Cassano e Iniesta em luta pela posse de bola em Viena |
No futebol, os vencedores são
amplamente glorificados, ao passo que as pedras no caminho até às grandes
vitórias e a luta dada pelos vencidos acabam por cair no esquecimento, mesmo
que a diferença entre ganhar e perder esteja entre uma bola bater no poste e
entrar em vez de bater no poste e não entrar.
Hoje, a Espanha que entre 2008 e
2012 se sagrou bicampeã europeia e campeã mundial é referida como uma das
melhores seleções de sempre, enquanto a Itália pós-título mundial de 2006 é
mencionada com uma seleção com uma geração em fim de ciclo e que passou por uma
depressão devido ao escândalo Calciocaos.
No entanto, o ciclo vencedor de la roja esteve perto de não começar e o
ciclo vencedor de squadra azzurra até
poderia ter sido prolongado quando ambas as seleções se defrontaram nos quartos
de final do Euro 2008 e chegaram empatadas não só ao fim de 90 minutos como ao
fim de 120. O que acabou por fazer a diferença foi Di Natale falhar uma grande
penalidade e Fàbregas ter rematado certeiro da marca dos onze metros.
É verdade que Espanha venceu os
três jogos da fase de grupos, diante de Rússia, Suécia e Grécia, e que a Itália
teve bastantes dificuldades para passar aos quartos de final, após derrota
pesada com a Holanda (0-3), um empate comprometedor com a Roménia (1-1) e, por
fim, uma vitória sobre uma França em crise acentuada (2-0), mas nada disso
impactou o duelo entre as duas seleções latinas em Viena.
Espanha e Itália foram incapazes
de marcarem um golo uma à outra após 90 e 120 minutos. No desempate por grandes
penalidades, que para muitos é uma lotaria, David Villa, Santi Cazorla, Marcos
Senna e Fàbregas marcaram (e Guïza falhou) para a equipa orientada pelo
malogrado Luis Aragonés. Para os transalpinos, então comandados por Roberto
Donadoni, faturaram Grosso e Camoranesi e falharam De Rossi e Di Natale.
Lembro-me de não ter assistido à
transmissão do encontro porque vinha de um acampamento no jardim de um amigo em
que pouco ou nada dormi, pelo que à hora do jogo fui repor o sono. Mas na
altura Espanha ainda não praticava o tiki-taka,
até porque Pep Guardiola ainda não tinha chegado ao comando técnico da equipa
principal do Barcelona e porque era o bicampeão Real Madrid que dominava o
futebol espanhol naquela altura.
“Acabou a maldição. A Espanha
ganhou um jogo no dia 22 de junho e nos quartos-de-final de um grande evento. E
nos penáltis. À quarta foi de vez. Depois de ter ficado fora de combate, e
sempre nos penáltis, nos dias 22 de junho de 1986 (Bélgica, Mundial), 1996
(Inglaterra, Euro) e 2002 (Coreia do Sul, Mundial), a seleção espanhola dobrou
o pesadelo e bateu a Itália, seguindo para as meias-finais onde vai defrontar,
na sexta-feira, a Rússia. Mérito para Casillas,
que deteve remates de De Rossi e Di Natale. Desta vez ter Buffon não chegou
para a Itália garantir mais uma semifinal. O guarda-redes da Juve
já tinha oferecido à squadra azzurra
a presença nos quartos-de-final ao deter um penálti de Mutu, mas ontem só parou
um remate (de Guïza). Chegaria se os dois companheiros não tivessem falhado.
Duelo equilibrado, como se previa, com domínios repartidos e muitos cuidados de
parte a parte. O medo de arriscar tornou o jogo muito tático. Sem Pirlo, a
Itália sentiu a falta de um organizador, mas a Espanha só depois das entradas
de Fàbregas e Cazorla cercou melhor o adversário. Raras situações de golo num
confronto disputado ao milímetro. O poder das defesas superou ataques
previsíveis, sobretudo o transalpino, com Toni a terminar o Euro sem marcar um
golo. Prolongamento tenso e denso, Cazorla a falhar um golo certo e decisão nos
penáltis, pela segunda vez. A Espanha foi mais certeira e fez a festa”,
escreveu o jornal O Jogo no dia
seguinte.
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