (Sneijder) nas costas de dois atacantes de classe mundial (Robben e Van Persie).

Momento defensivo com um bloco mais próximo da sua área, com cinco unidades na linha mais recuada, para não abrir tantos ‘buracos’ como no Euro-2012 e muita pressão a meio-campo, tentando reduzir os espaços ao adversário.

A posse, circulação e paciência que marcavam os momentos ofensivos foram substituídos pela verticalidade, velocidade e pragmatismo.

Contra a Espanha, o (ainda não consolidado) quinteto defensivo abriu espaços por diversas ocasiões. E em alguns desses lances, Diego Costa ganhou a grande penalidade que deu o 1-0 e David Silva esteve perto do 2-0. No entanto, notou-se uma melhoria nesse aspeto, e salvo as exceções já citadas e pouco mais, o ataque dos campeões europeus e mundiais foi neutralizado.

No aspeto ofensivo, cinco (ou até menos) passes bastaram para levar a bola de uma área à outra, e isso foi particularmente visível nas jogadas do 1-1 e 1-2.

Resultou. Mas se não tivesse resultado, a equipa permaneceria equilibrada atrás.

A progressão rápida e em poucos toques funcionou contra uma seleção claramente ofensiva e que defende em bloco alto, deixando espaço nas costas da linha mais recuada. Esse espaço foi aproveitado pela rapidez, frieza e eficiência de Van Persie no tento do empate, que conjugou perfeitamente o timing da sua desmarcação com do cruzamento de Blind.

A incógnita agora é perceber se a Holanda irá manter o estilo contra uma formação previsivelmente mais defensiva, como a Austrália, que é a próxima adversária. Voltará a ter sucesso dessa forma? Ou voltará a ser a laranja mecânica que «joga como nunca mas perde como sempre»?



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