O loirinho que brilhou em Portugal e esteve nos 7-0 do Celta ao Benfica. Quem se lembra de Giovanella?
Giovanella representou Estoril, Tirsense e Belenenses em Portugal
O loirinho que passeou classe nos
relvados portugueses a meio da década de 1990 sem ter necessitado, para tal, de
ter jogado num dos chamados três grandes. Um belíssimo executante que jogava no
Internacional
de Porto Alegre quando foi contactado pelo empresário Manuel
Barbosa para fazer testes em clubes lusos.
O primeiro emblema português no
qual Giovanella treinou foi o Rio
Ave, mas o treinador José Rachão não quis ficar com ele. Seguiu-se o Estoril,
com o técnico Fernando Santos a aprovar a sua contratação. “Joguei lá de
dezembro de 1993 a maio de 1994. Descemos de divisão, mas joguei regularmente e
chamei a atenção de outros clubes”, contou ao Maisfutebol,
sobre uma época na qual atuou em 18 jogos e marcou um golo. “Aprendi muito,
muito com o Fernando. Um engenheiro de profissão que sabia mais de futebol do
que qualquer um de nós. Perdi o contacto com ele e tenho muita pena. Se não
fosse o Fernando e o Estoril,
certamente não teria atingido o nível que atingi na Europa”, acrescentou. Após a descida de divisão,
reforçou o Tirsense
a pedido do treinador Eurico Gomes. “Ele gostava muito de mim e fizemos uma
bela equipa em Santo Tirso. O Paredão, o Marcelo, o Evandro, o Batista, o
Caetano, o Cabral, um conjunto ótimo. O clube era pequeno, financeiramente era
limitado e vivia muito à custa dos patrocinadores. Fiz uma bela época e passei
a ter algum estatuto em Portugal. O Eurico era exigente, mas muito correto.
Apanhei gente muito humana em Portugal, compreensiva. Nunca tive problemas com
ninguém, até porque eu adorava treinar”, prosseguiu, sobre a temporada 1994-95,
na qual disputou 29 partidas e contribuiu para a obtenção de um honroso 8.º
lugar na I
Divisão, a melhor classificação da história do clube.
Valorizado, deu o salto para um
clube com maior expressão em Portugal, o Belenenses,
então orientado por João Alves. “Essa equipa era fortíssima, a mais forte que
tive em Portugal. (…) O João queria a equipa a jogar à bola, ter a bola, a
divertir-se. Tínhamos um futebol bonito e ganhávamos. O Belenenses
era muito grande, mas financeiramente estava um caos e tivemos vários meses de
salários em atraso. É um clube simpático, histórico e acolheu-me muito bem. Ah,
e nunca me esqueço dos pastéis de Belém, o doce mais delicioso que comi na vida”,
recordou o centrocampista brasileiro, que apontou três golos em 20 encontros pelos
azuis
do Restelo, sextos classificados no campeonato português em 1995-96.
Entretanto, João Alves mudou-se
para os espanhóis do Salamanca e levou consigo nomes bem conhecidos do futebol
português, como o próprio Giovanella, César Brito, Taira, Ivkovic e Catanha
(todos ex-Belenenses),
Nuno Afonso e Paulo Torres (ambos ex-Campomaiorense),
Pauleta (ex-Estoril),
Miguel Serôdio (ex-Boavista)
e Agostinho (ex-Sevilha).
As coisas até nem correram espetacularmente bem ao “luvas pretas”, que saiu a
meio da época, mas a equipa conseguiu subir à I
Liga Espanhola.
Na temporada seguinte Giovanella
mostrou todo o seu talento no primeiro
escalão do futebol espanhol, tendo participado numa goleada histórica sobre
o Barcelona
de Fernando Couto, Reiziger, Figo e Sonny Anderson em Camp Nou na última
jornada do campeonato de 1997-98, carimbando dessa forma a permanência.
Os bons desempenhos no Salamanca
levaram-no a um dos principais clubes de Espanha durante a viragem do milénio,
o Celta
de Vigo, que na altura estava recheado de grandes jogadores. “Karpin,
Mostovoi, Makélélé, Boban, Capucho, Berizzo, foi o auge da minha carreira.
Quando havia jogos de seleções, só eu e mais dois é que ficávamos em Vigo. Isso
diz tudo. Gustavo López, Cáceres, só craques. Eles iam para as seleções e nós
ficávamos a descansar. Um grande clube, o clube mais marcante da minha vida”,
lembrou o médio, que contribuiu para honrosas classificações como o quarto lugar
em 2002-03 e a quinta posição em 2001-02 e para as caminhadas até aos quartos
de final da Taça
UEFA em 1999-00 e 2000-01, até à final da Taça do Rei em 2000-01 e até aos
oitavos de final da Liga
dos Campeões em 2003-04,
época em que, por outro lado, se mostrou
impotente para impedir a despromoção à II Liga espanhola.
Um dos jogos mais marcantes dos
194 que disputou pelos galegos
(entre 1999 e 2005) foram os 7-0 ao Benfica
em Vigo, para a Taça
UEFA, a 25 de novembro de 1999. “Eu gosto de falar com respeito sobre esse
jogo e sobre o Benfica.
Conhecia o clube, tinha lá bons amigos como o Paulo
Madeira e nessa noite correu tudo mal para eles. Nem é fácil explicar. Nós
batíamos um canto e acabava em golo; eles cometiam um erro e acabava em golo;
ninguém esperava e foi um jogo inexplicável. Fica marcado como uma página negra
na história do Benfica
e como um episódio glorioso em Vigo. Aliás, lá nos Balaídos há quadros e
imagens dessa partida por todo o lado. Às vezes acontecem esses escândalos (…) São
jogos que destroem uma equipa. O setor inferior do estádio estava cheio de
benfiquistas. Enfim, cada um fez o seu trabalho. Eu entrei no balneário e o
Mostovoi pegou em mim aos berros: ‘7-0 ao Benfica,
7-0 ao Benfica!’.
Ele estava assim porque dizia que tinha sido injustiçado lá”, recordou.
O final da carreira ficou marcado
por um controlo antidoping positivo que o afastou do futebol durante dois anos,
a partir de setembro de 2005. O último clube que representou foi o Coruxo, da
III Divisão Espanhola, em 2007-08.
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