Natural (embora não nascido…) e
criado no Barreiro – onde, aliás, ainda resido -, desde a viragem do milénio
que boa parte das minhas tardes de domingo foram passadas no Estádio Alfredo da
Silva, casa do Grupo Desportivo Fabril, antes conhecido como CUF e Quimigal. E
em alguns casos, quando os fabrilistas jogavam fora, ia ao D. Manuel de Mello e
mais tarde à Verderena assistir aos encontros do Barreirense.
Vivenciei vitórias suadas,
goleadas, derrotas inesperadas, empates comprometedores e até subidas e
descidas de divisão dos dois históricos clubes da minha cidade. Habituei-me a ver
o Fabril a deambular entre a antiga III Divisão e a I Distrital da AF Setúbal e
o Barreirense como uma das principais equipas da então II Divisão B – Zona Sul.
A 28 de maio de 2005, com os
fabrilistas mergulhados nos distritais, estive no saudoso Campo D. Manuel de
Mello a assistir a uma vitória do Barreirense sobre o União Micaelense (2-1)
que assegurou a promoção à II Liga para os alvirrubros, num dia de enorme festa
para as gentes da concelho.
Na pré-época seguinte, os dois
vizinhos defrontaram-se num dérbi não oficial, um jogo particular em que a lei
do mais forte imperou e o Barreirense goleou por 4-1. O resultado esperado num
duelo entre uma formação da II Liga e outra dos distritais. O que eu não
esperava era que só precisava de esperar mais dois anos para assistir a um dérbi
oficial, não só o meu primeiro, mas também o primeiro desde 1983.
Carlos Marques e Brito em disputa de bola na área do Fabril |
Como não poderia deixar de ser, desloquei-me
ao estádio para assistir ao encontro. Segundo algumas estimativas, estavam mais
do que dois mil espetadores presentes – entre os quais ex-figuras dos dois
clubes como Manuel
Fernandes, Jorge
Martins e Manuel Oliveira e o então jogador do Sporting João Moutinho -,
num encontro que tinha entrada livre.
Desde o início do encontro que
notei um sentimento de dérbi nos jogadores do Fabril, com uma motivação
superior à de outras partidas, aplicando-se o mesmo aos adeptos. No entanto, notava-se
que o Barreirense era superior, com jogadores mais experientes e com mais
qualidade.
À passagem do minuto 16, o
guarda-redes alvirrubro Valter derruba o avançado fabrilista Luís Costa, tendo
o árbitro Tiago Cerqueira (Lisboa) assinalado uma grande penalidade que o
próprio Luís Costa converteu em golo.
O Barreirense fez pela vida na
segunda parte, encostou o Fabril à sua zona defensiva e acabou por chegar ao
empate aos 82 minutos, na sequência de um pontapé de canto apontado na direita
por Vasco Campos, com Mário a cabecear para o fundo das redes.
Tudo dava a entender que, tendo
em conta o desenrolar de acontecimentos, a haver um vencedor seria o
Barreirense, a julgar pelo domínio asfixiador que estava a exercer. No entanto,
quem acabou por chegar ao segundo golo foi o Fabril, por Tralhão, que galgou
metros no meio-campo ofensivo, isolou-se e fez golo, aos 90+2’. A bancada onde
estava a massa associativa do emblema do Lavradio explodiu de alegria. Ainda
hoje, passados onze anos, continuo-o a considerar o festejo mais efusivo que presenciei
no Estádio Alfredo da Silva. Pela primeira vez, nessa tarde fria de dezembro,
ouvi adeptos a gritar pelo nome do clube.
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