O “cotonete” que jurou “Paulo Bento forever”. Quem se lembra de José Eduardo Bettencourt?
Bettencourt denunciou rasgão na camisola de Rui Jorge
Se o Benfica
viveu o seu período do Vietname, o Sporting
teve uma autêntica dinastia de “croquetes”, um rol bastante alargado de
fidalgos que o dirigiram mais precisamente desde o final dos anos 1990 até ao
início da década de 2010. José Eduardo Bettencourt, descendente de viscondes,
barões, guarda-joias da Casa Real e condes, foi um desses casos.
Licenciado em Economia pela
Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, pós-graduado em Economia
Europeia pela Universidade Católica e com um currículo no setor bancário que
inclui passagens por cargos de topo de Citibank, Barclays e Grupo Santander,
entrou no Sporting
em 2001 pela mão do amigo Miguel Ribeiro Teles. Na altura, vinha referenciado
como um conceituado gestor que ia impor rigor nas contas da SAD, que viviam uma
perigosa derrapagem após a passagem de Luís Duque pela administração. A dupla Teles e Bettencourt ficou
ligada à conquista da dobradinha e da consequente Supertaça
em 2002, o que lhes valeu um reconhecimento de capacidade por parte dos sócios
do clube. Bettencourt, apelidado de “cotonete” devido aos cabelos brancos, foi
nesse ano distinguido com o Prémio Stromp na categoria Dirigente e promovido à
posição de administrador-executivo da SAD no mandato de Dias da Cunha, cargo
que desempenhou até 2004. No exercício dessas funções deu a
cara pela defesa dos interesses do Sporting
em dois episódios significativos durante a temporada de 2003-04. Primeiro
quando apareceu na sala de conferências de imprensa com a camisola de Rui
Jorge rasgada, após um clássico com o FC
Porto em Alvalade,
acusando José Mourinho
não só de a rasgar, mas também de ter desejado a morte do lateral
esquerdo leonino. “O Paulinho, o nosso roupeiro, queria trocar a camisola
de Rui
Jorge pela de Vítor
Baía e José
Mourinho fez isto à camisola e disse: 'Gostava que Rui
Jorge morresse em campo'”, afirmou, despontando um corte de relações
institucionais entre os dois clubes.
Meses depois, deteve sozinho uma
tentativa de invasão de campo por parte de alguns membros da Juventude Leonina
durante um dérbi com o Benfica
em Alvalade.
Em 2006 regressou ao Sporting
como vice-presidente de Filipe Soares Franco. Quando este anunciou que não se
recandidataria às eleições de 2009, Bettencourt foi imediatamente apontado como
natural sucessor. Inicialmente rejeitou a hipótese, devido ao alto cargo que
desempenhava no Banco Santander Totta, mas acabou por não resistir aos apelos,
tendo sido eleito presidente em junho de 2009, o primeiro oficialmente
remunerado e a tempo inteiro, com 89,4% dos votos. A poucas horas de apresentar a
candidatura, a 18 de maio de 2009, proferiu uma frase que ficou para a
história: “Paulo
Bentoforever”. Em causa a continuidade daquele que era o treinador
da equipa principal desde outubro de 2005, mas que estava em final de contrato. A frase, porém, virou maldição. Enquanto
fazia aprovar uma reestruturação financeira planeada em conjunto com os bancos
que a financiavam, visitava núcleos e punha em marcha uma campanha de
angariação de sócios, a equipa de futebol não ia além de resultados medíocres,
bem abaixo das quatro épocas anteriores, em que foi sempre vice-campeã nacional
e lutou pelo título até ao fim. Paulo
Bento, que supostamente era para sempre, afinal só durou escassos meses,
até novembro de 2009, numa altura em que os leões
ocupavam o 7.º lugar no campeonato, à 9.ª jornada, e tinham sido relegados para
a Liga
Europa após a eliminação
ante a Fiorentina no playoff de acesso à fase de grupos da Liga dos
Campeões.
Para o comando técnico contratou
Carlos Carvalhal ainda nessa época e Paulo
Sérgio na seguinte, teve Pedro Barbosa, Ricardo
Sá Pinto, Costinha
e Carlos Freitas como diretores desportivos e ainda recrutou José
Couceiro para diretor geral da SAD, mas os maus resultados persistiram. No verão de 2010 tomou uma
decisão polémica, ao transferir João
Moutinho para o rival FC
Porto, apesar dos 11 milhões de euros que o negócio rendeu. Na altura,
Bettencourt acusou o médio
de forçar a saída para o Dragão,
condenou o “comportamento deplorável” do seu ex-capitão e classificou-o de “maçã
podre”.
Em janeiro de 2011, após mais uma
derrota em Alvalade,
desta vez ante o Paços
de Ferreira (2-3), José Eduardo Bettencourt não resistiu à contestação e
apesentou a demissão, com efeitos a partir do mês seguinte, deixando o até
então vice-presidente Nobre Guedes como presidente interino até à realização de
novas eleições. Desde então que desapareceu da vida pública, pautando pela
discrição e pela ausência de intervenções.
Foi já Nobre Guedes que assinou os
acordos com a Câmara Municipal de Lisboa para o pagamento faseado por parte da
autarquia de uma compensação de 18 milhões de euros ao Sporting
e da possibilidade de o clube vir a construir o seu pavilhão na área
circundante ao Complexo
Alvalade XXI. Porém, havia sido Bettencourt a desbloquear a situação.
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