O canhoto que se afirmou tarde mas ganhou quase tudo. Quem se lembra de Nuno Valente?
Nuno Valente disputou 85 jogos pelo FC Porto entre 2002 e 2005
Quando recordamos o FC
Porto de José
Mourinho, falamos da magia de Deco, dos golaços de Maniche,
da classe de Ricardo Carvalho, do equilíbrio dado por Costinha,
do grande momento de forma de Vítor Baía, da liderança de Jorge Costa, dos
golos decisivos de Derlei ou das cavalgadas de Paulo Ferreira pelo corredor
direito, mas quase nunca é mencionado um titular indiscutível dessa equipa, Nuno
Valente. O mesmo acontece quando recordamos os anos dourados de Luiz
Felipe Scolari à frente da seleção
nacional.
Mas a verdade é que este lateral
esquerdo dispensado pelo Sporting
era uma pedra inamovível do onze portista
que venceu bicampeonato, Taça
UEFA, Liga
dos Campeões, uma Taça
de Portugal e uma Supertaça
entre as épocas 2002-03 e 2003-04 e nas caminhadas da equipa
das quinas até à final do Euro 2004 e às meias-finais do Mundial 2006. Formado no Sporting
– chamavam-lhe o Cambodja, pela forma destemida como se fazia à bola –,
passou por um empréstimo ao Portimonense
antes de atuar pela primeira vez pela equipa principal dos leões
em 1994-95, temporada marcada pela conquista da Taça
de Portugal. Contudo, nunca se conseguiu afirmar em Alvalade,
tendo ainda passado por um empréstimo ao Marítimo
antes de se despedir dos verde
e brancos em 1999, ao fim de 43 jogos (e um golo) distribuídos por quatro
temporadas.
Seguiram-se três bons anos na União
de Leiria, contribuindo para honrosas classificações como o quinto lugar
obtido em 2000-01. Na época seguinte as coisas estavam a correr ainda melhor,
sob a orientação de José
Mourinho. Para se ter a noção, à 18.ª jornada o emblema
da cidade do Lis ocupava o terceiro lugar, a quatro pontos do líder Sporting,
mas acabou o campeonato na 7.ª posição. O sucesso leiriense
levou o treinador para o FC
Porto em janeiro de 2002, mas na primeira oportunidade que teve levou
consigo alguns dos seus ex-jogadores, como Derlei, Tiago e, claro, Nuno Valente,
que à beira dos 28 anos reentrou num plantel de um dos grandes do futebol
português, numa transferência que rendeu 550 mil euros os cofres da União. Habitual titular no onze azul
e branco desde o primeiro jogo, ganhando a corrida a Mário Silva, só saiu
da equipa devido a lesão, contribuindo ativamente para um dos períodos mais
gloriosos da história dos dragões,
tendo atuado nas finais de Sevilha e Gelsenkirchen,
que valeram as conquistas da Taça
UEFA em 2002-03 e da Liga
dos Campeões em 2003-04. Pelo meio estreou-se pela seleção
nacional pela mão de Agostinho Oliveira em setembro de 2002 e cimentou um
lugar entre os eleitos de Luiz
Felipe Scolari, acabando por destronar Rui
Jorge após o encontro de abertura do Campeonato da Europa realizado em
Portugal.
A época 2004-05 ficou marcada por
uma debandada para os lados do Dragão, com as saídas de Mourinho,
Ricardo Carvalho, Paulo Ferreira, Pedro
Mendes e Deco logo no verão de 2004 e de Costinha,
Maniche,
Carlos Alberto e Derlei em janeiro de 2005. Também houve três treinadores (Del
Neri, Victor Fernández e Couceiro)
e contratações que prometiam repor qualidade, mas que se revelaram falhadas (Postiga,
Diego, Luís Fabiano, etc.). Nuno Valente até começou a temporada como titular,
mas sofreu uma lesão pela seleção
nacional em setembro de 2004, falhou o jogo da Taça Intercontinental e só
voltou a jogar futebol em fevereiro do ano seguinte, antes de se lesionar
novamente no início de abril. Os problemas físicos levaram Pinto
da Costa a fazer-lhe um ultimato: continuar a ir à seleção
ou permanecer no FC
Porto. Nuno Valente não quis escolher e foi colocado no mercado e a treinar
com a equipa B, mas acabou por encontrar uma solução bastante simpática, jogar
pelo Everton
na Premier
League. Uma primeira época relativamente positiva permitiu-lhe continuar na
equipa
das quinas e ir ao Mundial da Alemanha (2006), mas as lesões e o facto de
estar na curva descendente da carreira foram-no afastando das opções do
treinador David Moyes. Em 2009 pendurou as botas, aos 35
anos, mas continuou em Goodison Park como olheiro. Entretanto integrou a equipa
técnica de Paulo Sérgio no Sporting
em 2010-11 e ficou mais alguns anos em Alvalade,
a trabalhar no departamento de scouting.
Sem comentários:
Enviar um comentário