sexta-feira, 24 de outubro de 2025

O “cotonete” que jurou “Paulo Bento forever”. Quem se lembra de José Eduardo Bettencourt?

Bettencourt denunciou rasgão na camisola de Rui Jorge
Se o Benfica viveu o seu período do Vietname, o Sporting teve uma autêntica dinastia de “croquetes”, um rol bastante alargado de fidalgos que o dirigiram mais precisamente desde o final dos anos 1990 até ao início da década de 2010. José Eduardo Bettencourt, descendente de viscondes, barões, guarda-joias da Casa Real e condes, foi um desses casos. 
 
Licenciado em Economia pela Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa, pós-graduado em Economia Europeia pela Universidade Católica e com um currículo no setor bancário que inclui passagens por cargos de topo de Citibank, Barclays e Grupo Santander, entrou no Sporting em 2001 pela mão do amigo Miguel Ribeiro Teles. Na altura, vinha referenciado como um conceituado gestor que ia impor rigor nas contas da SAD, que viviam uma perigosa derrapagem após a passagem de Luís Duque pela administração.
 
A dupla Teles e Bettencourt ficou ligada à conquista da dobradinha e da consequente Supertaça em 2002, o que lhes valeu um reconhecimento de capacidade por parte dos sócios do clube. Bettencourt, apelidado de “cotonete” devido aos cabelos brancos, foi nesse ano distinguido com o Prémio Stromp na categoria Dirigente e promovido à posição de administrador-executivo da SAD no mandato de Dias da Cunha, cargo que desempenhou até 2004.
 
No exercício dessas funções deu a cara pela defesa dos interesses do Sporting em dois episódios significativos durante a temporada de 2003-04. Primeiro quando apareceu na sala de conferências de imprensa com a camisola de Rui Jorge rasgada, após um clássico com o FC Porto em Alvalade, acusando José Mourinho não só de a rasgar, mas também de ter desejado a morte do lateral esquerdo leonino. “O Paulinho, o nosso roupeiro, queria trocar a camisola de Rui Jorge pela de Vítor Baía e José Mourinho fez isto à camisola e disse: 'Gostava que Rui Jorge morresse em campo'”, afirmou, despontando um corte de relações institucionais entre os dois clubes.
 
 
Meses depois, deteve sozinho uma tentativa de invasão de campo por parte de alguns membros da Juventude Leonina durante um dérbi com o Benfica em Alvalade.
 
 
Em 2006 regressou ao Sporting como vice-presidente de Filipe Soares Franco. Quando este anunciou que não se recandidataria às eleições de 2009, Bettencourt foi imediatamente apontado como natural sucessor. Inicialmente rejeitou a hipótese, devido ao alto cargo que desempenhava no Banco Santander Totta, mas acabou por não resistir aos apelos, tendo sido eleito presidente em junho de 2009, o primeiro oficialmente remunerado e a tempo inteiro, com 89,4% dos votos.
 
A poucas horas de apresentar a candidatura, a 18 de maio de 2009, proferiu uma frase que ficou para a história: “Paulo Bento forever”. Em causa a continuidade daquele que era o treinador da equipa principal desde outubro de 2005, mas que estava em final de contrato.
 
A frase, porém, virou maldição. Enquanto fazia aprovar uma reestruturação financeira planeada em conjunto com os bancos que a financiavam, visitava núcleos e punha em marcha uma campanha de angariação de sócios, a equipa de futebol não ia além de resultados medíocres, bem abaixo das quatro épocas anteriores, em que foi sempre vice-campeã nacional e lutou pelo título até ao fim. Paulo Bento, que supostamente era para sempre, afinal só durou escassos meses, até novembro de 2009, numa altura em que os leões ocupavam o 7.º lugar no campeonato, à 9.ª jornada, e tinham sido relegados para a Liga Europa após a eliminação ante a Fiorentina no playoff de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões.
 
 
Para o comando técnico contratou Carlos Carvalhal ainda nessa época e Paulo Sérgio na seguinte, teve Pedro Barbosa, Ricardo Sá Pinto, Costinha e Carlos Freitas como diretores desportivos e ainda recrutou José Couceiro para diretor geral da SAD, mas os maus resultados persistiram.
 
No verão de 2010 tomou uma decisão polémica, ao transferir João Moutinho para o rival FC Porto, apesar dos 11 milhões de euros que o negócio rendeu. Na altura, Bettencourt acusou o médio de forçar a saída para o Dragão, condenou o “comportamento deplorável” do seu ex-capitão e classificou-o de “maçã podre”.
 
 
Em janeiro de 2011, após mais uma derrota em Alvalade, desta vez ante o Paços de Ferreira (2-3), José Eduardo Bettencourt não resistiu à contestação e apesentou a demissão, com efeitos a partir do mês seguinte, deixando o até então vice-presidente Nobre Guedes como presidente interino até à realização de novas eleições. Desde então que desapareceu da vida pública, pautando pela discrição e pela ausência de intervenções.
 
 
Foi já Nobre Guedes que assinou os acordos com a Câmara Municipal de Lisboa para o pagamento faseado por parte da autarquia de uma compensação de 18 milhões de euros ao Sporting e da possibilidade de o clube vir a construir o seu pavilhão na área circundante ao Complexo Alvalade XXI. Porém, havia sido Bettencourt a desbloquear a situação.









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