quinta-feira, 3 de outubro de 2024

O defesa que era pau para toda a obra no Benfica. Quem se lembra de Ricardo Rocha?

Ricardo Rocha disputou 163 jogos pelo Benfica entre 2002 e 2007
Foi no centro da defesa, ao lado de Luisão, que se sagrou campeão nacional em 2004-05. Foi à direita que, por exemplo, anulou Ronaldinho no Estádio da Luz nos quartos de final da Liga dos Campeões em março de 2006. E foi maioritariamente à esquerda que jogou durante grande parte da passagem de Jose Antonio Camacho pelo comando técnico do Benfica, quando ainda não havia Fyssas.
 
Talvez hoje o recordemos como um defesa central, mas a verdade é que Ricardo Rocha foi um pau para toda a obra no eixo defensivo durante os quatro anos e meio que passou de águia ao peito. Por um lado, foi essa polivalência e disponibilidade que lhe permitiram, nesta ou naquela posição, amealhar uns muito respeitáveis 163 jogos pelo Benfica. Por outro, a não fixação na sua posição natural, de central, poderá ter-lhe custado caro em termos de seleção nacional. Afinal, não foi além de seis internacionalizações entre 2002 e 2006, pouco para alguém que era titular de um dos três crónicos candidatos ao título e que vestiu as camisolas de Tottenham e Portsmouth na Premier League.
 
Natural de Santo Tirso, benfiquista assumido e filho de um eletricista e de uma funcionária de uma escola, começou como guarda-redes de futebol de salão do ARCA (Associação Recreativa e Cultural de Areias), passou pelas posições de avançado e de médio até experimentar a de defesa central, numa altura em que tinha 14 ou 15 anos.
 
Mudou-se para o Famalicão no primeiro ano de júnior e, depois de um ano emprestado aos juniores do Vitória de Guimarães, estreou-se como sénior na equipa principal em 1997-98, na altura para jogar na II Divisão B.
 
No verão de 1999 transferiu-se para o Sp. Braga, tendo começado na equipa B antes de ganhar gradualmente o seu espaço na equipa principal em 2000-01, numa altura em que os concorrentes diretos eram Odair, Artur Jorge e Idalécio.  “Foram excelentes tempos em Braga, joguei com jogadores com muita experiência, como o Zé Nuno Azevedo, o Idalécio, o Eduardo… que me ajudaram muito a crescer e a evoluir como jogador e também tive a felicidade de o mister Manuel Cajuda me dar a oportunidade para subir à equipa principal e trabalhar para chegar mais longe, onde cheguei”, afirmou ao Correio do Minho em março de 2021.
 
 
O salto tornou-se inevitável, foi acordado em janeiro de 2002 e consumado seis meses depois, num negócio que envolveu igualmente a transferência de Tiago e Armando Sá para o Benfica.
 
 
 
Nas duas primeiras épocas de águia ao peito somou 66 encontros, todos na condição de titular, tendo vencido a Taça de Portugal em 2003-04, o primeiro troféu dos encarnados desde 1996. “Foi fenomenal, porque jogámos contra o FC Porto que era o grande favorito e não tínhamos nenhuma festa preparada. Ninguém, honestamente, estava à espera que ganhássemos, nem nós próprios. E, quando ganhámos, há festa no balneário e alguém nos disse que íamos passar com o autocarro na zona da Av. da Liberdade porque normalmente os adeptos do Benfica costumam festejar ali. Fomos, mas estávamos à espera de encontrar pouca gente e quando começámos a entrar na Avenida, era a loucura. Só pensávamos, ganhámos a Taça e é isto, imaginem quando ganharmos o campeonato”, recordou à Tribuna Expresso em dezembro de 2017.
 
Poucos meses antes, toda a noção benfiquista chorava a morte de Miki Fehér. “Recordo-me que estávamos a ganhar por 1-0 [em Guimarães], mas o jogo estava a ser muito difícil. Na altura nem estava atento ao que se passava porque estava a conversar com os meus colegas da defesa. Quando olhei vi o Fehér no chão e como estávamos já no fim do jogo até pensei: ‘Boa, o Fehér está a tentar perder algum tempo, a ver se a gente consegue ficar com o 1-0’. Só que, entretanto, o Tiago chama-me, começam a chamar toda a gente e vi logo que alguma coisa de grave se passava. Foi horrível. Éramos amigos. Tinha estado com ele no Sp. Braga”, contou o antigo defesa.
 
 
Em 2004-05, Ricardo Rocha manteve o estatuto, com Giovanni Trapattoni, e ajudou o Benfica a conquistar o título nacional que lhe escapava desde 1993-94. “O mais incrível é que quando chegámos a Lisboa [vindos do Porto, onde o Benfica havia empatado com o Boavista na última jornada do campeonato], às cinco da manhã, tínhamos 50 mil pessoas no Estádio da Luz para festejar o título connosco. Foi memorável mesmo. O Benfica já não era campeão há 11 anos”, lembrou.
 
Na época seguinte venceu a Supertaça, às ordens de Ronald Koeman, e estreou-se na Liga dos Campeões, tendo marcado presença em jogos míticos como a vitória sobre o Manchester United em Lisboa e os triunfos sobre o Liverpool na Luz e em Anfield, ainda que como suplente utilizado. Nessa temporada, a partida em que mais se destacou foi num 0-0 em casa diante do Barcelona, tendo cumprido com sucesso a missão de anular Ronaldinho Gaúcho.
 
 
Na primeira metade 2006-07 viveu o seu melhor período ao serviço do Benfica, com 20 jogos e três golos – incluindo um numa vitória sobre o Sporting em Alvalade –, o que aguçou o apetite de clubes de campeonatos de nível superior. Acabou por se transferir para o Tottenham em janeiro de 2007, mas nunca conseguiu afirmar-se nos spurs.
 
 
Em agosto de 2009 transferiu-se para os belgas do Standard Liège, mas em janeiro de 2010 voltou a Inglaterra para vestir a camisola do Portsmouth, tendo ajudado a equipa de Fratton Park a atingir a final da Taça de Inglaterra – foi titular em Wembley, na derrota aos pés do Chelsea de Carlo Ancelotti –, numa temporada também marcada pela despromoção ao Championship.
 
 
Acabou por permanecer no Pompey até ao final da carreira, em 2013, tendo sido eleito melhor jogador do clube em 2011-12, apesar do insucesso coletivo, que culminou na descida à League One (terceiro escalão).
 
 
“O Sp. Braga foi o clube que me deu a primeira grande oportunidade, mas não posso esconder que foi no Benfica que dei um salto maior a nível internacional, tendo chegado à Seleção Nacional e depois rumado ao estrangeiro”, afirmou ao Record, em jeito de balanço, em abril de 2011.
 
Recentemente regressou o Benfica para desempenhar as funções de treinador adjunto da equipa principal.



 

 
 




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