Seleção B norte-americana conquistou Gold Cup |
Nos últimos dois meses, a seleção dos
Estados Unidos conquistou o par de troféus mais importante da sua
conferência, superando em ambas as ocasiões os eternos rivais mexicanos após
prolongamento. Se vencer
a Liga das Nações com a equipa mais jovem de sempre a disputar uma final já
tinha sido suficientemente notável, os norte-americanos
conseguiram exceder-se, ao arrecadar a Gold Cup com recurso a um plantel
secundário. Está em marcha um novo período auspicioso da história
futebolística dos Estados
Unidos, em que se olha com propriedade para lá dos limites da conferência,
e se coloca em causa o estabelecido domínio regional mexicano.
É verdade que a equipa comandada
por Gregg Berhalter acaba de se sagrar campeã da Gold Cup com
cinco vitórias pela margem mínima em seis encontros disputados, e esse registo
não é particularmente impressionante. No entanto, apresentar em campo um
plantel maioritariamente jovem, com pouca ou nenhuma experiência internacional,
sem tempo para um desejável entrosamento, constitui uma atenuante considerável.
Além de ser uma espécie de seleção B dos Estados
Unidos, esta foi a segunda equipa mais jovem de sempre em finais, superada
apenas pela final da Liga
das Nações, aspeto que vem colocar esta proeza num patamar de
relevância superior.
A Gold Cup acabaria por se
revelar o cenário competitivo ideal para colocar à prova todos os candidatos a
futuras convocatórias, dado que as contrariedades que foram surgindo ao longo
do torneio originaram novos desafios. A começar pelas mudanças de sistema tático forçadas
pela lesão de mais do que um jogador. O 4x3x3 inicial mudou em várias ocasiões
para um 3x4x2x1, por exemplo. Os futebolistas norte-americanos
não estavam habituados a jogar pela seleção em muitos casos, não
estavam acostumados a jogar uns com os outros, e também não estavam rotinados a
estes desenhos táticos. Por isso mesmo, o jogo dos Estados
Unidos foi pouco vistoso e escorreito, privilegiando uma segurança
defensiva que se viria a verificar, com apenas um golo sofrido nos seis
jogos. Saber sofrer foi uma virtude inesperada deste jovem conjunto que
demonstrou um compromisso coletivo notável, mesmo nos momentos de
maior atrapalhação. Neste quesito, uma palavra de reconhecimento ao selecionador Gregg Berhalter,
que demonstrou ser capaz de injetar a confiança necessária aos seus
jogadores.
Sair finalista vencido desta
competição seria uma expectativa bastante válida para os norte-americanos,
face ao lote de individualidades disponíveis. O
maior aliciante da Gold Cup seria ver como se comportavam as segundas linhas
dos Estados Unidos num grande palco, e perceber quem tem condições de dar o
salto para uma convocatória de primeiras escolhas. Entre os principais
intervenientes, quatro figuras emergiram como os grandes beneficiários
desta oportunidade, tendo praticamente garantido a sua presença nas
próximas convocatórias de qualificação para o Mundial: Miles
Robinson, Matt Turner, Kellyn Acosta
e Matthew Hoppe.
Não por ter assinado o golo
decisivo na final, mas sim pelo conjunto de intervenções decisivas que gizou ao
longo do torneio, comandando imperiosamente e inesperadamente o eixo
defensivo, Miles Robinson foi a estrela maior dos Estados
Unidos na Gold Cup. Ainda não chega para almejar a titularidade, mas o
defesa do Atlanta United assegurou um lugar como central de reserva, e terá
certamente bastantes minutos na qualificação. Atrás de si estava Matt Turner,
o guarda-redes revelação da Major League Soccer a quem foi dada a oportunidade
de ser o nº1 durante toda a competição. Só deixou entrar uma vez a bola na
baliza, e defendeu uma grande penalidade fundamental na meia-final diante do
Qatar. Acabou eleito melhor guarda-redes da Gold Cup, não desperdiçando o voto
de confiança que lhe foi atribuído. A vaga de terceiro guarda-redes nacional é
sua, no mínimo. No meio-campo, Kellyn Acosta foi o elemento
mais influente, como se previa, confirmando assim o seu estatuto de
médio/lateral utilitário, indispensável a qualquer convocatória dos Estados
Unidos. Por último, Matthew Hoppe. O jovem avançado do Schalke 04
completou as suas primeiras cinco internacionalizações na Gold Cup, e exibiu-se
a um bom nível, embora menos acutilante na final diante do
México. Hoppe veio para a contenda, e uma temporada positiva na
segunda divisão alemã poderá conceder-lhe minutos adicionais durante a
qualificação para o Campeonato do Mundo.
Do ponto de vista negativo,
Jackson Yueill, Jonathan Lewis e Donovan Pines parecem ter
perdido o comboio da seleção em definitivo. Por outro lado,
Paul Arriola ficou aquém do que a sua experiência internacional
indiciava, e Daryl Dike, uma das grandes promessas norte-americanas
que gerou bastante expectativa à entrada da competição, tornou-se uma real
desilusão. Não poderá desperdiçar outra oportunidade como esta.
Depois do desastroso ano de
2017 que ditou a ausência do Mundial na Rússia, 2021 desenha-se como o ano da
retoma para a seleção dos Estados
Unidos. No seguimento da conquista
da Liga das Nações com um plantel ineditamente jovem, de uma surpreendente
vitória na Gold Cup, e de um mais que provável apuramento para o Campeonato do
Mundo, os Estados
Unidos regressam de uma forma retumbante, deixando os seus adeptos
entusiasmados com o que está para vir. Gregg Berhalter é o rosto
desta retoma. O selecionador norte-americano
tem-se revelado engenhoso o suficiente para fintar as contrariedades e
apresentar os resultados desejados. A qualidade de jogo que muitos exigem ainda
não está lá na maioria do tempo, mas verdade seja dita, o núcleo principal de
jogadores também não.
Artigo elaborado por António Ribeiro
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