O defesa que era pau para toda a obra no Benfica. Quem se lembra de Ricardo Rocha?
Ricardo Rocha disputou 163 jogos pelo Benfica entre 2002 e 2007
Foi no centro da defesa, ao lado
de Luisão, que se sagrou campeão
nacional em 2004-05. Foi à direita que, por exemplo, anulou Ronaldinho
no Estádio
da Luz nos quartos de final da Liga
dos Campeões em março de 2006. E foi maioritariamente à esquerda que jogou
durante grande parte da passagem de Jose Antonio Camacho pelo comando técnico
do Benfica,
quando ainda não havia Fyssas.
Talvez hoje o recordemos como um
defesa central, mas a verdade é que Ricardo Rocha foi um pau para toda a obra
no eixo defensivo durante os quatro anos e meio que passou de águia
ao peito. Por um lado, foi essa polivalência e disponibilidade que lhe
permitiram, nesta ou naquela posição, amealhar uns muito respeitáveis 163 jogos
pelo Benfica.
Por outro, a não fixação na sua posição natural, de central, poderá ter-lhe
custado caro em termos de seleção
nacional. Afinal, não foi além de seis internacionalizações entre 2002 e
2006, pouco para alguém que era titular de um dos três crónicos candidatos ao
título e que vestiu as camisolas de Tottenham
e Portsmouth
na Premier
League. Natural de Santo Tirso,
benfiquista assumido e filho de um eletricista e de uma funcionária de uma
escola, começou como guarda-redes de futebol de salão do ARCA (Associação
Recreativa e Cultural de Areias), passou pelas posições de avançado e de médio
até experimentar a de defesa central, numa altura em que tinha 14 ou 15 anos. Mudou-se para o Famalicão
no primeiro ano de júnior e, depois de um ano emprestado aos juniores do Vitória
de Guimarães, estreou-se como sénior na equipa principal em 1997-98, na
altura para jogar na II Divisão B. No verão de 1999 transferiu-se
para o Sp.
Braga, tendo começado na equipa B antes de ganhar gradualmente o seu espaço
na equipa principal em 2000-01, numa altura em que os concorrentes diretos eram
Odair, Artur Jorge e Idalécio.
“Foram excelentes tempos em Braga,
joguei com jogadores com muita experiência, como o Zé Nuno Azevedo, o Idalécio,
o Eduardo… que me ajudaram muito a crescer e a evoluir como jogador e também
tive a felicidade de o mister Manuel
Cajuda me dar a oportunidade para subir à equipa principal e trabalhar para
chegar mais longe, onde cheguei”, afirmou ao Correio
do Minho em março de 2021.
O salto tornou-se inevitável, foi
acordado em janeiro de 2002 e consumado seis meses depois, num negócio que
envolveu igualmente a transferência de Tiago e Armando Sá para o Benfica.
Nas duas primeiras épocas de águia
ao peito somou 66 encontros, todos na condição de titular, tendo vencido a Taça
de Portugal em 2003-04, o primeiro troféu dos encarnados
desde 1996. “Foi fenomenal, porque jogámos contra o FC
Porto que era o grande favorito e não tínhamos nenhuma festa preparada.
Ninguém, honestamente, estava à espera que ganhássemos, nem nós próprios. E,
quando ganhámos, há festa no balneário e alguém nos disse que íamos passar com
o autocarro na zona da Av. da Liberdade porque normalmente os adeptos do Benfica
costumam festejar ali. Fomos, mas estávamos à espera de encontrar pouca gente e
quando começámos a entrar na Avenida, era a loucura. Só pensávamos, ganhámos a Taça
e é isto, imaginem quando ganharmos o campeonato”, recordou à Tribuna
Expresso em dezembro de 2017. Poucos meses antes, toda a noção benfiquista
chorava a morte de Miki
Fehér. “Recordo-me que estávamos a ganhar por 1-0 [em Guimarães], mas o jogo
estava a ser muito difícil. Na altura nem estava atento ao que se passava
porque estava a conversar com os meus colegas da defesa. Quando olhei vi o Fehér
no chão e como estávamos já no fim do jogo até pensei: ‘Boa, o Fehér está a
tentar perder algum tempo, a ver se a gente consegue ficar com o 1-0’. Só que,
entretanto, o Tiago chama-me, começam a chamar toda a gente e vi logo que
alguma coisa de grave se passava. Foi horrível. Éramos amigos. Tinha estado com
ele no Sp.
Braga”, contou o antigo defesa.
Na primeira metade 2006-07 viveu
o seu melhor período ao serviço do Benfica,
com 20 jogos e três golos – incluindo um numa vitória sobre o Sporting
em Alvalade
–, o que aguçou o apetite de clubes de campeonatos de nível superior. Acabou
por se transferir para o Tottenham
em janeiro de 2007, mas nunca conseguiu afirmar-se nos spurs.
Em agosto de 2009 transferiu-se
para os belgas do Standard
Liège, mas em janeiro de 2010 voltou a Inglaterra para vestir a camisola do
Portsmouth,
tendo ajudado a equipa
de Fratton Park a atingir a final da Taça de Inglaterra – foi titular em Wembley,
na derrota aos pés do Chelsea
de Carlo Ancelotti –, numa temporada também marcada pela despromoção ao
Championship.
Acabou por permanecer no Pompeyaté ao final da carreira, em 2013, tendo sido eleito melhor jogador do
clube em 2011-12, apesar do insucesso coletivo, que culminou na descida à
League One (terceiro escalão).
“O Sp.
Braga foi o clube que me deu a primeira grande oportunidade, mas não posso
esconder que foi no Benfica
que dei um salto maior a nível internacional, tendo chegado à Seleção
Nacional e depois rumado ao estrangeiro”, afirmou ao Record,
em jeito de balanço, em abril de 2011. Recentemente regressou o Benfica
para desempenhar as funções de treinador adjunto da equipa principal.
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