Toni Vidigal representou o Varzim entre 2000 e 2004 |
Um dos cinco irmãos Vidigal que
jogaram na I
Divisão, Toni jogou no primeiro
escalão ao serviço do Varzim, já depois de ter representado o seu O
Elvas, Estoril,
Vitória
de Setúbal e Penafiel.
Em entrevista, o antigo extremo
passa em revista a carreira de futebolista, revela porque nunca jogou pela seleção
angolana, traça as ambições enquanto treinador, recorda a passagem discreta
pelo Sporting,
aborda as acusações de antijogo às equipas do irmão Lito e também fala sobre o
talento do sobrinho
André e da grande decisão que o espera: jogar por Portugal ou Angola?
ROMILSON TEIXEIRA - Quando falamos em Toni Vidigal, diria que a
principal memória das pessoas será provavelmente vê-lo na I
Liga com a camisola do Varzim. Quais são as principais recordações que tem
desses tempos?
TONI VIDIGAL – O interesse do
Varzim surgiu quando eu ainda estava no Penafiel,
em 1999-00, através do treinador Rogério Gonçalves. Mostraram muito interesse
em mim e assinei contrato. Tínhamos uma equipa maravilhosa, um grupo
espetacular. No meu primeiro ano fizemos um campeonato excelente e subimos de
divisão.
A Póvoa é uma terra de gente de
futebol, os poveiros adoram futebol e vivem o clube 24 horas sobre 24 horas,
amam o clube como ninguém. Tive o privilégio de apanhar uma cidade magnífica.
Ali não há Benfica,
Sporting
ou FC
Porto: ali há o Varzim. Tive o privilégio de jogar quatro épocas
maravilhosas no Varzim. Ainda hoje tenho o privilégio de ir várias vezes à
Póvoa e sinto-me em casa, sou muito bem-recebido. Passados 15 ou 20 anos, as
pessoas ainda me abordam nas ruas a felicitar o meu regresso à Póvoa. É
gratificante e bom ver a gratidão por quem representou o clube do seu coração e
para quem dignificou a camisola e as cores da sua cidade. Praticamente todos os
anos vou lá, porque deixei lá muitos amigos. Costumo dizer que também sou um
lobo do mar, que sou um poveiro.
Póvoa do Varzim e Vila do Conde
são duas cidades pegadas uma à outra, com dois clubes, o Varzim e o Rio
Ave, que têm uma rivalidade tremenda.
Em quatro anos nos poveiros festejou uma subida à I
Liga e jogou duas temporadas no primeiro escalão. Foram os melhores anos da
sua carreira?
Sim. Subimos no meu primeiro ano,
estivemos dois anos maravilhosos na I
Liga, os melhores da minha carreira em termos desportivos. Foi o casamento
perfeito jogar dois anos na I
Liga numa cidade em que as pessoas adoram e respiram futebol. Foi muito bom
ter representado o Varzim.
“Fui abordado por Angola mas optei por esperar por Portugal”
Toni Vidigal num jogo frente ao Benfica no Estádio da Luz |
Tendo em conta que jogou vários anos nas ligas profissionais
portuguesas, o que faltou para se ter tornado internacional angolano?
Alguma vez houve essa possibilidade?
Nessa altura, eu jogava no Varzim
com o Mendonça, que já representava a seleção
principal de Angola. Em conversa com ele, houve essa oportunidade. O
treinador era Carlos Alhinho ainda me sondou para saber se eu estava
interessado, mas como eu já tinha sido chamado aos sub-16 de Portugal optei por
esperar um pouco para ver se surgiria a hipótese de representar a seleção
portuguesa. Não se concretizou. Nem a portuguesa nem a angolana.
Teria sido maravilhoso representar essa seleção, porque os meus irmãos Lito e
Jorge a representaram e o Lito foi selecionador. Foi uma escolha, uma opção.
Cinco irmãos Vidigal jogaram na I
Liga e o Toni terá sido o mais ofensivo. Quem era o mais talentoso?
Foi excelente jogarmos na I
Liga. Foi fantástico. O mais talentoso… isso é um pouco difícil. Mas, dos
irmãos, o Beto era o mais talentoso. Era craque. Nos tempos de hoje, estava no Sporting,
Benfica
ou FC
Porto e jogava de caras. Era muito bom. Era tecnicamente bom, forte
fisicamente, era tranquilo e inteligente, movimentava-se muito bem. Era
impressionante, tinha tudo o que um jogador deve ter, e adaptava-se a qualquer
posição. Por isso é que fez a carreira que fez.
“Federação Angolana abordou André Vidigal através de mim”
Com os manos Vidigal todos retirados, agora é André
Vidigal, filho do já falecido Beto, a dar cartas no futebol. O que acha
sobre o talento do seu sobrinho? Tem gostado de o ver em ação no Estoril?
O André,
graças a Deus, está a fazer um trajeto muito bom na sua carreira. Saiu do O
Elvas, esteve na Académica,
depois foi para a Holanda,
subiu à I
Liga, esteve no Chipre e jogou na Liga
dos Campeões. Tem vindo a cimentar a sua carreira. Hoje está no Estoril
a fazer um excelente campeonato. É muito bom fisicamente, tecnicamente e
psicologicamente. É igual ao pai, tem muitas das características que o pai dele
tinha. Se tiver sorte e não tiver lesões, fará uma carreira muito boa e de
certeza que vai atingir todos os objetivos a que se propôs. É um miúdo bastante
talentoso, tem muita vontade de aprender e está um verdadeiro artista. É
craque, é mesmo muito bom jogador.
Por qual seleção acredita que o André
vai jogar?
O André
já representou as seleções jovens portuguesas, desde os sub-16 ou sub-17.
Acredito que, se continuar a fazer a época que está a fazer e os jogos que tem
estado a marcar, não vai ficar no Estoril
e irá para um clube onde terá mais oportunidades para chegar à seleção AA.
Acredito que para o ano vai estar num clube bom da I
Liga e aí terá mais possibilidades de chegar à seleção portuguesa. Mas só
ele é que vai decidir, é apenas uma opinião minha. Mas também já foi abordado
pela Federação
Angolana, e até fui eu que recebi uma mensagem no sentido de falar com ele
ou dar o número de telefone dele. Acho que ele vai aguardar e esperar.
“Lito vai chegar a um clube de dimensão maior”
Os irmãos Jorge, Toni, Lito e Luís Vidigal em Leiria |
O seu irmão Lito tem feito carreira de treinador, mas tem sido acusado
de ser um técnico defensivo e que aposta em antijogo. Qual é a sua opinião?
[Risos] Há muita gente que fala
só por 90 minutos ao domingo, mas não sabem a maneira como se trabalha, o que é
melhor ou que é pior, e limitam-se a falar do jogo de domingo. Oiço algumas
pessoas dizerem isso, que as equipas do Lito são um pouco defensivas. Se eu
treinar o Gil
Vicente, sem desprimor para o clube, e for jogar à Luz, ao Dragão
e a Alvalade,
é lógico que não vou de peito aberto jogar com Benfica,
FC
Porto ou Sporting.
É normal. Irei montar a minha estratégia, analisar a equipa adversária e trabalharei
durante a semana para alcançar um resultado positivo, é normal. As pessoas
falam daquilo que não veem, é um pouco assim. Acredito no trabalho do Lito,
porque já trabalhei com ele e acompanho-o diariamente. Conheço a maneira de ele
estar no futebol. O que é certo é que,
se forem analisar a carreira dele e por onde tem passado, de certeza absoluta
que irão encontrar mais coisas positivas do que negativas. Sei que é um bom
treinador e a cada ano que passa tornar-se-á melhor ainda. Não tenho dúvidas
que daqui a uns tempinhos vai chegar a um clube com uma dimensão diferente.
O Toni foi orientado pelo Lito no Portosantense em 2004-05 e 2005-06 e
no O
Elvas em 2007-08. Como foi ser orientado por um irmão?
O meu irmão estava a começar a
carreira dele, na II Divisão B, e eu vinha de uma saída complicada do Varzim,
porque no meu quarto ano de Varzim a direção mudou. O novo presidente era Lopes
de Castro reuniu comigo, mostrou interesse na minha permanência, chegámos a
acordo para um contrato de dois e como tínhamos descido de divisão
sensibilizaram-me para a redução de receitas e para ter de receber menos do que
no ano anterior. Prontamente disse que podiam contar comigo e ficou apalavrada
a minha continuidade, mas essa reunião foi a um sábado e como ia a Elvas de
férias, ficou combinado passar pelo notário quando voltasse de férias e
assinar. Fui de férias e a 15 de junho, o Quim Berto ligou-me a perguntar se eu
sabia quem era o treinador e a alertar-me que o meu nome não está na lista. O
novo treinador era o Abílio, que tinha estado no Leixões,
e liguei-lhe para tirar as dúvidas, e ele disse-me que tinha uma lista de
jogadores a dispensar feita pela direção, não por ele, e que o meu nome estava
na lista. Desliguei e liguei para o presidente, que não me atendeu. Antes disso
ter acontecido, recusei vários convites de clubes da II
Liga.
Depois a situação resolveu-se,
fiquei quatro meses sem jogar e em dezembro o Lito estava no Portosantense, a fazer
um bom campeonato, e ele convidou-me para ir jogar para lá. Acabei por ir seis
meses para a Madeira. Fui muito bem-recebido pela direção, pelos adeptos,
fizemos uma época muito boa, renovei por mais um ano e depois o Lito recebeu um
convite e deixou o clube. A partir daí ele começou a treinar clubes de II
Liga e depois de I
Liga. Tem feito uma carreira sustentada de treinador, é um treinador muito
bom e tem feito trabalhos muito bons. Tem feito uma gestão muito boa da sua
carreira.
Não é fácil ter um irmão como
treinador. Podes ser a estrela da companhia, mas tens que estar na frente em
tudo: no trabalho, na personalidade e não podes facilitar nada. Foi uma grande
aprendizagem. Houve situações… posso contar que o Portosantense só tinha
praticamente jogadores que tinham passado pelos distritais, III Divisão e II B
e um ou outro que tinham jogado na II
Liga. Eu era o único que já tinha jogado na I
Liga, mas sabia que não ia ser fácil, tinha que dar o exemplo. Trabalhava,
mas muito mais do que os colegas e eles perguntavam-me como era possível o meu
irmão dar-me essas tareias. Eu queria baixar o ritmo, mas não podia. Tinha que
dar o exemplo. Se perdêssemos e eu jogasse mal, havia logo algumas
especulações. Para nem sequer dar azo a que falassem, tinha que jogar e marcar
muito, mas mesmo assim o Lito tirava-me quase sempre a 15 minutos do fim.
“O Elvas é o clube do meu coração. Dói vê-lo nos distritais”
Antigo extremo Toni Vidigal com a camisola do "O Elvas" |
Voltemos atrás no tempo. O Toni já nasceu em Portugal ou ainda em Angola?
Como foi a sua infância e como é que a bola entrou para a sua vida?
Nasci em Sá da Bandeira, Angola,
e vim para Portugal com três meses. Éramos uma família numerosa e fomos viver
para Trás-os-Montes, uma zona fria. Saímos de Angola
em setembro, com 37º ou 38º C e chegámos a Trás-os-Montes com 12º e 15º C.
Ficámos três anos em Vidago e depois viemos para Elvas, cidade onde reside a
maior parte da minha família. Foi no O
Elvas em que demos os primeiros passos como jogadores de futebol e fizemos
a nossa formação: eu, o Lito, o Luís e o Beto.
Isto começou com o Beto, que era
o mais velho, que começou no O
Elvas os seus primeiros passos no futebol. Quando chegou a sénior, O
Elvas estava na I
Divisão. Então o Beto, como o mais velho, foi o que nos impulsionou e fez
acreditar que seria possível, porque o gosto pelo futebol era vincado em nós.
Era o que nos fazia sentir felizes. Através do Beto foi o Lito, depois o Luís,
eu e o Jorge.
Comecei na formação do O
Elvas, fiz todos os escalões. No segundo ano de juvenil e primeiro de
júnior fui chamado à seleção portuguesa de sub-16 e fiz mais um aninho de
juniores e comecei logo a jogar nos seniores do clube, na altura a jogar na II
Divisão. Assinei contrato profissional, fiz uma época nos seniores.
O Toni cresceu com O
Elvas na I
Divisão, mas nos últimos anos o clube chegou a extinguir o futebol sénior,
tendo-o reativado no ano passado. O que este histórico emblema
alentejano tem de especial e o que lhe falta para ser mais pujante?
Esses tempos do O
Elvas na I
Divisão foram um espetáculo. Eu a começar na formação, com 12 anos, e ver o
clube na I
Divisão a jogar com o Benfica,
o FC
Porto e o Sporting
no estádio completamente cheio… foi muito bom. E eu ainda era mais
privilegiado, porque o Beto fazia parte dessa equipa. Foram tempos
maravilhosos. O
Elvas foi o clube que me abriu portas para fazer a carreira que fiz hoje.
Se eu não começasse aqui iria começar noutro lado, mas O
Elvas é um clube que tem um significado enorme na minha família. Todos os
meus irmãos que foram profissionais de futebol passaram pelo O
Elvas. Fomos tratados e ainda hoje somos tratados de maneira maravilhosa.
Os meus sobrinhos também passaram pelo clube. O
Elvas é o clube do meu coração. Dói ver O
Elvas no campeonato distrital, mas Elvas é uma cidade que gosta de futebol
e que tem de ter um clube pelo menos no Campeonato
de Portugal. Chegámos a não ter futebol sénior em Elvas, mas este ano já
temos, está-se a criar uma SAD e creio que O
Elvas está a fazer um bom campeonato e vai subir de divisão. Acredito que O
Elvas terá novamente futebol profissional e que as pessoas possam voltar
aos estádios para ver o clube da sua terra. É um clube que eu amo e que não
esqueço. O que sou hoje devo a esse grande clube que é O
Elvas Clube Alentejano de Desportos.
O
Elvas é um clube do interior de Portugal, onde não há indústria e patrocínios
e onde os clubes são sustentados maioritariamente pelas autarquias, então
torna-se difícil aguentar com tantas despesas. Elvas é uma cidade fronteiriça,
que faz fronteira com Badajoz, mas é uma cidade do interior de Portugal, onde a
indústria é escassa. E com as crises que têm aparecido, tornou-se
insustentável. Felizmente houve um investidor que decidiu investir no clube da
cidade e que criou uma equipa sénior que está a fazer uma boa época no
campeonato distrital da AF Portalegre. Por este andar, acredito que vão subir
de divisão. No Campeonato
de Portugal já será mais a sério. Acredito que a direção do O
Elvas está a preparar esses altos voos e que ainda vou ver na minha cidade
o clube do meu coração a voltar ao futebol profissional.
Quatro elementos da família Vidigal jogaram no Estoril
Toni Vidigal representou o Estoril durante quatro épocas |
Em 1994 rompe o cordão umbilical com O
Elvas e ruma ao Estoril,
clube por onde também passaram os seus irmãos Luís e Jorge e agora o seu
sobrinho André.
É coincidência terem passado os três pelo emblema
canarinho? E como correram os quatro anos que passou no António Coimbra da
Mota?
No segundo ano nos seniores do O
Elvas fui emprestado ao Estoril,
que tinha descido à II
Liga. Fui um pouco assustado, porque ainda fui para lá quando estavam na I
Liga, para me ambientar e conhecer a localidade e os jogadores. Fizemos um
bom campeonato nesse ano, ficámos em 5.º lugar, foi uma excelente experiência,
quando eu tinha 19/20 anos. Foi muito bom ver-me daqueles jogadores que só via
pela televisão. Graças a Deus esse dia chegou. Fui encontrar um clube mais
sério, mais organizado e com mais andamento e qualidade.
Falaram de mim ao treinador, que
era o Carlos Manuel, e ele veio ver-me num jogo com o Sintrense
num domingo. Depois do jogo ele veio ter comigo, juntamente com um diretor, e
eu disse ‘claro que sim’, mas que tinham de falar primeiro com a minha mãe.
Meteram-me super à vontade e disseram que já tinham falado com O
Elvas e que iam a casa dos meus pais falar com eles.
Voltei ao Estoril
em 1996-97 por empréstimo do Sporting
e fiz uma época espetacular. Estava previsto regressar ao Sporting,
mas no último jogo do campeonato parti a perna num jogo em Coimbra frente à Académica
e compliquei a minha vida. Estive nove meses parado e regressei a 1 de março do
ano seguinte, no dia do meu aniversário, num jogo em casa frente ao Moreirense
- entrei e fiz um golo.
É uma coincidência o Luís ter ido
comigo, o Jorge ter jogado depois no Estoril
e o André
estar lá agora.
“Ano que passei no Vitória de Setúbal foi maravilhoso. Adeptos são muito bons”
Plantel do Vitória com Toni Vidigal em 1995-96 |
Em 1995-96, depois do primeiro ano de Estoril,
assina pelo Vitória
de Setúbal, e acaba por subir à I
Liga. Que recordações guarda dessa temporada e como foi lidar com os
exigentes adeptos sadinos?
Depois de ter estado emprestado
ao Estoril,
O
Elvas emprestou-me ao Vitória
de Setúbal, um histórico do futebol português, com grandes conquistas a
nível nacional. Foi mais um ano maravilhoso, em que voltei a fazer um
campeonato muito bom. Cresci como jogador. Ter estado no Estoril
e no Vitória
de Setúbal funcionou como uma montra para eu chegar a um grande de
Portugal, o Sporting.
Os adeptos sadinos são muito
bons, vivem e respiram futebol e são apaixonados pelo seu clube. Tínhamos um
plantel brutal, uma equipa recheada de craques. Fizemos uma grande época com o
mister Quinito.
“Fiz pré-época no Sporting mas tinha Sá Pinto e Pedro Barbosa à minha frente…”
No final dessa época em que
estive no Vitória
de Setúbal voltei ao O
Elvas e O
Elvas vendeu-me ao Sporting,
clube pelo qual assinei por quatro épocas, um ano depois de ter vendido o Luís
ao Sporting.
Fiz a pré-época com o Sporting
em França.
O plantel era vasto e recheado de grandes jogadores. Como era extremo direito,
tinha na minha posição o Sá Pinto e o Pedro Barbosa, não era fácil concorrer
com eles. Foi mais uma experiência maravilhosa, fui crescendo como jogador.
Tinha o objetivo de chegar a um grande de Portugal e consegui. Como não jogava
muito, fui emprestado ao Estoril.
Depois do Estoril
e antes do Varzim, passou pelo Penafiel.
Como correu a aventura no emblema
rubro-negro?
O Penafiel
apresentou-me um projeto com ambições bastante acentuadas e um treinador que me
fez acreditar no projeto, o Luís Campos, que é agora diretor desportivo do
Lille. Infelizmente não conseguimos subir, mas fizemos uma época muto boa, ficámos
e 6.º lugar.
“Fiquei felicíssimo em ver a fusão do Sintra Football com o Estrela”
Depois de passar pelo Varzim, de ser orientado pelo seu irmão no
Portosantense e de voltar ao seu O
Elvas, encerrou a carreira em 2009-10 com a camisola do Sintra
Football, clube que recentemente se fundiu com o Estrela
da Amadora. Como viu a ascensão meteórica do Sintra
Football e a recente fusão com o Estrela?
Vou contar um pouco dessa
história… Hoje estou felicíssimo em ver o Sintra
fundido com o Estrela
da Amadora, foi a cereja no topo do bolo. O presidente do Sintra
Football, o meu grande amigo Dinis [Delgado], telefonou-me quando eu ainda
não sabia quem ele era, apresentou-se e convidou-me para ser jogador-treinador.
Eu disse que queria começar e acabar no O
Elvas, mas o Dinis ligou-me a perguntar se eu estaria interessado e eu,
como queria seguir a carreira de treinador e tinha concluído o curso de segundo
nível na Universidade de Évora, essa hipótese veio a calhar. Fui para lá como
jogador-treinador e na primeira conversa que tenho com ele, vi as condições e
que era um bocado complicado, porque o campo era sintético e nem sequer era do Sintra
Football, mas do 1º Dezembro. O Dinis conseguiu termos um espaço horário
para treinarmos e fazia tudo: lavava roupa dos jogadores, fazia os cestos,
levava as bolas… Um dia perguntei-lhe como é que ele tinha tempo para aquilo e
se não tinha falta de tempo para a família e disse-lhe que a mulher dele o ia
despachar, porque ele trabalhava num restaurante e quando saía do restaurante
ia para o clube. E ele dizia-me que só ia parar quando conseguisse meter o
clube na I
Divisão. Ouvia-o e dizia para mim que ele tinha muita força de vontade, mas
que estava doido. À medida que o tempo ia avançado, eu via o que ele fazia, a
paixão que tinha pelo clube e a forma como se movimentava, conseguindo
patrocínios e gente com disponibilidade financeira para se aproximar do clube,
comecei a acreditar que ele iria conseguir atingir o seu objetivo. Estive um
ano no Sintra
e depois fui orientar os juniores do 1º Dezembro, mas fui sempre acompanhando
até hoje e falo com o Dinis. Fiquei felicíssimo quando se fundiram com o Estrela
e hoje acredito plenamente que o Dinis só vai parar quando chegar à I
Liga.
Propomos-lhe um desafio. Elabore um onze ideal de jogadores com os
quais jogou.
Elaborar um onze com colegas com
quem joguei é muito difícil, tive o prazer de jogar com muitos bons jogadores,
mas vou tentar fazer o melhor onze possível. Na baliza Ferreira, lateral
direito Quim Berto, lateral esquerdo Jorge Luís, centrais Rui Carlos e
Alexandre, trinco Luís Vidigal, interior direito Gilmar, interior esquerdo
Paulo Piedade, extremo direito Toni Vidigal, extremo esquerdo Marco Freitas e ponta
de lança Paulo Sérgio.
E que treinadores mais o marcaram e porquê?
Costumo dizer que todos os
treinadores que tive foram importantes. Com uns aprendi a não fazer tudo aquilo
que eles faziam, com outros a dar seguimento ao que faziam. Tive Luís Campos,
que me levou para Penafiel,
aprendi muito com ele, é bom treinador, uma pessoa bastante tranquila e consciente
daquilo que queria. Trabalhei com ele durante apenas um ano mas já o conhecia por
ter jogado contra ele e do que alguns colegas me falavam.
Gostei de trabalhar com Rogério
Gonçalves, que me levou para o Varzim e foi importante para a minha carreira;
José Alberto Costa, que tinha sido adjunto de Vítor Manuel, também aprendi
muito com ele; e com o Lito [Vidigal], o senhor Alexandre, o Mário Alberto e
tantos outros com quem trabalhei na minha formação. Todos foram importantes.
Do que mais sente saudades do tempo em que era jogador?
Sinto saudades de tudo: dos
estágios, das concentrações, das viagens, do acordar de manhã para ir treinar,
descansar um pouco ao almoço e voltar a treinar à tarde, das conversas de
balneário, da amizade, do cheiro da relva, de pisar a relva... de tudo que
envolve o futebol.
Desde que pendurou as botas que teve algumas experiências como
treinador. É algo a que pretende dar continuidade? Tem que nível?
Antes de ter terminado a carreira
de jogador já tinha tirado o primeiro nível. Na altura jogava no Varzim e fiz o
curso na AF
Braga, e depois, em 2007, tirei o segundo nível do curso de treinador de
futebol (UEFA B) na Universidade de Évora e é o nível que tenho. O objetivo é
ser treinador de futebol e fazer carreira. Sei que não é fácil, têm surgido
alguns projetos, mas não considerei serem aliciantes. Ainda assim, acredito que
surgirá uma oportunidade para poder mostrar o meu trabalho e as minhas
capacidades.
O que tem feito desde que deixou de estar ligado ao futebol?
Nunca deixei de estar ligado ao
futebol de forma integral. Também treinei os juniores do 1º Dezembro e a
escolinha do Elvenses durante dois anos.
Obviamente que aguardo por um projeto interessante, não tenho tido muito
tempo fora do futebol, mas além do futebol tenho uma cafeteria, um snack-bar,
então vou passando o meu tempo ocupado com outras coisas que não o futebol.
Continua a acompanhar o futebol
angolano? Como analisa o nível e qualidade do Girabola e da seleção
angolana?
Vejo alguns jogos do Girabola,
mas confesso que não acompanho muito o campeonato. O jogador africano é
tecnicamente muito evoluído, mas falta a questão da responsabilidade e da
tática. O jogador africano é magia e aqui na Europa não se liga muito para esse
lado, importam-se muito mais com a tática e outros aspetos. Infelizmente isso tira
muita magia e muita iniciativa aos miúdos, se os rapazes com idade entre os 10
e 15 anos de idade tentaram mostrar alguma arte, o treinador intervém logo. Para
mim, nestas idades é importante que se deixe os rapazes divertirem-se e
desfrutarem do futebol, mas em Portugal já se leva logo para a parte tática,
mas o jogador africano é talentoso e muito forte fisicamente, tem tudo para
singrar no futebol mundial, como já têm feito. A nossa seleção está recheada de
talentos e à medida que o tempo vai passando, acredito que tornar-se-á melhor.
Entrevista realizada por Romilson Teixeira
Bravo e parabéns pelo excelente trabalho blog
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