A Taça
de Portugal é prova rainha do futebol português e a sua final é o fechar
com chave de ouro da temporada futebolística. É a competição das surpresas, da
imprevisibilidade, dos tomba-gigantes e da democracia, que já coroou 13 clubes
vencedores e teve um total de 25 finalistas diferentes.
Implementada em 1938-39 para
suceder ao Campeonato de Portugal, por sua vez criado em 1922, a Taça
de Portugal teve como primeiro detentor do troféu a Académica, que deu o pontapé
de saída numa história de finais marcada por triunfos improváveis, jogos
intermináveis, desfechos imprevisíveis e também por tragédias e polémicas.
Vale por isso a pena conhecer a
nossa lista das dez finais mais marcantes, por ordem cronológica.
25 de junho de 1939 – Campo
das Salésias (Lisboa)
A primeira final. E que final!
Sete golos, com alternância no marcador e um vencedor que não era favorito.
O Benfica
orientado pelo húngaro Lippo Hertzka até se adiantou por Rogério de Sousa, aos
9 minutos. Bernardo Pimenta (36’) e Alberto Gomes (46’) deram a volta para a
Académica de Albano Paulo, mas Rogério de Sousa restabeleceu o empate logo a
seguir (47’). Depois Arnaldo Carneiro bisou e colocou a briosa com uma mão no
troféu (52’ e 53’). Alexandre Brito ainda reduziu para as águias
(73’), mas não evitou a derrota.
"Na melhor final de todos os
tempos, o team de football da Associação Académica de Coimbra chamou a si a
posse da linda Taça
de Portugal, vencendo o Benfica,
por 4-3", podia ler-se numa foto-legenda na capa do Diário
de Notícias no dia seguinte.
Jogadores de ambas as equipas saúdam o chefe do governo |
15 de junho de 1952 – Estádio
Nacional
A final com mais golos (e sem
prolongamento). Frente a frente, as duas melhores equipas de Portugal na
altura. De um lado, o Benfica,
que na altura já era o clube com mais troféus (cinco) e que dois anos antes
tinha vencido a Taça Latina, uma espécie de versão regional da Liga dos Campeões. Do outro, o Sporting,
campeão nacional e recordista de títulos nacionais (sete), que ainda contava
com os violinos Albano e Travassos.
Em mais uma final em que a
alternância no marcador foi uma constante, Albano abriu o ativo para os leões
aos 9 minutos, de grande penalidade. Rogério Pipi empatou aos 11’, da mesma
forma. Corona deu vantagem ao Benfica
aos 49’. Porém, Rola (51’) e João Martins (55’) recolocaram o Sporting
na frente. Rogério Pipi fez o 3-3 (69’), mas Rola apontou o quarto golo para os
verde
e brancos (71’). Porém, José Águas (73’) e novamente Rogério Pipi (90’)
protagonizaram a reviravolta dos encarnados,
então orientados por Cândido Tavares.
“Foi a melhor final da Taça
de sempre. Ganhámos nós 5-4, mas se tivesse ganho o Sporting
também estava bem”, contou Rogério Pipi ao Maisfutebol,
recordando a jogada que ditou o golo da vitória: “O árbitro já estava com o
apito na mão pronto para o levar à boca. Faltavam quinze segundos para o fim. O
José Águas colocou-me a bola para correr, eu ganhei em velocidade a dois
adversários e rematei à entrada da área. Foi um grande golo.”
“No fim foi uma coisa incrível: o
público invadiu o relvado para nos levar em ombros. Queríamos ir para os
balneários e não nos deixavam. Lembro-me que recebemos 500 escudos de prémio.
Na altura ganhava 600 escudos por mês no Benfica.
Na altura ninguém enriquecia a jogar futebol”, acrescentou.
A equipa do Benfica que arrecadou o troféu em 1951-52 |
9 de julho de 1961 – Estádio
das Antas (Porto)
9 de julho de 1967 – Estádio
Nacional
A final mais longa de sempre: 144
minutos. Frente a frente, duas das equipas que melhor futebol praticavam na
altura. A Académica de Mário Wilson tinha terminado o campeonato em segundo
lugar e o Vitória
de Fernando Vaz em quinto, mas marcava presença no Jamor pelo terceiro ano
consecutivo. “Dizia-se
na altura que se os campeonatos fossem decididos como é decidido a dança ou a
música, por votação, que o Vitória era campeão em alguns anos e a Académica
vice-campeã, ou vice-versa”, contou Fernando Tomé a O Setubalense.
22 de junho de 1969 – Estádio
Nacional
A final mais política de sempre,
a prova de que o futebol… não é apenas futebol. Em 1969, em plena ditadura, vivia-se
uma crise académica, numa altura em que o Estado Novo estava em renovação. Os
estudantes da Universidade de Coimbra afrontaram o regime, clamando por mais
direitos, democracia e melhor ensino.
E quis o destino que a Académica
chegasse à final da Taça
de Portugal nesse mesmo ano. O governo mostrava claros sinais de
preocupação, temendo que o jogo fosse utilizado como pretexto para uma
gigantesca manifestação contra o regime. A realização do encontro esteve mesmo
em causa, tanto assim que o Sporting,
derrotado pelos estudantes nas meias-finais, ficou de prevenção a estagiar caso
se confirmasse a ausência da Académica no Jamor.
Mas o jogo veio mesmo a
realizar-se, ainda que sem a presença de altas figuras do Estado como
Presidente da República, Presidente do Conselho e Ministro da Educação. Pela
primeira vez desde que iniciara transmissões da final, a RTP não iria transmitir o jogo. Nas bancadas estavam centenas de
agentes da PIDE infiltrados e dentro de campo a Académica estava impedida de
jogar de branco ou com qualquer forma visível de luto.
A primeira parte decorreu com
absoluta normalidade e acalmia, mas após o intervalo os estudantes levantaram
tarjas em que se podiam ler “melhor ensino, menos polícias”, “estão 36
estudantes presos”, “Estudantes Unidos por Coimbra” ou “Universidade Livre”,
tornando a final no maior comício contra a ditadura.
Quanto ao mais importante, o
jogo, António inaugurou o marcador logo no primeiro minuto e deu vantagem aos
estudantes, que estiveram com uma mão no troféu. Porém, Simões empatou aos 85’
e atirou a decisão para prolongamento, etapa em que apareceu Eusébio a marcar o
golo que garantiu a 13.ª Taça
de Portugal ao Benfica.
21 de agosto de 1983 – Estádio
das Antas (Porto)
No início da época 1982-83 o
então presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Romão Martins,
ofereceu a organização da final da Taça
de Portugal à Associação
de Futebol do Porto.
No entanto, quando ficaram
definidos os finalistas, o novo presidente da entidade, Silva Resende, decidiu
mover o jogo para o Estádio Nacional. O FC
Porto insurgiu-se e não cedeu sequer à possibilidade de realizar a final em
Coimbra, a meio caminho entre Lisboa e a Invicta, chegando mesmo a decidir não
comparecer depois de uma Assembleia Geral muito concorrida, assumindo o risco
de despromoção à III Divisão.
Entretanto, o Conselho de Justiça
da FPF decidiu adiar o jogo para uma data anunciar e, já após a temporada encerrar,
a Federação cedeu e o Benfica
aceitou disputar o encontro nas Antas.
Apesar disso, as águias
levaram a melhor, vencendo pela margem mínima graças a um grande golo de Carlos
Manuel aos 20 minutos.
18 de maio de 1996 – Estádio
Nacional
O dérbi do sangue e da vergonha.
Num dia que era para ser de festa no Jamor, um very light é
disparado a partir da zona dos adeptos do Benfica,
no topo sul, durante as comemorações do golo inaugural, apontado pelo benfiquista
Mauro Airez aos oito minutos. No lado oposto do estádio, um adepto sportinguista,
Rui Mendes, é atingido e acaba por morrer.
O jogo prosseguiu e os encarnados
conquistaram o troféu após um triunfo por 3-1, com dois golos de João Pinto (39’
e 67’) contra um do leão Carlos Xavier (83’, g.p.), mas a habitual cerimónia de
entrega da taça
acabou adiada.
31 de maio de 2015 – Estádio
Nacional
Uma das finais mais emocionantes
da história. O Sporting
partia como favorito, apesar de não conquistar qualquer troféu há sete anos,
mas esse favoritismo começou a ruir em menos de meia hora.
Aos 25 minutos, o Sp.
Braga já vencia por 2-0, com golos de Éder (16’, g.p.) e Rafa e podia gerir
essa vantagem de dois golos perante um conjunto leonino
reduzido a dez unidades, devido à expulsão de Cédric à passagem do quarto de
hora.
O resultado manter-se-ia alterado
até aos 84 minutos, numa altura em que os adeptos bracarenses já celebravam e
largas centenas de sportinguistas
já abandonavam o Estádio Nacional. Porém, um golo de Slimani
devolveu a esperança ao Sporting,
que chegou ao empate aos 90+3 por intermédio de Fredy Montero.
No prolongamento o Sp.
Braga ficou reduzido a dez, mas não houve golos, o que atirou a decisão
para as grandes penalidades. Aí os leões
foram mais fortes. Mesmo inferiorizado, o guarda-redes leonino
Rui
Patrício defendeu o penálti de André Pinto, enquanto Éder e Salvador Agra atiraram
para fora. Adrien,
Nani e Slimani
marcaram para os verde
e brancos.
20 de maio de 2018 – Estádio
Nacional
Mais uma final em que o que
rodeou o jogo acabou por ser mais marcante do que o que se passou no interior
das quatro linhas. Cinco dias antes, 15 de maio, a Academia do Sporting
foi invadida por um grupo de homens encapuzados que entraram no balneário da
equipa principal e agrediram jogadores e equipa técnica, naquela que foi
descrita como uma das páginas mais negras do futebol português.
Chegou a ser ponderado o
adiamento da final, mas o Sporting
foi a jogo ainda com marcas físicas e psicológicas do que tinha acontecido dias
antes. Um dos rostos mais visíveis do ataque, o
avançado holandês Bas Dost, apresentou-se em campo com a cabeça ligada
depois de sofrer um golpe durante a invasão.
Porém, o Desportivo
das Aves não se fez rugado e agarrou a oportunidade única de fazer
história, batendo os leões
por 2-1. Coube a Alexandre Guedes, avançado com passado na Academia do Sporting,
marcar os dois golos avenses,
aos 16 e 72 minutos. Fredy Montero reduziu para os verde
e brancos aos 85.
1 de agosto de 2020 – Estádio
Cidade de Coimbra
Acontecesse o que acontecesse, seria sempre uma das finais mais marcantes de sempre. Marcada inicialmente para 24 de
maio, a final da Taça
de Portugal foi adiada para data a determinar devido à pandemia
de covid-19, algo impensável alguns meses antes. Porém, a 30 de abril o ministério
da Saúde e o
primeiro-ministro António Costa aprovaram o reagendamento da final, que
teria de ser jogada à porta fechada e noutro local que não o Estádio Nacional,
por não reunir as condições sanitárias necessárias. A 2 de julho, foi anunciado que a
final se jogaria a 1 de agosto, no Estádio Cidade de Coimbra.
Relativamente ao jogo, o campeão nacional FC Porto ficou reduzido a dez unidades quando o extremo colombiano Luis Díaz foi expulso por acumulação de amarelos aos 38 minutos e sem treinador no banco devido à expulsão de Sérgio Conceição cinco minutos depois, mas o que é certo é que os dragões marcaram dois golos na segunda parte através de um herói improvável: Chancel Mbemba. O central congolês, aparentemente destinado a ser suplente de Pepe e Marcano durante essa temporada, aproveitou a lesão do espanhol para ganhar a titularidade. Nessa noite, marcou aos 47 e aos 58 minutos os golos que colocaram os azuis e brancos com uma mão no troféu.
Já perto do apito final, o avançado brasileiro Carlos Vinicíus reduziu para o Benfica, na conversão de uma grande penalidade (84').
No post das taças de Portugal, falta sem dúvida falar da Finalíssima da Taça Portugal 1993-94 FC Porto Sporting, em que os jogadores do FCPorto recebem a taça e são apedrejados pelos adeptos do sporting. Acho que merecia destaque aqui ;)
ResponderEliminarE falta em 2013 quando o Vitória Sport Clube ganha a taça ao Benfas
ResponderEliminarEssa não é importante
Passam a frente
Vergonhoso não se referir por exemplo a primeira final da taça em democracia ou a finalissima do Sporting Boavista
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