Tinha 13 anos de idade quando vi
o Benfica pela primeira vez campeão. Tinha apenas dois em 1994 e tive de
esperar até 2005 para ver os benfiquistas a festejarem um título. Até aí,
presenciei duas festas do Sporting (2000 e 2002) e acompanhei através da
comunicação social as comemorações de FC Porto (2003
e 2004) e Boavista (2001), uma vez que no Barreiro, onde vivia, os
clubes portuenses têm uma expressão diminuta.
Andava no 7.º ano e lembro-me de,
no dia seguinte, a maior parte dos miúdos benfiquistas terem ido para a escola
com um cachecol do clube, eufóricos, até porque para muitos deles também era a primeira
conquista de campeonato que vivenciavam. Não era para menos, porque aquela
edição da I Liga foi talvez a melhor de que me recordo, com os grandes a
perderem muitos pontos e várias trocas de líder.
Para se ter a noção, o Benfica
foi campeão com 65 pontos amealhados ao longo de 34 jornadas, ou seja, com uma
média inferior a dois por jogo. Hoje, é impensável. Para se ter a noção, na
época que se seguiu os encarnados fizeram mais dois pontos e não passaram do
terceiro lugar. Os 51 golos marcados e as sete derrotas também foram o pior
registo que alguma vez um campeão português teve. E até o segundo classificado,
o FC Porto, teve a pontuação mais baixa de sempre para um vice-campeão: 62
pontos. Isto falando de campeonatos com 34 jornadas e com a vitória a valer
três pontos, claro.
O Benfica era orientado pelo
italiano Giovanni Trapattoni e começou bem a I Liga, tendo estado na liderança
(ainda que por várias vezes partilhada) até à 9.ª jornada. À 10.ª ronda, um FC
Porto acabado de conquistar o título europeu e orientado por Victor Fernández
assume a dianteira durante cerca de um mês. Porém, a 14.ª jornada termina com o
Boavista do regressado Jaime Pacheco como líder. Depois o FC Porto volta a
liderar e o Sporting
de José Peseiro salta pela primeira vez para o primeiro lugar à 16.ª ronda,
após receber e vencer em casa o vizinho Benfica.
Na 19.ª jornada, no final de
janeiro, o que acontece normalmente é um dois dos três grandes descolarem, mas nessa
época quem ascendeu ao primeiro lugar foi o Sp. Braga de Jesualdo Ferreira. Sol
de pouca dura, porque o FC Porto agora orientado por José
Couceiro haveria de regressar ao topo na ronda seguinte. Após várias
semanas com o caos instalado, o Benfica isola-se à 25.ª jornada, a meio de
março, chegando a ter seis pontos de vantagem sobre Sporting, Sp. Braga e FC
Porto a sete jornadas do fim. No entanto, na antepenúltima ronda as águias
perdem em Penafiel e são alcançadas pelo Sporting, que tinha vantagem no
confronto direto, mas ia à Luz uma semana depois. E privados do castigado
Liedson, na altura a grande estrela da equipa, os leões perdem por 1-0, com um
polémico golo de Luisão já na reta final do encontro.
À entrada para a última jornada,
o Benfica apenas podia ser alcançado pelo FC Porto, mas só necessitava de um
empate no Bessa para sagrar-se campeão. E foi isso mesmo aconteceu. Ali bem
perto, no Dragão, os azuis e brancos não foram além de um empate caseiro com a
Académica. O Sporting, que podia chegar ao segundo lugar, perdeu em casa com o
Nacional. E o Sp. Braga, que ainda podia acabar no pódio, perde no terreno do
já despromovido Moreirense.
Simão era a grande figura dos encarnados, mas não estava sozinho. Na baliza Quim sucedeu a Moreira depois de uma goleada no Restelo (1-4). Luisão impunha-se no centro da defesa, quase sempre ao lado de Ricardo Rocha. Miguel era dono e senhor da lateral direita, Fyssas e Dos Santos alternavam à esquerda. Petit e Manuel Fernandes eram os médios de serviço, atrás do organizador Nuno Assis. Geovanni ou João Pereira atuavam no flanco direito, no lado oposto ao de Simão. Nuno Gomes era o ponta de lança, mas quando o resultado não agradava era Mantorras quem saltava para dentro de campo nos derradeiros minutos para tentar resolver - e foram várias as vezes que o fez.
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