quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Palmeiras 2018. A radiografia de um campeão

Palmeiras sagrou-se campeão com triunfo no terreno do Vasco
O Palmeiras sagrou-se campeão brasileiro pela décima vez, reconquistando o título dois anos depois, e não há como dissociar Luiz Felipe Scolari do feito. Bem pelo contrário. Felipão foi, muito provavelmente, o grande protagonista da campanha alviverde, tendo assumido o comando técnico após a 15.ª jornada, com a equipa em 7.º lugar e a oito pontos do então líder Flamengo.

Seguiram-se 22 jogos sem derrotas no Brasileirão – maior sequência da história do campeonato desde que se tornou uma prova de regularidade - e desempenhos bastante aceitáveis na Copa do Brasil e na Libertadores, competições em que o verdão caiu nas meias-finais ante Cruzeiro e Boca Juniors, respetivamente.


Acabado de se tornar o treinador mais velho a conquistar o título, com 70 anos – batendo o recorde de Antônio Lopes, campeão com o Corinthians em 2005, com 64 – e de se juntar ao mesmo Antônio Lopes e a Vanderlei Luxemburgo no restrito lote de técnicos que se sagraram campeões brasileiros nos dois formatos que a prova conheceu (mata-mata e pontos corridos), mais uma vez Scolari voltou a fazer valer o atributo que lhe é mais reconhecido: capacidade para gerir um grupo.

Sofisticações táticas não são para o Sargentão, que apresentou o 4x2x3x1 clássico em terras de Vera Cruz e um futebol direto, com a bola a ser muitas vezes bombeada a partir do meio-campo defensivo para os atacantes, à procura da combatividade do ponta de lança (Deyverson ou Borja) ou da velocidade dos extremos Willian e Dudu.

Defensivamente, uma das chaves para o sucesso do Palmeiras residiu no conforto dos jogadores nos momentos sem bola. Sem uma pressão muito alta, o verdão procurava sobretudo não deixar que o esférico entrasse nos volantes adversários, condicionando-os mas permitindo que os centrais contrários circulassem a bola. Depois, num segundo momento, quando remetida para o próprio meio-campo, a formação paulista apresentava-se num bloco baixo e compacto, com os extremos a colaborarem. Nos primeiros nove jogos oficiais de Scolari, a equipa não sofreu golos.
Scolari e Deyverson foram os protagonistas do título

Wéverton atrás de defesa rotativa

Jaílson e o antigo guarda-redes da União de Leiria, Fernando Prass, também tiveram as suas oportunidades, mas desde que Scolari assumiu o comando técnico que Wéverton foi senhor e dono da baliza alviverde. Experiente (30 anos) e com duas internacionalizações pelo escrete, foi a última barreira da equipa, mostrando segurança e reflexos apurados.

Se na baliza houve uma aposta fixa, no quarteto defensivo houve muita rotatividade, ao ponto de ser quase impossível dizer que uns fizeram parte do onze base e outros não. O mais utilizado no campeonato foi Antonio Carlos (25 anos), emprestado pelo Tombense, utilizado em 21 jogos (20 como titular), forte no jogo aéreo (1,91 m), seguro e com sentido posicional, atuando preferencialmente como central direito. Pelo lado esquerdo, o mais solicitado foi o veterano Edu Dracena (37 anos), experientíssimo, seguro e também ele forte no jogo aéreo (1,87 m). Ainda assim, na reta final apareceram Luan (25 anos), um dos capitães e autor de dois golos nas derradeiras jornadas, embora tenha estado negativamente associado à eliminação na Libertadores; e Gustavo Gómez (25 anos), internacional paraguaio emprestado pelo AC Milan que mostrou segurança e qualidade no jogo aéreo e… na conversão de grandes penalidades.

A rotatividade também se faz sentir nas laterais. À direita, o experiente e menos atrevido Marcos Rocha (29 anos), emprestado pelo Atlético Mineiro, até foi o mais utilizado e o segundo jogador da equipa com mais recuperações de bola no campeonato (65), mas os seus problemas físicos e a pujança exibida pelo mais ofensivo Mayke (26 anos) tornaram o ex-Cruzeiro um titular quase absoluto na segunda volta.

No lado canhoto, dois laterais contidos na hora de atacar. Victor Luís (25 anos), que em 2012/13 passou pelo FC Porto B, acabou por somar mais alguns minutos do que Diogo Barbosa (26 anos).

Felipe Melo e Bruno Henrique intocáveis



A sombra do antigo jogador de Juventus, Galatasaray e Inter de Milão, entre outros, foi o também experiente Thiago Santos (29 anos), igualmente com um espírito combativo - foi o jogador da equipa com mais recuperações de bola no campeonato (76) - e com alguma capacidade para sair a jogar.



A elegância de Lucas Lima ou a força de Moisés

A ‘10’ ou, como dizem os brasileiros, a meia central, a promessa adiada Lucas Lima (28 anos) foi o mais utilizado, mas não foi propriamente um titular indiscutível desde que Scolari chegou ao Allianz Parque. Internacional brasileiro, tem um pé esquerdo refinadíssimo, que parece que tem olhos, tal a forma como trata bem a bola e calibra os passes. No entanto, evidencia alguma falta de agressividade, jogando por vezes muito a passo e chegando mesmo a alhear-se do jogo.

A alternativa era o mais experiente Moisés (30 anos), irmão do guarda-redes do Sp. Braga, Matheus. Mais robusto fisicamente (1,84 m), também é canhoto mas não tem a mesma qualidade técnica que o concorrente, fazendo da sua entrega o jogo, capacidade para segurar a bola e de uma postura mais interventiva durante os encontros as principais armas. O veterano tecnicista venezuelano Alejandro Guerra (33 anos) também pode fazer a posição, mas fui muito menos utilizado.

Abram alas para o Bigode Willian e o craque Dudu

Outras das posições que escaparam à rotatividade de Felipão foram as alas. Mais na direita, mas também na esquerda, o senhor do bigode Willian (32 anos) foi presença assídua no onze, fazendo valer as suas capacidades de definição – melhor marcador da equipa no Brasileirão, com dez golos -, de aparecer com qualidade em zonas interiores a gerar desequilíbrios e de imprimir mudanças na velocidade, embora não seja um portento no drible.

Portento no drible é precisamente o que é Dudu (26 anos), considerado por muitos como o melhor jogador do campeonato. Com sete golos e 12 assistências - foi o jogador com mais assistências no Brasileirão 2018 -, esteve envolvido diretamente em 31 por cento dos golos do Palmeiras na prova, e encantou com o seu futebol açucarado, criativo e rápido, sempre com a bola colada ao pé direito. Utilizado preferencialmente a partir do corredor esquerdo, ultrapassou adversários atrás de adversários nas suas diagonais para o meio, onde aparecia para definir com qualidade. Sem medo de atirar à baliza, foi o futebolista da equipa que mais remates fez na prova: 70. Também lidera a tabela do Brasileirão de jogador com mais faltas sofridas (124), o que comprova a dificuldade que os opositores tiveram em travá-lo.


Jean e Hyoran (25 anos) foram alternativas que ajudaram a dar descanso aos dois indiscutíveis em vários jogos.

O artilheiro da Libertadores e o homem que deu o título

A rotatividade de Scolari fez-se sentir no eixo do ataque. O internacional colombiano Miguel Borja (25 anos) foi mais vezes titular nos primeiros meses da época e ao que tudo indica será o melhor marcador da Taça Libertadores, com nove golos. Combativo, móvel e com capacidade para jogar de costas para a baliza, é daqueles avançados que não se fixa na área, mostrando-se aos médios e participando na construção dos ataques.

No entanto, a entrada de Scolari deu nova vida a Deyverson (27 anos), antigo avançado de Benfica B e Belenenses que com Roger Machado estava a zeros mas que com Felipão apontou nove golos em todas as competições, incluindo o que garantiu a conquista do título, no terreno do Vasco. Também móvel e participativo na construção das jogadas de ataque, fez valer o seu poderio no jogo aéreo (1,87 m), a agilidade, a qualidade técnica e a capacidade para roer os calcanhar aos defesas, mostrando mais generosidade do que o colombiano na hora de defender.











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